A Viagem de Chihiro: Uma Ode à Inocência Perdida e Encontrada
Confesso que, em 2003, quando A Viagem de Chihiro estreou no Brasil, eu era um adolescente cético em relação a animações japonesas. Meu preconceito, admito, era fruto da ignorância. Mas, em 13 de setembro de 2025, posso dizer com toda a certeza: Hayao Miyazaki não apenas superou minhas expectativas da época, como moldou minha visão sobre cinema de animação para sempre. Esta não é apenas uma animação; é uma obra-prima que transcende gêneros e gerações.
A história acompanha Chihiro, uma garota que, durante uma mudança com a família, se vê presa em um mundo mágico e misterioso. O que começa como um passeio banal se transforma num pesadelo quando seus pais, seduzidos por uma farta mesa de banquetes abandonada, são transformados em porcos. Sozinha e desamparada, Chihiro precisa navegar por uma casa de banhos habitada por espíritos e criaturas fantásticas para resgatá-los. E nesse percurso, ela descobrirá muito mais sobre si mesma do que sobre o mundo mágico em que está imersa.
A Magia do Realismo Mágico
A direção de Miyazaki é impecável. A animação, mesmo para os padrões de hoje, é de uma riqueza visual deslumbrante. Cada cena respira vida, desde a exuberância da casa de banhos até a melancolia dos momentos mais introspectivos de Chihiro. A construção do mundo mágico é um trabalho de mestre, que mistura elementos do folclore japonês com criações surrealistas, criando um universo visualmente rico e incrivelmente coerente. O roteiro, também assinado por Miyazaki, é inteligente e sutil, construindo a trama com paciência e profundidade. Não se trata apenas de uma aventura; é uma jornada de autodescoberta.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Hayao Miyazaki |
| Roteirista | Hayao Miyazaki |
| Produtor | 鈴木敏夫 |
| Elenco Principal | Rumi Hiiragi, Miyu Irino, Mari Natsuki, Takashi Naitô, Yasuko Sawaguchi |
| Gênero | Animação, Família, Fantasia |
| Ano de Lançamento | 2001 |
| Produtora | Studio Ghibli |
As atuações de voz, mesmo na dublagem, são notáveis. A inocência e a resiliência de Chihiro são perfeitamente capturadas. E a construção dos personagens secundários, como Haku e Yubaba, é memorável, cada um com suas próprias complexidades e nuances. Não há um único personagem descartável. Eles contribuem para a riqueza temática e ajudam a nos envolver na história, criando um complexo cenário de inter-relacionamento entre personagens. Isso, claro, é mérito da sensibilidade de Miyazaki em entender a natureza humana.
Pontos Fortes e Fracos (Se É Que Existem Fracos…)
A Viagem de Chihiro não se limita a agradar crianças. A trama explora temas profundos e complexos como a perda da inocência, a importância da identidade, o poder da amizade e a natureza ambígua do bem e do mal. A obra-prima de Miyazaki se destaca pela sua capacidade de apresentar esses temas de forma acessível e envolvente, sem jamais ser didática ou infantil. Considero essa capacidade de dialogar com diferentes idades como um dos seus maiores trunfos.
Posso dizer que o único “ponto fraco”, se é que podemos chamar assim, é a sua natureza profundamente emocional. A história consegue mexer com as nossas emoções mais profundas, algo que pode ser tanto um ponto forte quanto uma experiência um tanto intensa para algumas pessoas.
Legado e Influência
A recepção crítica de A Viagem de Chihiro, desde o seu lançamento em 2001, tem sido unânime: um clássico instantâneo. O filme recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Animação em 2003, consolidando o seu lugar na história do cinema. Sua influência na animação e na cultura pop é inegável. Ainda hoje, em 2025, percebemos a sua marca em diversas produções. Não é exagero dizer que A Viagem de Chihiro elevou os padrões da animação a um novo patamar. Discordo daquela crítica que relaciona “Akira” à autodestruição e este filme ao oposto. Acho que ambos demonstram a força e a amplitude do anime como forma de arte, cada um com sua própria estética e mensagem.
Conclusão: Um Filme Para Todas as Idades (E Para Sempre)
A Viagem de Chihiro não é apenas um filme; é uma experiência. É uma jornada que fica gravada na memória, que nos faz questionar nossas próprias crenças e nos lembra da beleza e da complexidade da vida. Recomendaria este filme para qualquer pessoa, independentemente da idade ou do gosto cinematográfico. Se você ainda não assistiu, faça isso imediatamente. Se já assistiu, assista de novo. A riqueza de detalhes e a profundidade da narrativa garantem uma experiência diferente a cada visualização. É uma daquelas obras que você pode (e deve) revisitar ao longo da vida.




