A Substância: Uma Ode à Destruição da Beleza
Dezesseis de setembro de 2025. Ontem, assisti a A Substância, e ainda estou processando. Não é um filme fácil. Não é um filme bonito, apesar de sua estética muitas vezes ser hipnótica. É um filme que te agarra pela garganta, te joga na parede e te deixa ali, ofegante, a se questionar sobre a própria mortalidade, a vaidade e o significado da beleza numa sociedade obcecada por ela.
A trama acompanha Elisabeth, uma estrela de cinema em declínio, interpretada por uma Demi Moore que entrega uma performance visceral, talvez a melhor de sua carreira. Desesperada para recuperar o seu brilho perdido, ela encontra uma substância milagrosa que cria uma versão mais jovem e perfeita dela mesma. O que começa como um triunfo se transforma numa espiral descendente para o horror, com consequências físicas e psicológicas terríveis. O roteiro de Coralie Fargeat, que também dirige com maestria, é inteligente e incisivo, tecendo uma narrativa que te deixa sem fôlego do começo ao fim. Margaret Qualley, como Sue, a filha de Elisabeth, é igualmente brilhante, mostrando uma vulnerabilidade e raiva cruas. A sinergia entre elas é palpável, carregando o peso da trama.
A direção de Fargeat é um espetáculo à parte. Aquelas imagens, a estética, a construção dos cenários… é tudo impecável. A cena em que a substância é apresentada, em meio à uma festa de Réveillon, me assombrará por muito tempo. A escolha de começar o longa com uma gema de ovo brilhando, como mencionado em algumas críticas, é realmente genial, simbolizando o ciclo de vida, a fragilidade e a promessa de algo novo que logo se corrompe. Há uma beleza inquietante na decadência apresentada, uma sensualidade sombria que torna o filme ainda mais perturbador. O uso de cores, principalmente o amarelo vibrante que acompanha a substância, se transforma em um elemento perturbador, quase nauseante, conforme a trama avança.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Coralie Fargeat |
Roteirista | Coralie Fargeat |
Produtores | Eric Fellner, Coralie Fargeat, Tim Bevan |
Elenco Principal | Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, Edward Hamilton-Clark, Gore Abrams |
Gênero | Drama, Terror, Ficção científica |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Working Title Films, Blacksmith, Working Title Films |
Dennis Quaid, como Harvey, e o elenco coadjuvante cumprem seus papeis com eficiência, embora o foco se mantenha inabalavelmente em Moore e Qualley. O que torna a interpretação de Moore tão poderosa é a sua capacidade de expressar a luta interna da personagem com maestria, mostrando a fragilidade por trás da fachada de poder.
O filme não se limita a ser um thriller psicológico; ele se propõe a ser um comentário mordaz sobre a indústria do entretenimento, a obsessão com a juventude e os padrões de beleza irreais impostos às mulheres. A sátira é fina, mas certeira, e a crítica social é tão impactante quanto o terror físico. A Substância é um estudo de caso sobre a fragilidade da identidade, a insegurança feminina e a busca incessante pela perfeição, um ideal muitas vezes inalcançável e prejudicial. A mensagem é clara: a beleza artificial tem um preço, e esse preço pode ser muito alto.
É claro que o filme não é perfeito. Algumas escolhas narrativas podem parecer apressadas, e o ritmo pode vacilar em alguns momentos. Apesar da força da mensagem, a história talvez não se aprofunde tanto em certos aspectos que seriam interessantes de explorar. Mas esses são pequenos defeitos em um filme que, como um todo, é simplesmente brilhante.
A Substância estreia no Brasil em 19 de setembro de 2024. Se você busca um filme intenso, perturbador e que te deixará pensando por dias, não perca. Recomendo fortemente, mesmo que o caminho seja repleto de cenas que podem te deixar desconfortável. É uma experiência cinematográfica marcante, que ficará para sempre na minha memória – e provavelmente na de todos que o assistirem. O filme já causou grande impacto nos festivais internacionais, e acredito que terá uma longa trajetória de discussão e análise. É uma obra que consegue, de forma perturbadora e magistral, capturar o peso da nossa sociedade. Uma obra-prima que te desafia a encarar a própria vaidade, e a efemeridade da beleza.