The View: Um Espelho (Nem Sempre Liso) da América
The View. O nome em si já evoca imagens: mulheres fortes, debates acalorados, risos e, inevitavelmente, controvérsia. Desde sua estreia em 1997, essa série de talk show se consolidou como um ícone da cultura televisiva americana, um espaço onde as opiniões – por vezes divergentes, outras vezes explosivas – se chocam sob o olhar atento de milhões de telespectadores. Mas, olhando para trás, a partir de setembro de 2025, posso dizer que a trajetória de The View é tão complexa e fascinante quanto as próprias personalidades que a habitam.
A premissa é simples: um painel de mulheres, com diferentes perspectivas políticas e sociais, discute os temas mais relevantes do dia. Sem roteiro pré-determinado, a dinâmica é orgânica, dependendo da química (ou falta dela) entre as apresentadoras. Essa aparente improvisação é, ao mesmo tempo, o maior trunfo e o calcanhar de Aquiles do programa.
A direção, ao longo das décadas, oscilou entre a liberdade criativa e a necessidade de controlar a possível “bagunça” inerente ao formato. Houve momentos de pura genialidade, com debates brilhantes e insights surpreendentes, mas também momentos de constrangimento, onde o “caos” tomou conta, deixando a sensação de falta de rumo. O roteiro, na verdade, é a própria atualidade, com os seus altos e baixos, seus escândalos e suas reflexões profundas. As apresentadoras, ao longo dos anos, formaram uma galeria de personagens memoráveis, cada uma contribuindo com sua singularidade para o todo – de Barbara Walters, a figura matriarcal que lançou a série, a Whoopi Goldberg, cuja presença imponente marcou uma era. Joy Behar, Sunny Hostin, Sara Haines e Alyssa Farah Griffin, que compõem o painel atual, carregam em si a herança desse legado, embora com nuances próprias. A química entre elas, sinceramente, é algo que varia de temporada para temporada. Há momentos de verdadeira sinergia, outras em que o desconforto é palpável para quem assiste.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Criadores | Bill Geddie, Barbara Walters |
Elenco Principal | Joy Behar, Sunny Hostin, Sara Haines, Whoopi Goldberg, Alyssa Farah Griffin |
Gênero | Talk |
Ano de Lançamento | 1997 |
Produtoras | Barwall Productions, Lincoln Square Productions |
Um dos pontos fortes de The View reside em sua capacidade de abordar temas polêmicos, sem fugir da discussão. A série serviu como palco para debates sobre racismo, sexismo, política, e tantas outras questões cruciais da sociedade americana. E, ao mesmo tempo, esse mesmo atributo representa uma de suas fragilidades. Em certos momentos, a busca pela polêmica parece prevalecer sobre a busca pela substância, o que resulta em discussões superficiais ou até mesmo ofensivas. É aí que reside a questão do “woke absurdity” mencionado em uma crítica que li: a oscilação entre um discurso progressista genuíno e a instrumentalização de pautas importantes para gerar engajamento e audiência. Acredito que a série passou por diversas fases, com altos e baixos consideráveis. A “queda” mencionada na crítica, por exemplo, certamente foi um reflexo das mudanças na sociedade americana como um todo e da própria evolução (ou involução, dependendo do ponto de vista) do debate público na era digital.
A mensagem central, mesmo com os desvios, parece ser a importância do diálogo, da pluralidade de opiniões e da busca por um entendimento comum (embora utópico, admito). A própria diversidade no painel de apresentadoras, ainda que nem sempre perfeita, reforça essa intenção. No entanto, a execução nem sempre acompanha a intenção. A sensação de um debate “produzido”, manipulado para atingir determinados objetivos, é algo que frequentemente acompanha a experiência da visualização.
Em conclusão, The View é uma série que transcende a simples classificação de “talk show”. É um retrato – por vezes distorcido, por vezes brilhante – da América, de suas contradições, de suas alegrias e de suas frustrações. Recomendo a série para aqueles que buscam um retrato dinâmico (e às vezes desconcertante) da sociedade americana, mas com a ressalva de que nem todas as temporadas mantêm o mesmo nível de qualidade e engajamento. É uma maratona que exige paciência, seletividade, e uma pitada de ceticismo. Afinal, quem assiste The View precisa ter a consciência de que está assistindo a um show, onde o entretenimento se mistura – e muitas vezes se confunde – com a realidade.