Frasier

A Sinfonia Crane: Por Que Frasier Continua a Resonar em Nossos Corações (e Mentes)

Você pode até tê-la visto de relance, pulando canais num dia qualquer, talvez em uma reprise matinal – como o trecho de crítica que nos acompanha bem apontou um dia. E sim, é “entretenimento”. Mas reduzir a grandiosidade de Frasier a um mero passatempo é como chamar um vinho Romanée-Conti de “vinho bom”. É uma injustiça colossal. Quase 32 anos se passaram desde que a série de TV estreou, em 1993, e aqui estamos nós, em 26 de setembro de 2025, ainda falando sobre ela com a mesma reverência, a mesma paixão. E eu, como um crítico que respira séries, sinto-me na obrigação de desmistificar a beleza inegável deste clássico atemporal.

Para quem, por alguma razão cósmica, ainda não conhece Frasier Crane – ou talvez só o associe ao bar de “Cheers” –, a premissa é um deleite de nuances. Frasier é um psiquiatra culto, pretensioso e com um ego que mal cabe em seus ternos de grife, que agora apresenta um programa de rádio em Seattle, transmitindo sagacidade e conselhos (nem sempre práticos) aos seus ouvintes. O grande conflito, e a fonte inesgotável de comédia, surge quando ele se vê obrigado a morar com seu pai aposentado, Martin Crane, um policial pragmático, apaixonado por seu sofá reclinável e por cerveja barata. Junte a isso seu irmão, Niles, um psiquiatra ainda mais esnobe e neurótico que Frasier, a excêntrica e adorável Daphne Moon, a fisioterapeuta de Martin com seus dons psíquicos duvidosos, e a espirituosa produtora de rádio, Roz Doyle, e você tem o cenário para uma das mais brilhantes comédias familiares já produzidas.

A Dança Orquestrada do Roteiro e da Atuação

AtributoDetalhe
CriadoresDavid Angell, Peter Casey, David Clark Lee
ProdutoresAlan R. Baxter, Michael B. Kaplan, Rob Greenberg, Rob Hanning, Suzanne Martin, Sy Dukane, Denise Moss, Mary Fukuto, Gayle Abrams, Bob Daily, Eric Zicklin, William Lucas Walker, Steven Levitan, Elias Davis, David Pollock, Anne Flett-Giordano, Charlie Hauck, Chris Marcil, Chuck Ranberg, Dan O'Shannon, Jack Burditt, Janis Hirsch, Jay Kogen, Jeffrey Richman, Joe Keenan, Jon Sherman, Lori Kirkland Baker, Maggie Blanc, Mark Reisman
Elenco PrincipalKelsey Grammer, Jane Leeves, David Hyde Pierce, Peri Gilpin, John Mahoney
GêneroComédia, Família
Ano de Lançamento1993
ProdutorasGrammnet Productions, Grub Street Productions, Paramount Television, CBS Studios

Se há algo que Frasier nos ensina é que a comédia, quando bem escrita, é uma forma de arte elevada. Os criadores David Angell, Peter Casey e David Clark Lee, juntamente com uma equipe de roteiristas que mais parecia uma orquestra de gênios – com nomes como Joe Keenan e Christopher Lloyd (não o ator, o roteirista) –, construíram um universo de diálogos afiados, referências culturais que vão de Freud a Wagner, e uma farsa de portas que beira o teatro boulevard. O roteiro é um personagem por si só, repleto de trocadilhos, duplos sentidos e mal-entendidos hilários que raramente caem na vulgaridade ou na previsibilidade. É um humor que te desafia, te convida a pensar, mesmo enquanto você está rindo a plenos pulmões.

E o elenco? Ah, o elenco! É onde a magia realmente acontece. Kelsey Grammer como Frasier Crane é um tour de force. Ele não apenas habita o personagem; ele o é. Sua capacidade de transitar entre a arrogância pomposa e a vulnerabilidade patética é sublime. Frasier é, ao mesmo tempo, um gênio e um tolo, um homem que anseia por amor e reconhecimento, mas que sabota constantemente suas chances com sua própria pedanteria.

