Rambo: Até o Fim

Rambo: Até o Fim – Um Adeus Sangrento, Mas Necessário?

Seis anos se passaram desde que assisti, em 2019, ao que muitos consideraram – e eu me incluo aqui – o último adeus a John Rambo. A franquia, que começou como um drama de guerra visceral em “Rambo: Primeiro Sangue”, evoluiu para um espetáculo de ação quase sobrenatural nos filmes seguintes. Rambo: Até o Fim, dirigido por Adrian Grünberg, tenta navegar entre esse legado, oferecendo uma despedida que é simultaneamente brutal e melancólica. A sinopse, sem spoilers, é simples: Rambo, recluso em um rancho na fronteira entre EUA e México, é forçado a retomar sua vida violenta para resgatar a filha de um amigo, se envolvendo com um cartel mexicano implacável.

O filme não se furta à violência gráfica que se tornou a assinatura da série. Explode com a mesma intensidade dos filmes anteriores, mas desta vez há uma camada adicional de peso. Não se trata apenas de explosões e tiroteios, embora haja muitos deles. Grünberg equilibra a ação com momentos de introspecção, mostrando a solidão e o trauma de guerra que assombram Rambo. A direção é competente, sem ser brilhante, servindo mais para enfatizar a brutalidade da narrativa do que a criar algo artisticamente memorável. O roteiro, escrito por Matthew Cirulnick e Sylvester Stallone, é funcional, conduzindo a trama com eficiência, ainda que com alguns deslizes em termos de profundidade e plausibilidade.

As atuações são, no geral, sólidas. Sylvester Stallone, mais uma vez, entrega uma performance poderosa, carregada de uma raiva reprimida que transborda em momentos de fúria brutal e em silenciosos momentos de profunda tristeza. Paz Vega e Sergio Peris-Mencheta dão suporte como Carmen e Hugo Martínez, respectivamente, oferecendo uma representação mais matizada dos personagens que orbitam Rambo, em contraste com o retrato mais maniqueísta dos membros do cartel. A caracterização dos antagonistas, embora funcional, carece de nuances, caindo muitas vezes em arquétipos fáceis.

Um dos pontos fortes do filme é a exploração do trauma de guerra e do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) de Rambo. A solidão, a dificuldade de se conectar com o mundo e a incapacidade de escapar do passado são temas recorrentes e bem apresentados, ainda que de forma superficial em comparação com o tratamento que “Primeiro Sangue” propiciou ao tema. O filme também toca nos temas do tráfico humano e da luta contra o crime organizado, porém, essa exploração se limita ao pano de fundo da trama, servindo principalmente para justificar a violência desenfreada.

Porém, Rambo: Até o Fim não está livre de fraquezas. Algumas cenas de ação parecem prolongadas e desnecessárias, perdendo o impacto que poderiam ter com uma edição mais precisa. A trama, embora funcional, é previsível, e o roteiro se vale de conveniências narrativas para conduzir a história. O xenofobia presente nas cenas, mencionada em algumas críticas, fica evidente e incomoda em alguns momentos.

No final das contas, Rambo: Até o Fim é um filme de ação competente, mas longe de ser uma obra-prima. Ele entrega o que se espera de um filme de Rambo: muita ação, violência e Stallone no seu melhor (e talvez último) momento como o personagem icônico. A tentativa de adicionar uma complexidade emocional ao personagem, embora louvável, é executada de maneira desigual. Se você é fã da franquia e busca um encerramento (sangrento) para a saga, este filme irá satisfazer. No entanto, não espere uma obra-prima cinematográfica ou um estudo profundo sobre trauma. É um filme de ação brutal, violento e previsível, que serve como uma despedida adequada, mesmo que um tanto violenta, de um ícone do cinema de ação. Recomendo sua exibição em plataformas digitais para os apreciadores do gênero, mas com a ressalva de que ele não se iguala à força e impacto dos filmes anteriores da franquia.