Do luto à comédia romântica: uma análise de 100 Medos
Três anos após sua estreia nos cinemas brasileiros, 100 Medos ainda ressoa na minha memória, não como um filme memorável em termos de inovação cinematográfica, mas sim como uma experiência curiosa e, em momentos, inesperadamente comovente. Baseado no livro de mesmo nome, o longa acompanha Sole Santoro (uma convincente Federica Torchetti), uma jovem que, após a perda trágica da melhor amiga, se vê numa jornada para enfrentar seus cem maiores medos. A premissa, por si só, já sugere uma comédia romântica leve e divertida, e em grande parte, o filme cumpre essa promessa. Mas há camadas além da superfície, e é aí que reside tanto seu charme quanto sua fragilidade.
A direção de Andrea Jublin é competente, sem ser brilhante. A câmera acompanha Sole em sua jornada com uma sensibilidade que evita o melodrama excessivo, mas também não se aventura em experimentações visuais ousadas. O ritmo é fluido, intercalando momentos de humor com cenas mais introspectivas e sensíveis, refletindo a complexidade da protagonista. O roteiro de Alice Urciuolo, por sua vez, é onde o filme se mostra mais instável. Embora consiga estabelecer uma premissa interessante e personagens simpáticos, a transição entre o luto e a comédia romântica, por vezes, se sente abrupta e forçada, gerando um certo descompasso tonal que impede 100 Medos de atingir seu potencial máximo.
As atuações são, em geral, satisfatórias. Federica Torchetti carrega o peso da narrativa com desenvoltura, transmitindo a vulnerabilidade de Sole sem cair na autocomiseração. O elenco de apoio, incluindo Lorenzo Richelmy como Massimo Di Lorenzo e Celeste Savino como Miriam, também oferece performances sólidas, contribuindo para a dinâmica geral da história. Mas, novamente, a falta de profundidade em alguns personagens secundários, como o próprio Massimo, impede que eles se tornem verdadeiramente memoráveis.
Um dos pontos fortes do filme é sua abordagem honesta do luto e do processo de cura. Sem ser didático ou sentimentalista em excesso, 100 Medos explora a complexidade das emoções de Sole, mostrando como a superação da dor pode ser um caminho tortuoso e cheio de altos e baixos. Por outro lado, a comédia, embora presente, não sempre funciona. Há momentos em que as piadas caem planas, comprometendo o ritmo e o tom geral.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Andrea Jublin |
| Roteirista | Alice Urciuolo |
| Produtores | Andrea Leone, Raffaella Leone |
| Elenco Principal | Federica Torchetti, Celeste Savino, Cristiano Caccamo, Lorenzo Richelmy, Fausto Maria Sciarappa |
| Gênero | Romance, Comédia |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Lotus Production, Leone Film Group |
Em última análise, 100 Medos é um filme que se divide entre a sensibilidade e a leveza, o drama e a comédia. É um filme que, apesar de suas falhas, conquista o espectador por sua sinceridade e pela interpretação carismática de Federica Torchetti. Recomendo o filme para aqueles que buscam uma comédia romântica leve e despretensiosa, cientes, no entanto, de que a narrativa pode apresentar alguns desequilíbrios. Se você procura um filme que explore a temática do luto com profundidade e sutileza, talvez encontre em 100 Medos uma experiência satisfatória, mas não necessariamente completa. Aquele toque de magia que poderia elevás-lo ao status de obra-prima fica faltando, mas a jornada de Sole é, sem dúvida, algo que vale a pena ser acompanhada.