Mas se Grammer é o sol, David Hyde Pierce como Niles Crane é a lua, refletindo e amplificando a luz com um brilho próprio e único. Niles é uma obra-prima de nuances. Sua postura rígida, sua gesticulação precisa, sua paixão contida por Daphne – tudo é executado com uma perfeição cômica que é pura genialidade. A rivalidade fraterna entre Frasier e Niles é a espinha dorsal da série, um balé de ciúmes intelectuais e afeição disfarçada.

E então temos o ancoradouro da realidade: John Mahoney como Martin Crane. Mahoney, que nos deixou há alguns anos, é o coração e a alma de Frasier. Seu Martin é o contraponto perfeito à pretensão dos filhos, um lembrete constante de que a sabedoria de rua e o bom senso valem tanto quanto, se não mais, que um PhD em Harvard. A química entre pai e filhos é palpável, e as discussões sobre ópera versus basquete, vinhos caros versus cerveja em lata, são a essência do gênero “família” que a série explora com maestria.

Jane Leeves como Daphne Moon é a excentricidade britânica, a figura que frequentemente desencadeia os eventos cômicos com suas premonições ou seu charme ingênuo. E Peri Gilpin como Roz Doyle é a voz do pragmatismo, do sarcasmo e da amizade incondicional, a âncora de Frasier no mundo real do rádio e dos relacionamentos. A direção da série, embora não ostensivamente estilizada, é impecável em seu ritmo e encenação, utilizando os sets (especialmente o apartamento de Frasier, um ícone por si só) como palcos para uma coreografia de entradas e saídas que remetem ao melhor do teatro.

Temas Que Resistiram ao Tempo

Frasier é muito mais do que uma sitcom de risadas fáceis. Ela é uma profunda exploração de temas universais: a busca por amor e aceitação, a complexidade das relações familiares (especialmente a dinâmica entre pais e filhos adultos), a tensão entre a ambição intelectual e as necessidades emocionais básicas, e a eterna luta entre ser quem você acha que deve ser e quem você realmente é. A série se aprofunda na psicologia humana com uma leveza e inteligência raras, abordando a solidão, o envelhecimento, o divórcio e a busca por um propósito com uma honestidade surpreendente.

O que me fascina é como, mesmo com toda a sua sofisticação e referências eruditas, a série consegue ser universalmente relacionável. Quem nunca se sentiu como Frasier, tentando ser a versão mais idealizada de si mesmo, apenas para ser derrubado pela realidade (ou pela família)? Quem nunca teve um irmão com quem a rivalidade era tão forte quanto o amor? Essa é a genialidade de Frasier: ela te faz rir de situações que, no fundo, são apenas versões exageradas de nossos próprios dramas diários.

O Legado Incontestável

Frasier não foi apenas um “spin-off” de “Cheers”; ela se tornou um colosso por si só. Lançada com a pesada responsabilidade de seguir os passos de uma das maiores sitcoms de todos os tempos, ela não apenas igualou o sucesso, como para muitos críticos (inclusive eu), o superou em termos de sofisticação e profundidade. A recepção da crítica foi um coro de louvor, culminando em 37 prêmios Emmy durante suas 11 temporadas, um recorde para a época.

Em uma era onde a comédia muitas vezes se rende ao humor mais óbvio, Frasier permanece como um farol de inteligência. Em 26 de setembro de 2025, quase 32 anos após sua estreia, a série é tão relevante e hilária quanto era em 1993. É uma daquelas obras que você pode reassistir inúmeras vezes e ainda encontrar uma nova piada, uma nova nuance, uma nova camada emocional.

Então, sim, Frasier pode estar “em reprises” em algumas plataformas de streaming. Mas não a trate como uma mera distração matinal. Sente-se, sirva-se de um bom café (ou talvez um Sherry, ao estilo Frasier), e mergulhe no mundo dos irmãos Crane. Permita-se ser transportado para um apartamento em Seattle onde a alta cultura se choca com o bom e velho bom senso, e onde a comédia é, na sua essência, uma celebração da complexidade humana.

Minha recomendação é clara e irrefutável: Se você busca uma série que desafie sua mente enquanto aquece seu coração, que faça você rir alto e talvez até derramar uma lágrima ocasional, Frasier é sua próxima maratona obrigatória. É uma obra-prima. É uma sinfonia. E é uma experiência que, garanto, você vai querer reviver de novo e de novo.

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