36 Horas de Guerra

Quando penso em filmes de guerra, minha mente quase sempre divaga para as grandes batalhas épicas, a poeira que sobe com as explosões, os planos abertos que tentam dar conta da vastidão do conflito. Mas, e se a guerra fosse reduzida a um punhado de metros quadrados? E se o verdadeiro horror não estivesse na escala da destruição, mas na proximidade claustrofóbica da ameaça e no lento corroer da alma? É essa pergunta incômoda que me levou a revisitar 36 Horas de Guerra, um filme de 2021 que, para mim, ainda reverbera com uma intensidade palpável.

Desde a primeira vez que me deparei com a premissa, senti um arrepio. Três guerras – a Civil Americana, a Primeira Guerra Mundial e o Iraque – costuradas por um fio invisível de 36 horas, prendendo um pequeno grupo de soldados em um espaço apertado. Não é sobre a vitória ou a derrota de um exército, é sobre a sobrevivência e a sanidade de indivíduos. E é exatamente essa lente microscópica sobre o macrocosmo do conflito que Jack Fessenden, tanto na direção quanto no roteiro, manipula com uma maestria quase sufocante.

Fessenden não está interessado em glorificar o heroísmo ou em pintar vilões caricatos. Ele nos joga no meio do caos, ao lado de Wilson (James Le Gros), Gale (Andi Matichak), Clark (Cody Kostro), Morton (Alex Hurt) e até mesmo um misterioso “Alemão” (Alex Breaux), cada um um fragmento de humanidade forçado a encarar a iminência do fim. A genialidade aqui está em como o filme transita entre essas épocas distintas sem nunca perder o ritmo ou a sensação de urgência. As paisagens mudam – da lama e do frio das trincheiras europeias ao calor seco e à poeira do deserto iraquiano, passando pela floresta densa da Guerra Civil – mas a angústia é uma constante, uma língua universal que todos entendem.

Lembro-me de uma cena específica, que me marcou profundamente, onde o som distante dos tiros de mosquete se mescla com o estampido de uma metralhadora moderna, e a fumaça de um cigarro enrolado à mão se confunde com a poeira levantada por uma explosão distante. Não há efeitos visuais grandiosos, mas sim a justaposição sensorial que nos diz: “Isso já aconteceu antes. E continuará acontecendo.” É nesse “mostrar, não contar” que o filme se eleva. Não precisamos que alguém diga que estão com medo; vemos o suor escorrendo pela testa de Le Gros, o tremor quase imperceptível nas mãos de Matichak enquanto ela tenta manter a calma, o olhar perdido de Kostro que reflete a perda da inocência.

AtributoDetalhe
DiretorJack Fessenden
RoteiristaJack Fessenden
ProdutoresAdam Scherr, James Felix McKenney, J. Christian Ingvordsen, Larry Fessenden, Jack Fessenden
Elenco PrincipalJames Le Gros, Andi Matichak, Cody Kostro, Alex Hurt, Alex Breaux
GêneroDrama, Guerra, Ação, História
Ano de Lançamento2021
ProdutorasFessyPix, Glass Eye Pix

A profundidade das performances é o coração pulsante de 36 Horas de Guerra. James Le Gros, como Wilson, é o pilar, um veterano cansado que carrega o peso da experiência e da moralidade, tentando guiar seus companheiros através de um labirinto sem saída. Sua voz, por vezes rouca, por vezes um sussurro, entrega a essência de um homem à beira do colapso, mas que se recusa a ceder completamente. Andi Matichak traz uma força sutil a Gale, uma personagem que representa a resiliência em meio à desolação, desafiando a expectativa do papel feminino em um ambiente de guerra. Cody Kostro, Alex Hurt e Alex Breaux completam esse elenco apertado, cada um contribuindo com uma faceta da experiência de combate – a juventude assustada, a bravura desesperada, o enigma do inimigo que se torna refém da mesma sina. A química entre eles é palpável, transformando o pequeno espaço em que estão presos em um palco para um drama humano intenso.

A produção, com a assinatura de FessyPix e Glass Eye Pix (esta última já conhecida por seu toque autoral em filmes independentes), demonstra uma visão clara e uma execução eficiente, mesmo sem um orçamento blockbuster. Os produtores Adam Scherr, James Felix McKenney, J. Christian Ingvordsen, Larry Fessenden e Jack Fessenden parecem entender que, para contar uma história tão densa e introspectiva, menos é mais. O foco está nos rostos, nas reações, nos sons abafados e nos silêncios ensurdecedores, não em explosões espetaculares.

O que me prende a 36 Horas de Guerra não é a promessa de reviravoltas ou de um final feliz. Pelo contrário, é a maneira implacável como ele nos confronta com a futilidade da guerra. A moralidade é esmagada sob o peso da necessidade, a esperança se desfaz em pó. O filme não oferece respostas fáceis, apenas ecoa a pergunta incessante: “Por quê?”. E essa pergunta, reverberando através dos séculos, encapsulada em 36 horas de desespero e poeira, é o que faz este filme de Jack Fessenden ser, para mim, uma experiência cinematográfica tão visceral e inesquecível. Ele não tenta ser grandioso; ele tenta ser real, e nisso ele acerta em cheio.

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