A Estranha Perfeita

Se você, como eu, tem um fascínio inegável por thrillers psicológicos que se aventuram pelos cantos mais obscuros da identidade e da tecnologia, então provavelmente se deparou, em algum momento, com A Estranha Perfeita. Lançado em 2007, em uma época onde a internet ainda era um território um pouco mais selvagem e menos colonizado pelas redes sociais como as conhecemos hoje, este filme me puxa de volta para uma reflexão sobre a confiança, o disfarce e os perigos do anonimato digital. E, honestamente, é o tipo de filme que, mesmo com suas arestas, me faz questionar: o quão bem realmente conhecemos as pessoas atrás das telas?

A premissa é um chamariz e tanto. Rowena Price, interpretada com uma intensidade palpável por Halle Berry, é uma repórter investigativa que carrega nas costas não só a ética da profissão, mas também o peso da perda recente de uma amiga. A busca por justiça, ou talvez por uma espécie de expiação pessoal, a leva a Harrison Hill (Bruce Willis), um executivo de publicidade tão poderoso quanto charmoso e, aparentemente, um poço de segredos. É aí que a dança das identidades começa, uma teia de disfarces tão complexa que me faz pensar nos malabarismos emocionais que Rowena deve ter enfrentado.

Rowena se joga de cabeça em um plano com a ajuda de Miles Haley, vivido por um Giovanni Ribisi que consegue infundir uma aura de mistério e uma pitada de estranheza no personagem. Ela se torna Katherine, uma funcionária temporária na agência de Hill, espiando-o de perto, e, simultaneamente, Veronica, uma figura sedutora que flerta com ele pela internet. É um jogo duplo que, para mim, ilustra perfeitamente a dualidade da vida online: a capacidade de ser quem você quiser, para o bem ou para o mal. A sedução digital aqui não é apenas um método, mas uma arma.

E falando em personagens, Bruce Willis entrega um Harrison Hill que é o epítome do homem egotistical e assertive. Seus olhos, muitas vezes, brilham com uma frieza cruel, deixando a gente em dúvida se ele é apenas um playboy metido ou um predador perigoso. O roteiro brinca com a ideia de um sex scandal, usando Hill como o alvo principal, e a performance de Willis nos faz oscilar entre o ódio e uma certa compreensão distorcida de seu caráter. A cada nova interação, a tensão entre ele e Rowena se torna mais dramatic e tense, quase palpável na tela.

AtributoDetalhe
DiretorJames Foley
RoteiristaTodd Komarnicki
ProdutoraElaine Goldsmith-Thomas
Elenco PrincipalHalle Berry, Bruce Willis, Giovanni Ribisi, Richard Portnow, Gary Dourdan
GêneroThriller, Crime, Mistério
Ano de Lançamento2007
ProdutoraRevolution Studios

O que me prende de verdade em A Estranha Perfeita é essa exploração de quem somos quando ninguém está olhando, ou quando estamos deliberadamente nos escondendo. A staging das diferentes personas de Rowena, o cuidado com os detalhes de cada disfarce, é fascinante. Mas o filme não para por aí. A grande sacada, e que o título já nos dá um indício, é que Rowena logo percebe que não é a única a trocar de máscaras. E é essa reviravolta que joga a narrativa para um patamar de mistério que, para ser sincero, me deixou incredulous em alguns momentos, mas suspenseful em outros.

O roteiro de Todd Komarnicki, por sua vez, é um labirinto que promete reviravoltas imprevisíveis, e muitas delas entregam um soco no estômago. Mas, sejamos honestos, como um bom jogo de xadrez que de repente introduz uma peça mágica, algumas dessas manobras narrativas testam os limites da verossimilhança, esticando a lógica a ponto de você se pegar com a testa franzida em incredulidade. É aqui que o filme se divide, como bem apontado em algumas críticas da época. Há quem ache que as ideias são “meio-prontas” e que a execução se perde, e há quem celebre a engenhosidade das viradas. Eu me coloco no meio-termo: admiro a audácia, mesmo quando ela esbarra no improvável.

A direção de James Foley, que já nos deu thrillers memoráveis, mantém um ritmo que, na maior parte do tempo, é envolvente. Ele constrói uma atmosfera foreboding, onde cada e-mail, cada encontro casual, parece carregar um segredo mais profundo. A forma como ele utiliza os ambientes – o brilho frio dos escritórios de publicidade, a escuridão ambígua do mundo online – complementa a narrativa de decepção.

Em 2025, ao revisitar A Estranha Perfeita, penso em como ele serve como uma espécie de conto cautionary sobre a fragilidade da identidade na era digital. Quem é o verdadeiro psychotic na história? É o assassino, é aquele que manipula, ou talvez seja a própria ferramenta que permite essa manipulação? A sensação de culpa que persegue Rowena se transforma em uma força motriz, mas a jornada dela é um lembrete vívido de que buscar a verdade em um mundo de aparências pode ser mais perigoso do que imaginamos.

No fim das contas, A Estranha Perfeita é um filme que me provoca. Ele tem seus tropeços, sim, e o desfecho pode parecer rushed para alguns, mas a viagem é cheia de adrenalina e questionamentos. Não é uma obra-prima unânime, mas é uma peça intrigante no quebra-cabeça dos thrillers dos anos 2000, um filme que, com suas camadas de enraged emoções e reviravoltas, ainda me faz pensar sobre a estranha perfeição das mentiras que contamos, especialmente para nós mesmos, no vasto e anônimo oceano da internet.

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