Sabe, de vez em quando, a gente tropeça num filme que não apenas entretém, mas que, de alguma forma, captura o espírito de uma época. E aqui estamos nós, em 18 de outubro de 2025, olhando para trás, para um ano que parece tão distante quanto a pré-história tecnológica, 2002. Foi nesse cenário que um certo Triplo X (ou xXx, para os íntimos e os que digitam mais rápido) irrompeu nas telas de cinema, deixando uma explosão de adrenalina e um Vin Diesel que era a pura personificação do “por que não?”.
Por que diabos eu resolvi desenterrar Triplo X agora? Porque, veja bem, o cinema, para mim, não é só arte ou entretenimento passivo; é uma conversa com o passado, uma janela para as tendências e o que nos movia. E Triplo X não foi um filme qualquer. Ele era barulhento, descarado e, francamente, um tapa na cara do tradicional. Em um mundo pós-Guerra Fria que ainda tentava entender suas novas fronteiras e perigos, de repente, somos jogados no universo de Xander “XXX” Cage, um sujeito que, ao invés de usar ternos impecáveis e beber martinis agitados, preferia saltar de aviões sem paraquedas e descer rampas com foguetes nas costas. Um verdadeiro adrenaline junkie, um thrill seeker nato, que desafiava a própria gravidade com um sorriso maroto.
A premissa, se você parar para pensar, é quase irônica: pegar o anarquista mais notório e provocativo do pedaço para uma missão que espiões convencionais, os agentes de terno e gravata, falharam miseravelmente em cumprir. Ah, Agent Augustus Gibbons, interpretado com aquela mistura magistral de cansaço e astúcia por Samuel L. Jackson, foi um gênio. Ou talvez estivesse apenas desesperado. Ele precisava de alguém que quebrasse as regras, que pensasse fora da caixa, porque a caixa inteira estava pegando fogo. E quem melhor para apagar o incêndio com um lança-chamas do que alguém que não tem medo de brincar com o fogo?
O filme nos joga de cabeça numa trama de proporções globais, onde um inimigo mortal, Yorgi (Marton Csokas, com aquele ar de vilão contido e ameaçador), ameaça o mundo com uma biological weapon. Não era só uma questão de deter um criminoso; era sobre confrontar uma ideologia, um resquício sombrio que parecia ecoar os tempos da cold war, mas com uma roupagem tecnológica e um cinismo moderno. E para isso, Xander Cage é enviado para Praga, na República Checa, uma cidade que, por si só, carrega a história e a arquitetura que contrasta lindamente com a destruição e o caos que Xander é tão bom em criar.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Rob Cohen |
| Roteirista | Rich Wilkes |
| Produtor | Neal H. Moritz |
| Elenco Principal | Vin Diesel, Asia Argento, Marton Csokas, Samuel L. Jackson, Michael Roof |
| Gênero | Ação, Aventura, Thriller, Crime |
| Ano de Lançamento | 2002 |
| Produtora | Revolution Studios |
O que me pega em Triplo X, e o que o torna tão memorável, é como ele se recusava a ser sério o tempo todo. Sim, a mission é perigosa, a ameaça é real, mas há um subtexto de diversão quase hilarious em como Xander subverte as expectativas. Ele não disfarça; ele exibe. Ele não se mistura; ele se destaca. Ele aparece de sports car tunado, com manobras que desafiam a física e um estilo de skate que faria qualquer um dos velhos espiões vomitar o caviar. Rob Cohen, na direção, entendeu isso perfeitamente. Ele não quis um clone de Bond; ele quis algo novo, algo com o cheiro de suor e adrenalina, e Rich Wilkes, no roteiro, entregou um prato cheio de diálogos afiados e situações limite.
Ver Vin Diesel como Xander Cage é assistir a uma força da natureza. Ele não está apenas atuando; ele é Xander. Cada fala arrogante, cada olhar de desafio, cada acrobacia insana parecia brotar de um lugar autêntico. E ele não está sozinho. Asia Argento, como Yelena, traz uma camada de complexidade e uma química palpável, um jogo de sedução e desconfiança que mantém a gente grudado na tela. A relação deles não é preto no branco; é cheia de nuances, de um flerte perigoso onde a lealdade é uma moeda que pode mudar de mãos a qualquer momento. E não podemos esquecer de Michael Roof como o Agente Toby Lee Shavers, o gênio da tecnologia que, com seu jeito desajeitado e nerd, nos arranca algumas risadas e serve como o contraponto perfeito à virilidade bruta de Xander.
Vinte e três anos se passaram desde que Triplo X fez sua estreia no Brasil, em 06 de setembro de 2002. Olhando para trás, a gente pode até sentir um pingo de nostalgia, talvez um pouco de ‘onde estávamos nós naquela época?’. Será que o filme foi pretentious em sua audácia? Talvez um pouco. Mas ele também era uma explosão de energia, um filme que nos lembrava que o cinema pode ser pura fuga, pura emoção, sem pedir desculpas. Ele capturou a essência de um herói que não seguia regras, que fazia as suas próprias, e que, no final das contas, nos fez torcer por ele. E isso, meu caro leitor, é o poder de um bom filme: a capacidade de nos transportar, mesmo que por duas horas, para um mundo onde o impossível se torna o nosso próximo truque radical. E não é por isso que vamos ao cinema? Pra sentir um frio na barriga, pra rir, pra ter um quê de aventura, sem nem precisar sair da poltrona. Triplo X entregou isso, e entregou com estilo.




