O Contador

Ah, O Contador. Deixa eu te contar uma coisa: poucas vezes um título tão… burocrático, digamos assim, escondeu uma teia tão eletrizante de números, balas e a complexidade da mente humana. Eu me lembro perfeitamente quando as primeiras notícias sobre esse filme começaram a pipocar, lá em 2016. Um contador. Ben Affleck. Crimes. Sinceramente? A primeira imagem que me veio à mente foi a de um sujeito curvado sobre planilhas, talvez com um toque de suspense de escritório. Que engano delicioso!

Mas por que diabos eu ainda estou falando sobre O Contador em setembro de 2025? Porque, para mim, este não é apenas mais um thriller de ação; é um estudo de personagem que se disfarça de espetáculo explosivo. E é aí que reside a sua magia. Gavin O’Connor, o mesmo mestre por trás da visceralidade de ‘Guerreiro’, soube como ninguém tecer uma narrativa que é tanto um quebra-cabeça cerebral quanto um soco no estômago.

No centro de tudo, temos Christian Wolff, interpretado com uma contenção impressionante por Ben Affleck. Sabe quando a gente tem uma expectativa de que um ator pode “estragar a tela”, como alguns críticos até ousaram dizer sobre Affleck no passado? Pois bem, aqui ele não só prova que esses comentários são infundados, como entrega uma das atuações mais multifacetadas da sua carreira. Christian não é um herói convencional. Ele é um gênio da matemática, um autista funcional que se sente infinitamente mais confortável com algoritmos do que com o labirinto imprevisível das interações sociais. Mas não se engane: por trás dos óculos e da fala metódica, reside uma máquina de combate, um atirador de elite treinado, um mestre em combate corpo a corpo. É uma contradição ambulante, e Affleck a personifica com uma precisão cirúrgica.

A sinopse já entrega a premissa: Christian, um contador freelancer para o crème de la crème do crime organizado, se vê com o Departamento do Tesouro no seu encalço. Para esfriar a cabeça, ele aceita um trabalho aparentemente comum: auditar uma empresa de equipamentos robóticos, onde Dana Cummings (a sempre charmosa e eficaz Anna Kendrick) encontrou um desvio colossal de fundos. A partir daqui, a trama desdobra-se em camadas que lembram um dos intrincados diagramas que Christian Wolff certamente rabiscaria. Quanto mais ele se aproxima da verdade sobre o dinheiro, mais rápido o número de cadáveres começa a subir, e a tensão se torna quase palpável.

AtributoDetalhe
DiretorGavin O'Connor
RoteiristaBill Dubuque
ProdutoresLynette Howell Taylor, Mark Williams
Elenco PrincipalBen Affleck, Cynthia Addai-Robinson, Anna Kendrick, J.K. Simmons, Jon Bernthal
GêneroCrime, Thriller, Drama
Ano de Lançamento2016
ProdutorasZero Gravity Management, Electric City Entertainment, RatPac Entertainment, Warner Bros. Pictures

O que me prendeu, e acredito que prende a muitos, é a forma como o filme balanceia a lógica fria dos números com a brutalidade inesperada da violência. As sequências de luta, por exemplo, não são apenas espetáculo pirotécnico; elas são uma extensão do caráter de Christian – eficientes, impiedosas e quase robóticas em sua execução. Cada tiro de rifle de precisão, cada golpe, tem um propósito fatal. É como se a mente que resolve as equações mais complexas também tivesse mapeado a forma mais direta de incapacitar um adversário.

E o elenco de apoio? Ah, ele brilha. J.K. Simmons como Ray King, o diretor do Tesouro, é a personificação da implacabilidade, um caçador nato. Cynthia Addai-Robinson, como a analista Marybeth Medina, adiciona uma camada de humanidade e resiliência à perseguição. E Jon Bernthal, como Brax, traz aquela energia caótica e ameaçadora que sempre eleva o nível. A química entre os personagens, especialmente entre Christian e Dana, injeta momentos de leveza e uma curiosa faísca de conexão que desafia a natureza solitária do protagonista.

Mas o filme vai além do crime e do thriller. Ele se aprofunda na condição de Christian, explorando como a forma única como ele processa o mundo não é uma deficiência, mas uma fonte de poder extraordinário. As referências ao serviço militar, à prisão (sim, a história dele é complexa!), e até mesmo a uma relação fraterna que se insinua nas entrelinhas, tudo isso constrói um anti-herói que é ao mesmo tempo temível e, de alguma forma, digno de nossa estranha admiração. Não é fascinante como um filme sobre um nerd de contabilidade pode se transformar em um conto sobre um assassino de aluguel com um código moral próprio?

O Contador é poderoso. É um daqueles filmes que eu, pessoalmente, revisito de tempos em tempos, não só pela ação bem coreografada ou pelo mistério envolvente, mas pela riqueza de seu personagem central. É um lembrete de que a profundidade e a complexidade podem ser encontradas nos lugares mais inesperados, e que as pessoas mais “diferentes” muitas vezes guardam as habilidades mais extraordinárias. Não é um filme em preto e branco; é uma tapeçaria de tons de cinza, onde a matemática, o dinheiro e a morte se entrelaçam de forma brilhante. E isso, meu caro, é o tipo de cinema que me faz vibrar.

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