O que nos atrai, de verdade, aos filmes de exorcismo? Não é só o grito fácil, a contorção impressionante ou o sangue jorrando. Pelo menos para mim, que já passei por poucas e boas na cadeira do cinema, vendo demônios fazerem das suas, a coisa vai mais fundo. É a tensão da fé contra o inexplicável, o desespero de uma família vendo um ente querido se esvair e, por mais paradoxal que pareça, a esperança de que existe algo além, que possa ser combatido. E é exatamente essa corda bamba entre o medo e a fé que me puxou para 13 Exorcismos, um filme que chegou aqui no Brasil em fevereiro de 2023, mas que ainda ecoa em minha mente.
Vamos ser sinceros, o ponto de partida é um terreno conhecido. Laura Villegas (interpretada com uma entrega visceral por María Romanillos) é uma adolescente que, brincando com o que não devia, invoca espíritos com os amigos. A partir daí, o inferno particular dela começa a se manifestar. Não é um susto de repente e pronto; é um mergulho lento e assustador numa realidade onde a normalidade é estraçalhada. Sabe aquela sensação de ver alguém que você ama se perder num labirinto de sombras? É isso que a família de Laura sente. As presenças sombrias, as visões que rasgam a tela, as vozes que sussurram direto nos nossos ouvidos (e nos dela, claro), as marcas que brotam na pele como um grito silencioso – tudo contribui para uma atmosfera que nos faz questionar: até que ponto a mente resiste, e quando o corpo se torna um campo de batalha para algo que não compreendemos?
E aqui entra a grande jogada dramática, que me pegou de jeito: a família, desesperada, recorre ao Vaticano. Não é qualquer charlatão, não. É um exorcista sancionado, o Padre Olmedo, interpretado com uma gravidade quase palpável por José Sacristán. A escolha de Sacristán é um acerto e tanto. Ele não entrega um padre caricato, que grita frases em latim e pronto. O Olmedo dele carrega o peso de anos de combate ao mal, a fadiga de quem já viu demais, e a fé inabalável que, por vezes, parece a única âncora num mar de trevas. Você sente o cansaço dele, a dúvida latente em seus olhos, mesmo quando sua voz é firme. É essa humanidade do padre que nos ancora, que nos faz torcer não apenas pela Laura, mas também por ele.
Os “13 exorcismos” do título não são apenas um número, mas uma promessa de escalada de terror. E o diretor Jacobo Martínez, junto à equipe de roteiristas (Carlos Ruano, Teresa Fernández-Valdés, David Orea, Gema R. Neira, Ramón Campos, Salvador S. Molina), sabe explorar essa progressão. Cada tentativa de libertação de Laura parece sugar um pouco mais da sua essência, e também da nossa. María Romanillos, como Laura, é um espetáculo à parte. Ela não apenas atua, ela incorpora a possessão. As contorções, o olhar vazio que, de repente, se enche de uma malícia atroz, os gritos que parecem vir de um poço sem fundo – tudo isso te prende na cadeira, fazendo o ar rarear.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Jacobo Martínez |
| Roteiristas | Carlos Ruano, Teresa Fernández-Valdés, David Orea, Gema R. Neira, Ramón Campos, Salvador S. Molina |
| Elenco Principal | María Romanillos, Ruth Díaz, Urko Olazábal, Pablo Revuelta, José Sacristán |
| Gênero | Drama, Terror |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Mr. Fields and Friends, Atresmedia, Bambú Producciones, Movistar Plus+ |
Mas o filme não é só a Laura. As performances de Ruth Díaz e Urko Olazábal, como os pais, Carmen e Tomás, são o coração dolorido da história. Vê-los oscilar entre a negação, o medo e um amor desesperado é de cortar o coração. Eles são o nosso espelho, a nossa representação de impotência diante de algo que desafia toda a lógica e ciência. Pablo Revuelta, como Jesús, o irmão, também contribui para essa teia de dor familiar. A dinâmica entre eles, as brigas, as tentativas de apoio, os olhares trocados que dizem mais que mil palavras, é o que eleva 13 Exorcismos de um mero filme de terror para um drama familiar angustiante.
A produção, com o selo da Mr. Fields and Friends, Atresmedia, Bambú Producciones e Movistar Plus+, entrega um visual que é ao mesmo tempo claustrofóbico e grandioso. Os cenários da casa de Laura, que se torna um palco para os eventos paranormais, e os ambientes mais sombrios dos exorcismos, são construídos para maximizar o desconforto. A fotografia brinca com as sombras de forma eficaz, e o design de som te envolve, fazendo com que cada suspiro, cada ranger de porta, cada voz distorcida, pareça vir de dentro do seu próprio ambiente.
Olhando para trás, mais de dois anos após sua estreia no Brasil, 13 Exorcismos ainda tem uma pegada que muitos filmes do gênero acabam perdendo rapidamente. Ele não reinventa a roda do exorcismo, tá? Ele se apoia em elementos clássicos, mas os executa com uma seriedade e um compromisso emocional que o elevam. Não é só sobre um demônio e uma garota; é sobre fé, família, a luta contra o invisível e a dor lancinante da perda. É um daqueles filmes que, mesmo sabendo o que esperar, te deixa inquieto muito depois dos créditos rolarem, fazendo você olhar duas vezes para os cantos mais escuros do seu quarto. E para mim, essa é a verdadeira medida de um bom filme de terror.




