Existe algo quase primordial na atração que os faroestes exercem sobre a gente, não é mesmo? A poeira, o sol a pino, a justiça meio torta e aqueles heróis sujos, cansados, mas inabaláveis. E quando falamos de faroeste, especialmente aquele sabor único do spaghetti western, o nome “Django” surge como um trovão no deserto. É quase um arquétipo, uma promessa de vingança fria e tiros certeiros. Por isso, quando soube da existência de Django Undisputed, lançado lá fora em abril de 2024, um arrepio me subiu a espinha. Um novo “Django”? Dirigido e estrelado por Claudio Del Falco? Ah, a curiosidade se tornou um fogo no rabo, sabe?
A gente sabe que a sombra de Sergio Corbucci e Franco Nero é gigante, quase uma montanha intransponível. Mas a cada nova incursão nesse universo, uma parte da gente torce para que a chama original seja reacendida, ou que pelo menos uma fagulha dela nos atinja. E Django Undisputed chega com essa promessa, ou melhor, com essa audácia. É um filme que, desde o título, já nos desafia: “Undisputed” (Incontestável). Será?
O que o filme nos entrega é uma jornada clássica, mas com um toque que busca modernidade, ou talvez uma releitura muito pessoal. Claudio Del Falco, além de vestir o chapéu, o poncho e o olhar frio de Django, também assina a direção e o roteiro. Isso por si só já é um atrativo e, ao mesmo tempo, um ponto de interrogação. Quantas vezes vimos projetos de paixão onde uma única visão centraliza tudo, resultando tanto em momentos de genialidade pura quanto em tropeços um tanto… digamos, únicos?
A premissa é aquela velha conhecida que amamos: Django está lá, em seu caminho de retribuição, e seu alvo é The King, interpretado com uma imponência seca por Tomas Arana. Arana tem aquela presença de vilão de faroeste clássico, o tipo que você já odeia antes mesmo dele abrir a boca. E entre eles, um punhado de rostos familiares para quem acompanha o cinema italiano, como Michael Segal no papel de Tomas e Ottaviano Dell’Acqua como Frankye, que trazem a vitalidade necessária para o submundo de bandidos e pistoleiros. Dá pra sentir o cheiro de pólvora e suor só de pensar na dinâmica desses personagens.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Claudio Del Falco |
| Roteirista | Claudio Del Falco |
| Elenco Principal | Claudio Del Falco, Tomas Arana, Michael Segal, Ottaviano Dell'Acqua, Fabio Romagnolo, Anna Rita Del Piano, Massimiliano Buzzanca, Mauro Aversano, Clara Guggiari, Stefano Tricarico |
| Gênero | Faroeste |
| Ano de Lançamento | 2024 |
| Produtoras | Saturnia Pictures, Minerva Pictures, Roswellfilm |
Falando em Del Falco como Django, é impossível não notar a intensidade que ele imprime. Não é um Django que busca copiar Franco Nero; ele tem sua própria aura, um misto de peso e agilidade que o distingue. Ele não fala muito – e nem precisa. O olhar, a maneira como ele maneja a arma, o silêncio pesado que o cerca, tudo isso já conta uma história. É uma performance que se apoia mais na fisicalidade e na expressão contida, uma decisão que, para mim, reverbera com a essência dos heróis taciturnos que tanto amamos. E é interessante ver como sua visão como diretor se reflete na sua própria atuação, como se ele estivesse esculpindo o personagem em tempo real na tela.
A produção, com Saturnia Pictures, Minerva Pictures e Roswellfilm a bordo, dá a este faroeste a textura que esperamos. Aqueles planos abertos, a fotografia que valoriza a aridez da paisagem, a trilha sonora que ecoa os temas clássicos enquanto tenta forjar sua própria identidade – tudo isso está lá. É uma tentativa sincera de homenagear um gênero que, por vezes, parece ter sido esquecido por Hollywood, mas que vive e respira nas mãos de cineastas europeus que ainda o amam com fervor.
Agora, a parte que me dói um pouco, e sei que você, leitor brasileiro, vai me entender: o filme foi lançado em 22 de abril de 2024 lá fora. Já estamos em 30 de setembro de 2025. E no Brasil? Nada. N/A. Zero. É frustrante, não é? Ver um filme com essa proposta, com esse pedigree de spaghetti western, e não ter a chance de vê-lo na nossa tela, seja no cinema ou em alguma plataforma. É como saber que tem um banquete delicioso acontecendo e você não foi convidado. É um testamento à barreira que muitas produções independentes ou de nicho enfrentam para cruzar fronteiras, especialmente para um mercado tão vasto e sedento como o nosso.
Django Undisputed não é apenas um faroeste; é uma declaração de amor e um esforço para manter vivo um legado. É o tipo de filme que nos faz questionar sobre o que é essencial nesse gênero. É a vingança? É a solidão do herói? É a paisagem desoladora? Del Falco parece dizer que é tudo isso, e mais um pouco. Ele se arrisca a ser “o” Django de sua geração, ou pelo menos um deles. E se ele consegue ser “incontestável” no título, isso fica para cada um decidir quando (e se) tiver a chance de vê-lo. O que eu sei é que a espera já é, por si só, uma pequena tortura digna de um bom faroeste. E eu, por aqui, continuo esperando. Com o chapéu na mão e a poeira nos olhos.




