Faz um tempo já, não é? Quase um ano e meio se passaram desde que Madame Teia teceu sua primeira trama nas telas brasileiras, lá em fevereiro de 2024. E, para ser sincero, eu ainda me pego pensando nele. Sim, eu sei. Eu vejo os murmúrios online, os comentários sobre a recepção… aquele “Ouch, that average rating!” ecoa por aí, e não vou mentir, às vezes me sinto como se estivesse confessando um prazer culposo ao dizer que, bem, eu genuinamente me diverti. Talvez eu devesse manter essa informação em segredo, mas a gente que respira cinema sabe que a experiência é algo muito pessoal, e eu não sou de fugir de uma boa conversa sobre o que nos move numa sala escura.
O que me puxa de volta a Madame Teia não é só a teia intrincada de paradoxos temporais e destinos. É a própria essência de uma história de origem que, de certa forma, se atreve a ser um pouco diferente. No coração da vibrante e caótica Nova York dos anos 2000, conhecemos Cassandra Webb (uma Dakota Johnson que, para mim, entrega uma performance surpreendentemente vulnerável e forte). Ela é uma paramédica, uma heroína do cotidiano que vive à beira do precipício, salvando vidas em Manhattan com uma dedicação quase robótica, como se uma parte dela estivesse sempre em guarda, sempre um passo à frente da dor.
Mas a vida, como um daqueles acidentes de trânsito que ela tanto via, tem um jeito de nos virar do avesso. Depois de sobreviver a um evento terrível, Cassandra começa a sentir o mundo de uma forma completamente nova. Não é só a sirene de uma ambulância distante ou o cheiro da poluição urbana; é uma clareza perturbadora, uma clarividência que a joga em visões do futuro. É como se, de repente, ela pudesse ver os nós de uma teia invisível que conecta todos, antecipando os puxões e rupturas antes que eles aconteçam. Imagina o peso disso, ver a linha fina que separa o presente do futuro se esticando e tremendo diante dos seus olhos, saber o que está por vir, mas nem sempre conseguir mudar.
Essa nova habilidade a força a encarar não apenas o futuro, mas também as revelações mais obscuras e dolorosas de seu próprio passado. E é aqui que o filme de S.J. Clarkson – que não só dirige com uma sensibilidade interessante para o drama humano por trás do super-poder, mas também co-escreve o roteiro com Claire Parker, Burk Sharpless e Matt Sazama – realmente ganha corpo. Cassandra se vê ligada a três jovens: Julia Cornwall (Sydney Sweeney), Anya Corazón (Isabela Merced) e Mattie Franklin (Celeste O’Connor). Três adolescentes, cada uma com sua própria complexidade, destinadas a futuros poderosos, mas que precisam, antes de tudo, sobreviver a um presente mortal.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | S.J. Clarkson |
Roteiristas | S.J. Clarkson, Claire Parker, Burk Sharpless, Matt Sazama |
Produtor | Lorenzo di Bonaventura |
Elenco Principal | Dakota Johnson, Sydney Sweeney, Isabela Merced, Celeste O'Connor, Tahar Rahim |
Gênero | Ação, Fantasia |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Columbia Pictures, di Bonaventura Pictures |
O antagonista, Ezekiel Sims (Tahar Rahim, que sempre traz uma intensidade hipnotizante aos seus papéis), é esse fio solto do passado de Cassandra, um caçador implacável que as persegue, movido por uma visão distorcida de sua própria sobrevivência. A cena inicial, ambientada na selva peruana com uma mulher grávida em busca de uma aranha rara, é a semente de tudo, o ponto zero que estabelece a conexão primordial com essa força aracnídea que permeia a história. É um toque interessante, um prelúdio místico para um universo que normalmente associamos a arranha-céus e luzes de neon.
O que Madame Teia faz, e o que talvez o torne um pouco polarizador, é que ele não se encaixa perfeitamente na caixa do “filme de super-herói tradicional”. É uma história de origem, sim, mas com uma pulsação diferente. Não é sobre músculos e explosões a todo custo, mas sobre o fardo da precognição, sobre a difícil dança entre destino e livre arbítrio. As visões de Cassandra são retratadas de uma forma que te imerge no pânico e na urgência dela, como se você mesmo estivesse tentando decifrar o futuro em flashes desordenados. Há buracos na trama? Provavelmente. Qual filme complexo de fantasia não os tem? Mas a energia, a forma como as personagens se desenvolvem e o relacionamento entre essas quatro mulheres se solidifica sob pressão, é, para mim, o verdadeiro motor.
A química entre Dakota Johnson e o trio de jovens atrizes é palpável. Cada uma delas traz uma nuance para suas adolescentes, evitando os estereótipos unidimensionais. Você sente a fragilidade e a força em Julia, a resiliência em Anya, e a efervescência em Mattie. É uma exploração da irmandade, da responsabilidade que vem com o poder, e da beleza de encontrar sua família nos lugares mais inesperados. A direção de S.J. Clarkson, com seu olhar apurado para a emoção, consegue equilibrar o espetáculo da fantasia com a intimidade dos dramas pessoais.
Então, sim, talvez a nota média não seja das mais altas, e o burburinho inicial tenha sido… misto. Mas Madame Teia tem algo a dizer, uma história sobre destino, sobre a complexidade da escolha e sobre como, às vezes, a maior superpotência é a capacidade de ver além do que está imediatamente à nossa frente, e a coragem de tentar mudar o curso das coisas, mesmo quando tudo parece predeterminado. É um filme que, apesar de suas imperfeições, me manteve entretido e, mais importante, me fez pensar. E para mim, em um mar de produções que se esquecem de nos fazer sentir, isso já é uma vitória e tanto.