Steve

Numa época em que o ruído digital e a efemeridade das manchetes dominam, por que diabos eu dedicaria meu tempo a escrever sobre um filme? A resposta, meu caro leitor, é simples e profundamente humana: porque algumas histórias nos alcançam de um jeito que poucas coisas conseguem. E Steve, a nova obra de Tim Mielants, com roteiro assinado por Max Porter, é exatamente esse tipo de filme. Ele não grita por atenção; ele a conquista, lentamente, como um sussurro que se transforma em um coro poderoso no fundo da sua mente.

Meu primeiro contato com a premissa – um professor em uma escola de reforma nos anos 90, adaptado de um livro – já me fisgou. Há algo nesse universo que ressoa com uma verdade incômoda, com a ideia de que a educação, muitas vezes, é um campo de batalha, um lugar onde a esperança e o desespero dançam lado a lado. E Steve não foge a essa dualidade. Ele se aninha nos gêneros de drama e comédia, mas não espere risadas fáceis ou lágrimas manipuladas. A comédia aqui é quase sempre de sobrevivência, um escape momentâneo da tensão palpável que permeia os corredores da instituição. O drama, ah, esse é visceral, profundo, e nos convida a confrontar as complexidades de vidas que a sociedade muitas vezes prefere ignorar.

No centro de tudo, temos Cillian Murphy. Olha, eu sei que o cara está em alta, mas aqui, ele transcende o estrelato. O Steve que Murphy nos entrega não é um herói idealizado nem um mártir. Ele é um homem à bebeira, com o peso do mundo – ou pelo menos o mundo daquela escola – sobre os ombros. Aquele trecho de crítica que li, do CinemaSerf, dizendo que “Cillian Murphy takes top billing and turns in a visceral effort in the title role”, é a pura verdade. Você vê o esforço, a exaustão nos olhos dele, a tensão que se acumula nos ombros. Não é que ele diga que está exausto; a forma como ele segura a caneta, ou como ele encurta o passo ao andar, conta a história. Mas reduzir Steve a apenas a performance de Murphy seria um equívoco, uma injustiça com o que Mielants conseguiu criar.

Este, de fato, é um triunfo do coletivo. O filme é um verdadeiro balé de talentos que se complementam, formando uma tapeçaria rica e cheia de nuances. Jay Lycurgo, como o jovem Shy, não é apenas um contraponto para Steve; ele é o espelho de uma juventude marginalizada, cheia de raiva e de uma fragilidade quase palpável. A interação entre eles, ora de confronto, ora de estranha camaradagem, é o pulso do filme. E que tal a presença de Tracey Ullman como Amanda e Emily Watson como Jenny? Elas trazem uma camada essencial de humanidade e resiliência feminina ao ambiente predominantemente masculino e muitas vezes brutal da escola. São as vozes da razão, da compaixão e, por vezes, da desilusão silenciosa. Little Simz como Shola, e Roger Allam, cujos papéis ainda não se revelaram por completo, prometem adicionar mais texturas a essa paleta já tão rica. É como se cada ator fosse uma pincelada consciente na tela, construindo um retrato que, se visto de perto, é um emaranhado de cores, mas de longe, forma uma imagem assustadoramente coesa.

AtributoDetalhe
DiretorTim Mielants
RoteiristaMax Porter
ProdutoresAlan Moloney, Cillian Murphy
Elenco PrincipalCillian Murphy, Jay Lycurgo, Tracey Ullman, Emily Watson, Little Simz, Youssef Kerkour, Marcus Garvey, Douggie McMeekin, Charlie Beaven, Roger Allam
GêneroDrama, Comédia
Ano de Lançamento2025
ProdutoraBig Things Films

A direção de Tim Mielants é discreta, mas incisiva. Ele não precisa de artifícios visuais gritantes para nos imergir na atmosfera dos anos 90 e na rotina da escola de reforma. Há uma autenticidade nas locações, na fotografia que, imagino, deve ter um tom ligeiramente desbotado, como as fotografias antigas que guardamos na memória. A adaptação do livro de Max Porter, nas mãos de Porter como roteirista, deve ter sido um desafio e tanto, mas a capacidade de extrair a essência literária e transformá-la em linguagem cinematográfica, mantendo a profundidade dos personagens e a ambiguidade moral, é um testamento à sua maestria.

O que me prende a Steve é a sua honestidade brutal. Não há soluções fáceis, nem arcos de redenção açucarados. Há apenas o dia a dia, a luta por um pouco de dignidade, a busca por conexão em um lugar projetado para isolar. É um lembrete de que, mesmo nos ambientes mais adversos, o espírito humano encontra maneiras de resistir, de rir, de chorar e, acima de tudo, de sentir. Se você busca um filme que te faça pensar, que te faça sentir o cheiro de giz, o som dos gritos abafados e a esperança tênue que às vezes surge nas frestas do desespero, então marque 19 de setembro de 2025 no seu calendário. Eu, por exemplo, já tô contando os dias pra poder mergulhar de cabeça nessa história novamente. E se você decidir fazer o mesmo, talvez a gente se encontre pelos corredores metafóricos dessa escola de reforma, ambos um pouco mais pensativos e um bocado mais humanos depois da experiência.

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