Severance: A Distopia Corporativa Que Nos Assombra
Lançada em 2022, Severance, série criada por Dan Erickson, chegou como um sopro de ar fresco (ou talvez, de ar rarefeito e controlado) no cenário televisivo. Três anos depois, sua reverberação ainda ecoa na minha cabeça, e não apenas pelos seus temas perturbadores, mas pela sua capacidade singular de criar uma atmosfera de suspense claustrofóbico que perdura muito além dos créditos finais. A sinopse básica é simples: Mark Scout (Adam Scott, em uma atuação magistral) lidera uma equipe em Lumon Industries, uma empresa que utiliza uma tecnologia experimental para separar completamente as memórias dos funcionários entre suas vidas profissional e pessoal. O que começa como um drama de escritório corporativo rapidamente evolui para um mistério existencial desconcertante.
A direção da série é impecável, construindo uma estética visualmente marcante e singular. A paleta de cores frias e a arquitetura opressiva dos escritórios da Lumon criam uma sensação constante de desconforto, quase palpável. A fotografia, muitas vezes em close, intensifica a atmosfera de paranoia e nos deixa tão próximos dos personagens quanto eles estão presos em suas realidades fragmentadas. O roteiro, por sua vez, é um caleidoscópio de mistérios cuidadosamente construídos, com revelações graduais que mantêm o espectador em estado de alerta constante. Não espere respostas fáceis; Severance é uma série que se deleita no suspense, e isso, para alguns, pode ser um ponto de atrativo, para outros, um ponto fraco.
E aqui chegamos a um ponto crucial: a recepção da crítica foi dividida. Alguns elogiaram a originalidade da premissa e a construção cuidadosa da tensão, como apontado em um trecho de crítica que li: “Give it time! This show is a slow burn…”. Eu concordo plenamente. A série exige paciência, exige que o espectador se entregue à sua atmosfera peculiar e se deixe levar pelas nuances dos personagens e do enredo, mesmo que algumas partes pareçam, inicialmente, desnecessariamente lentas. Outros, por outro lado, criticaram o ritmo lento e a falta de carisma em alguns personagens, como em outro comentário que li: “Style over substance and a strong lack of charisma from the cast…”. Eu discordo profundamente dessa avaliação. O “estilo sobre a substância” é exatamente o que torna Severance tão fascinante. A ausência de carisma em alguns personagens, na verdade, é perfeitamente coerente com a atmosfera de despersonalização e alienação que a série retrata.
Atributo | Detalhe |
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Criador | Dan Erickson |
Produtores | Jessica Lee Gagné, Sean Fogel, Wei-Ning Yu, Adam Scott, Aoife McArdle, Amanda Overton, Gerry Robert Byrne, Patricia Arquette |
Elenco Principal | Adam Scott, Britt Lower, Tramell Tillman, Zach Cherry, Jen Tullock |
Gênero | Drama, Mistério, Ficção Científica e Fantasia |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Endeavor Content, Red Hour, Fifth Season, Animals & People, Westward |
O elenco, liderado por um Adam Scott impecável, oferece performances excepcionais. Britt Lower, como Helly Riggs, rouba a cena com sua fragilidade e rebeldia. Tramell Tillman, como o inquietante Seth Milchick, e Zach Cherry, como o confuso Dylan George, completam um time memorável. A construção de cada personagem, mesmo os secundários, demonstra uma atenção aos detalhes fascinante.
Mas o que realmente me cativou em Severance não foram apenas as reviravoltas inteligentes ou as atuações soberbas. Foram os temas centrais. A série nos força a questionar a natureza da identidade, o significado do trabalho em nossas vidas e a manipulação sutil, mas poderosa, exercida pelas grandes corporações. A dissociação entre a vida pessoal e a profissional, tema central da série, é um reflexo, talvez exagerado, mas assustadoramente próximo da realidade para muitos em 2025. A maneira como a série explora as consequências emocionais dessa dissociação é perturbadora e profundamente comovente.
Em suma, Severance é uma obra complexa, desafiadora e, ao mesmo tempo, profundamente recompensadora. Sim, seu ritmo pode não agradar a todos, e sua ambiguidade pode ser frustrante para quem busca respostas fáceis. Mas a beleza da série reside justamente na sua capacidade de suscitar questionamentos, de criar uma atmosfera de suspense instigante e de nos confrontar com os nossos próprios medos e ansiedades em relação ao mundo corporativo e à nossa própria identidade. Para aqueles que apreciam séries de mistério com uma pitada de ficção científica e uma dose generosa de suspense psicológico, Severance é uma experiência obrigatória, e eu a recomendo fortemente. Três anos depois da sua estreia, a série continua a me assombrar, e isso, para mim, é o sinal de uma obra-prima.