Um Passeio Pitoresco e Esquisito pelo Tempo: Uma Resenha de O Lar das Crianças Peculiares
Nove anos se passaram desde que O Lar das Crianças Peculiares chegou aos cinemas, em 29 de setembro de 2016. E, olhando para trás, percebo que a minha relação com esse filme de Tim Burton é mais complexa do que eu imaginava na época. Não é uma obra-prima indiscutível, isso é certo, mas também não é o desastre que alguns críticos pintaram. É um filme peculiar, assim como seus personagens, e é essa peculiaridade – mesmo que às vezes desequilibrada – que o torna tão fascinante.
A trama acompanha Jacob Portman, um jovem que descobre um segredo de família que o leva a uma ilha remota no País de Gales, onde encontra o Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares. Este lugar é um santuário para crianças com habilidades extraordinárias, e Jacob logo se vê envolvido em um mistério que atravessa o tempo e ameaça a própria existência das crianças. Sem revelar muito, posso dizer que a história envolve uma dose considerável de magia, ação e mistério, com um toque de suspense que mantém a tensão durante boa parte da projeção.
A direção de Tim Burton, inconfundível, é a alma do filme. Sua estética visual, repleta de cores vibrantes e cenários fantasiosos, cria um mundo singular e memorável. As imagens são de uma beleza quase gótica, com uma fotografia que realça a atmosfera misteriosa e peculiar da narrativa. No entanto, aqui reside uma das minhas principais ponderações sobre o longa. Em alguns momentos, a estética parece sobrepujar a narrativa, deixando a trama um pouco à deriva em meio à exuberância visual. É a famosa faca de dois gumes da estética burtoniana: ou funciona perfeitamente, ou se torna um obstáculo para a imersão na trama. Em O Lar das Crianças Peculiares, o resultado é uma mistura de fascínio e frustração.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Tim Burton |
Roteirista | Jane Goldman |
Produtores | Peter Chernin, Jenno Topping |
Elenco Principal | Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Rupert Everett |
Gênero | Fantasia, Aventura, Drama, Família, Thriller |
Ano de Lançamento | 2016 |
Produtoras | Chernin Entertainment, Tim Burton Productions, TSG Entertainment, 20th Century Fox |
O roteiro, baseado no romance de Ransom Riggs, também apresenta suas próprias nuances. Há momentos de brilho, com diálogos inteligentes e cenas memoráveis. Porém, algumas partes se sentem apressadas, sacrificando o desenvolvimento de personagens e a exploração de suas peculiaridades em prol da progressão da trama. Li algumas críticas que mencionavam o protagonista como “desinteressante”, e, embora não concorde totalmente, admito que a construção de Jacob poderia ter sido mais rica.
As atuações, por outro lado, são um ponto alto. Eva Green como a Srta. Peregrine é absolutamente hipnótica, transmitindo uma aura de mistério e poder que cativa o espectador. Asa Butterfield, como Jacob, desempenha seu papel com competência, mesmo com o personagem apresentando limitações no roteiro. Samuel L. Jackson, como Barron, é a força maléfica do filme, adicionando uma camada de ameaça e intensidade à narrativa. O restante do elenco infantil também se destaca, interpretando as crianças peculiares com carisma e naturalidade. Judi Dench e Rupert Everett, mesmo com papéis menores, adicionam um toque de classe ao conjunto.
O filme explora temas importantes como a família, a aceitação e a importância de lutar pelo que se ama. A nostalgia dos anos 1940, refletida nos cenários e figurinos, também contribui para a construção de um universo único e encantador. No entanto, a exploração desses temas poderia ter sido mais profunda, permitindo ao espectador uma maior conexão emocional com a jornada dos personagens.
Concluindo, O Lar das Crianças Peculiares é um filme que divide opiniões. É um exemplo de cinema de fantasia visualmente deslumbrante, com ótimas atuações e uma premissa intrigante. No entanto, algumas deficiências no roteiro e um foco excessivo na estética podem ofuscar a profundidade da narrativa. Apesar disso, a magia de Burton, a beleza de seus cenários e a presença marcante de Eva Green criam uma experiência cinematográfica memorável, a qual, particularmente, recomendo aos fãs do diretor ou a quem busca uma aventura fantástica com pitadas de drama e mistério. Atualmente, o filme está disponível em diversas plataformas de streaming, então recomendo que tirem um tempo para apreciá-lo e tirem suas próprias conclusões. Afinal, como o próprio filme nos ensina, a peculiaridade é algo a ser celebrado, e isso inclui as peculiaridades de um filme!