Então, você me pergunta: por que diabos eu gastaria meu precioso tempo escrevendo sobre 365 Dias Finais em pleno 2025? Bom, a verdade é que, goste-se ou não, a trilogia “365 DNI” se tornou um fenômeno cultural. Ela provocou, chocou, seduziu e, para muitos, irritou profundamente. E quando uma obra consegue mexer tanto com os ânimos, mesmo que pela controvérsia, ela merece uma espiada final, um último olhar para ver como tudo termina – ou, nesse caso, como a chama que um dia foi um incêndio avassalador, se apaga. Eu, particularmente, sempre tive uma curiosidade quase mórbida para entender o apelo e, mais importante, para ver se a narrativa conseguiria, de alguma forma, se redimir ou, ao menos, concluir sua trajetória com alguma dignidade.
365 Dias Finais, lançado em 2022, tinha a árdua tarefa de amarrar as pontas soltas de um enredo que, para dizer o mínimo, já era um nó cego. A premissa central, essa que permeia o terceiro capítulo, é tão familiar quanto dolorosa para qualquer relacionamento: a falta de confiança. Laura Torricelli (Anna-Maria Sieklucka) e Massimo Torricelli (Michele Morrone) já haviam dançado a valsa do poder, da paixão e do perigo nos filmes anteriores. Aqui, porém, a melodia é mais dissonante. O abismo entre eles se alarga, e entra em cena o astuto Nacho (Simone Susinna), pronto para, com sua esperteza calculista, empurrar o casal ainda mais para a beira do precipício.
Sabe, o que mais me frustra nesse tipo de narrativa é ver personagens que deveriam evoluir, ficarem presos em um ciclo vicioso. Laura e Massimo, com todo o seu drama, dinheiro e sexo explícito – elementos que, para muitos, definiram a série –, chegam a este filme parecendo estagnados. A dinâmica “rico e pobre”, o elemento “gangster” com seus perigos e o “BDSM” que antes era a assinatura da relação, tudo isso se dilui em uma nuvem de mágoas não resolvidas. Massimo continua com seu jeito possessivo, enquanto Laura, que deveria ter se libertado, parece mais confusa do que nunca. É como assistir a um casal brigando na sala ao lado: você ouve os gritos, percebe a dor, mas o motivo já não importa tanto quanto a exaustão que a repetição gera. E é aí que entra a crítica de “chato” que vi por aí, e concordo. Um filme que prometia paixão visceral e perigo, acaba caindo na armadilha do tédio quando a tempestade emocional vira garoa chata.
A atuação de Anna-Maria Sieklucka como Laura e Michele Morrone como Massimo, é… previsível. Eles entregam o que se espera deles dentro do universo da trilogia, mas o material simplesmente não oferece espaço para mais. A profundidade dos personagens é sacrificada em prol da manutenção do drama superficial. Simone Susinna, como Nacho, tenta ser o contraponto, o porto seguro (ou a tentação), e até consegue injetar um pouco de energia, mas ele também se torna um peão em um tabuleiro já desgastado. Os coadjuvantes, como a sempre leal Olga (Magdalena Lamparska) e o dedicado Domenico (Otar Saralidze), servem mais como alívios cômicos ou suportes narrativos do que como figuras com arcos próprios. E é uma pena, porque são eles que, muitas vezes, nos dão um vislumbre de uma humanidade que falta no centro da trama.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | Barbara Białowąs, Tomasz Mandes |
| Roteiristas | Tomasz Mandes, Mojca Tirš, Blanka Lipińska |
| Produtores | Tomasz Mandes, Ewa Lewandowska, Maciej Kawulski |
| Elenco Principal | Anna-Maria Sieklucka, Michele Morrone, Simone Susinna, Magdalena Lamparska, Otar Saralidze, Ewa Kasprzyk, Dariusz Jakubowski, Ramón Langa, Tomasz Mandes, Natalia Siwiec |
| Gênero | Romance, Drama |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Ekipa, Open Mind Production |
A direção de Barbara Białowąs e Tomasz Mandes, e o roteiro assinado por Mandes, Mojca Tirš e Blanka Lipińska, parecem lutar para encontrar uma conclusão que satisfaça a todos – ou a qualquer um, francamente. Os elementos de “BDSM” e o tom “desrespeitoso” que permeavam os filmes anteriores, e que geraram tanta controvérsia, aqui são diluídos. Parece que houve um esforço para suavizar as arestas, talvez para tentar uma aceitação mais ampla, mas o resultado é que a série perde parte de sua identidade chocante, sem ganhar em troca uma narrativa mais madura ou envolvente. O que resta é uma história que não sabe se quer ser um drama romântico convencional ou manter suas raízes mais picantes e problemáticas. A indecisão é palpável e afeta o ritmo do filme, que se arrasta em momentos que deveriam ser climáticos.
Sejamos francos, 365 Dias Finais não é um filme que ficará na história do cinema por sua originalidade ou profundidade. Ele é a culminação de uma saga que, para muitos, explorou os limites do bom gosto e da moralidade, mas que, inegavelmente, tocou em certos fetiches e fantasias. O problema é que, no final das contas, quando o perigo diminui e a tensão sexual esfria, o que sobra é uma história de amor que, apesar de todo o luxo, dinheiro de “gangster” e intriga, se mostra incrivelmente oca. É como um presente com uma embalagem deslumbrante que, ao ser aberto, revela um item sem graça. Para quem acompanhou a jornada de Laura e Massimo desde o início, talvez sirva como um adeus melancólico. Para os demais, é mais um lembrete de que nem toda polêmica se traduz em bom cinema. E, sinceramente, em 2025, olhando para trás, fica a impressão de que talvez algumas histórias deveriam ter tido um “fim” um pouco antes.




