Manhã de Cinzas: Uma Justiça Suja em Código de Conduta
Quinze anos se passaram desde que Código de Conduta (Taken, no original), estrelado por um Gerard Butler implacável e dirigido por F. Gary Gray, invadiu as telas. E, olhando para trás, percebo que o filme, apesar de suas falhas, continua a ecoar em minha memória com uma força surpreendente. Não é um filme perfeito, longe disso, mas é um thriller visceral que mexe com algo profundamente arraigado em nossa psique: a busca por justiça, mesmo quando esta se encontra manchada pela vingança.
A trama acompanha Clyde Alexander Shelton, um homem devastado pela brutal morte de sua esposa e filha. Após a soltura do suspeito, decepcionado com a ineficácia do sistema judicial, Clyde decide tomar a lei em suas próprias mãos, desencadeando uma sequência de eventos que culminam em um confronto explosivo com o sistema que ele considera falho. A premissa é simples, brutalmente eficiente, e serve como um excelente ponto de partida para uma exploração do tema da justiça, ou melhor, da sua perversão.
A direção de F. Gary Gray, conhecida por seus trabalhos em filmes como “Straight Outta Compton”, imprime ao longa uma atmosfera opressiva e tensa, que acompanha fielmente a jornada de vingança de Clyde. As cenas são construídas de forma cuidadosa, utilizando-se de planos detalhados que acentuam o sofrimento e a determinação do protagonista. Há uma estética sombria, quase claustrofóbica, que reflete a própria prisão moral e física em que Clyde se encontra. No entanto, a narrativa às vezes se perde em sua própria complexidade, o que compromete levemente a fluidez da história.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | F. Gary Gray |
Roteirista | Kurt Wimmer |
Produtores | Mark Gill, Alan Siegel, Gerard Butler, Kurt Wimmer, Lucas Foster |
Elenco Principal | Jamie Foxx, Gerard Butler, Colm Meaney, Bruce McGill, Leslie Bibb |
Gênero | Drama, Crime, Thriller |
Ano de Lançamento | 2009 |
Produtoras | The Film Department, Evil Twins, Warp Films, G-BASE |
O roteiro de Kurt Wimmer, por sua vez, funciona como uma dupla lâmina. Ele apresenta a trama de forma eficiente, sem deixar o público se perder. Entretanto, em certos momentos, tenta ser mais inteligente do que realmente é, o que resulta em algumas reviravoltas previsíveis e uma certa falta de profundidade psicológica em alguns personagens secundários. A construção de Clyde como um “criminoso mestre” é um tanto simplificada, faltando um desenvolvimento mais aprofundado de suas habilidades e motivações. As críticas que mencionavam a falta de explicação sobre sua suposta “vida dupla” como inventor são pertinentes; esse aspecto poderia ter adicionado uma complexidade fascinante ao personagem, elevando o filme para outro patamar.
Apesar dos defeitos do roteiro, as atuações carregam o filme. Jamie Foxx, como o promotor Nick Rice, oferece uma performance sólida e matizada, retratando o dilema moral de perseguir a justiça dentro de um sistema corrupto. Mas é Gerard Butler, no papel de Clyde, quem rouba a cena. Ele interpreta com uma intensidade visceral, canalizando a dor, a raiva e a fria determinação de um homem quebrado pelo sistema. Sua atuação não é apenas convincente, mas também palpável; você sente a dor dele na tela. O elenco de apoio, incluindo Colm Meaney e Bruce McGill, cumpre seu papel com competência, adicionando camadas de profundidade ao contexto.
Os pontos fortes de Código de Conduta residem na sua brutalidade honesta e na sua exploração do tema da vingança. O filme não se esquiva de mostrar a violência gráfica, utilizando-a como um meio de retratar a desumanização do sistema e as consequências devastadoras da perda. Porém, seus pontos fracos se encontram na previsibilidade de algumas partes da trama e na superficialidade no desenvolvimento de alguns personagens. A resolução, apesar de catártica para o protagonista, deixa um gosto amargo de justiça incompleta, gerando uma sensação de insatisfação em alguns espectadores (como citado na crítica sobre o “fim não desejado”).
O filme, lançado em 2009 e que chegou ao Brasil em 06 de novembro do mesmo ano, explora temas como a corrupção sistêmica, o fracasso da justiça e a tentação de recorrer à vingança. É um comentário cru sobre um sistema que muitas vezes falha em proteger seus cidadãos, e que em última análise, pode empurrar as pessoas para a beira do abismo. A mensagem, embora implícita, é poderosa e permanece relevante até hoje.
Em resumo, Código de Conduta é um filme áspero, violento, e às vezes inconsistente, mas que não deixa de ser profundamente impactante. Ele não é um filme para todos os paladares, mas para aqueles que apreciam thrillers intensos com uma dose de crítica social, esta é uma experiência cinematográfica que vale a pena conferir nas plataformas de streaming. Recomendo-o com ressalvas, admitindo suas imperfeições, mas celebrando a sua força bruta e a inesquecível performance de Gerard Butler.