Carcereiros: Um drama visceral que ainda ecoa em 2025
Seis anos se passaram desde que “Carcereiros” estreou nos cinemas brasileiros em 28 de novembro de 2019, e a obra de José Eduardo Belmonte continua a me assombrar. Não se trata de um filme fácil, daqueles que você assiste e esquece. É um retrato cru e visceral da realidade carcerária brasileira, um mergulho na alma humana em suas profundezas mais sombrias e, paradoxalmente, em suas mais nobres capacidades de resiliência. A trama acompanha Adriano, um carcereiro íntegro e avesso à violência, que luta para manter a ordem em um presídio tomado por disputas entre facções e pela chegada de Abdel, um perigoso terrorista internacional. A vida pessoal de Adriano, marcada por dilemas familiares, apenas intensifica a tensão já palpável em cada cena.
A direção de Belmonte é impecável. Ele conduz a narrativa com maestria, alternando momentos de suspense sufocante com outros de intensa dramaticidade, sem jamais perder o controle da atmosfera claustrofóbica que permeia todo o longa. A câmera, muitas vezes posicionada em pontos estratégicos, nos coloca dentro do presídio, participando ativamente do caos e da angústia que o cercam. A trilha sonora, discreta mas eficaz, reforça a tensão e a urgência das situações.
O roteiro, assinado por uma equipe de peso – Marcelo Starobinas, Dennison Ramalho, Fernando Bonassi e Marçal Aquino –, é um primor. A construção dos personagens é rica e complexa, sem maniqueísmos. Não há mocinhos perfeitos nem vilões unidimensionais. Todos são pessoas com suas próprias motivações, fraquezas e dilemas, o que confere uma profundidade incomum ao enredo. A escolha de abordar a temática da corrupção dentro do sistema prisional, em suas diversas facetas, é corajosa e necessária, mesmo que desconfortável.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | José Eduardo Belmonte |
| Roteiristas | Marcelo Starobinas, Dennison Ramalho, Fernando Bonassi, Marçal Aquino |
| Produtores | Caio Gullane, Fabiano Gullane, Ana Gabriela, Cadu Ciampolini, Fernando Grostein Andrade |
| Elenco Principal | Rodrigo Lombardi, Jackson Antunes, Bianca Muller, Tony Tornado, Milton Gonçalves |
| Gênero | Drama, Crime |
| Ano de Lançamento | 2019 |
| Produtora | Globo Filmes |
As atuações são impecáveis. Rodrigo Lombardi entrega uma performance contida, mas intensa, como o carcereiro Adriano, mostrando a fragilidade por trás da aparente força. Jackson Antunes, como o Coronel Moreira, é a personificação da autoridade opressora e da moral duvidosa. Bianca Muller, Tony Tornado e Milton Gonçalves complementam o elenco com interpretações convincentes, adicionando camadas de complexidade à trama.
Um dos pontos fortes do filme é sua capacidade de explorar temas complexos como a violência, a corrupção, a justiça e a busca pela redenção. Ele não oferece respostas fáceis, mas sim levanta questionamentos que nos acompanham muito tempo depois dos créditos finais. A mensagem implícita, porém pungente, é a de que a monstruosidade do sistema prisional muitas vezes espelha a monstruosidade da própria sociedade.
Porém, nem tudo são flores em “Carcereiros”. A violência explícita pode incomodar alguns espectadores, e o ritmo do filme, apesar de bem conduzido, pode parecer lento para quem busca ação frenética. Algumas subtramas poderiam ter sido melhor exploradas, deixando um leve gostinho de “quero mais”.
Apesar desses pequenos defeitos, “Carcereiros” se mantém como um filme impactante e memorável. Para mim, ultrapassa a barreira do entretenimento puro e se coloca como uma obra de arte que provoca reflexão e incita o debate sobre temas cruciais da sociedade brasileira. Recomendo fortemente a todos que se interessem por dramas pesados, com atuações de primeira linha e uma trama que não se esquece facilmente. Se você aprecia filmes que te deixam pensando dias depois, “Carcereiros” é uma experiência imperdível, que você pode encontrar facilmente em plataformas digitais seis anos depois de seu lançamento.




