O Apocalipse

O Apocalipse: Um Remake que Cai do Céu (ou, melhor dizendo, do Pára-Quedas)

Onze anos se passaram desde que O Apocalipse fez sua aterrissagem turbulenta nas telonas brasileiras, em 23 de outubro de 2014. Na época, a promessa de Nicolas Cage enfrentando o arrebatamento me pareceu irresistível. A realidade, porém, foi bem menos emocionante que o trailer. Revisitando o filme agora, em 23 de setembro de 2025, minha opinião continua… bem, complexa.

O longa acompanha Chloe, que, após uma briga com a mãe religiosa Irene, decide visitar seus pais. O reencontro com o pai, Rayford, piloto de avião, se torna um prenúncio de eventos apocalípticos quando, durante o voo, um acontecimento global abrupto se desenrola: milhões de pessoas desaparecem. A partir daí, acompanhamos as consequências desse evento catastrófico, vista através dos olhos da família Steele e seus arredores. A sinopse não entrega muito, mas acredite, a experiência de assistir é tão imprevisível quanto o próprio desaparecimento. Imprevisível no sentido de “surpreendentemente ruim”.

Vic Armstrong, um nome respeitado na área de direção de segunda unidade e efeitos especiais (e que dirigiu o icônico “Indiana Jones e a Última Cruzada”), se mostra aqui completamente deslocado. A direção é fria, sem a energia frenética que se esperaria de um filme sobre o fim dos tempos. As cenas de ação são genéricas e mal coreografadas, deixando a desejar em termos de impacto. O roteiro de Paul Lalonde e John Patus é outro problema. Ele tenta equilibrar suspense, ação e drama familiar, mas fracassa miseravelmente em todos os três. Os diálogos são insossos, as motivações dos personagens pouco convincentes e o desenvolvimento da trama é apressado e superficial. A tentativa de explorar o tema religioso se resume a diálogos expositivos e clichês, sem profundidade teológica ou dramática.

As atuações são tão inconsistentes quanto o resto do filme. Nicolas Cage, apesar de seu carisma inegável, parece estar em piloto automático, entregando uma performance sem brilho. Lea Thompson, Chad Michael Murray e o restante do elenco também não conseguem salvar o filme de seu destino: o esquecimento. Até mesmo Martin Klebba, que geralmente traz uma energia contagiante aos seus papéis, aqui fica perdido em meio ao roteiro sem inspiração.

Embora os efeitos especiais não sejam totalmente desastrosos, considerando o contexto da produção, eles não se sustentam e contribuem pouco para o que deveria ser a imersão na escala global do acontecimento. A grande falha, porém, não reside apenas na parte técnica. O filme falha em nos conectar emocionalmente com os personagens e suas reações frente ao apocalipse. A falta de desenvolvimento e a superficialidade narrativa tornam a experiência totalmente vazia.

O filme parece tão perdido quanto seus personagens, sem conseguir se decidir se quer ser um thriller de ação, um drama familiar ou um estudo sobre fé. O resultado é uma confusão narrativa que termina por não entregar nenhuma dessas propostas. O tema do arrebatamento, tão rico em potencial dramático e temático, é completamente desperdiçado.

Conclusão: O Apocalipse (2014) é um exemplo perfeito de como um bom elenco e uma premissa intrigante não são garantia de um bom filme. A direção apática, o roteiro fraco e as atuações sem inspiração resultam em um longa-metragem esquecível e decepcionante. A menos que você seja um colecionador ávido de filmes com Nicolas Cage ou possua uma curiosidade mórbida por filmes que conseguiram transformar uma premissa tão fascinante em algo tão insosso, recomendo fortemente que você poupe seu tempo (e seu streaming). Melhor assistir a qualquer outra adaptação cinematográfica do “arrebatamento”. Até um filme de terror B seria mais interessante. Avaliação: 2 de 5 estrelas.