Amsterdam: Uma Comédia Amarga Sobre o Fim de um Amor (e a Custódia de um Cachorro)
Três anos se passaram desde que a HBO Latin America nos presenteou com Amsterdam, e ainda hoje a série me acompanha, não como uma melodia insistente, mas como um eco suave de risos contidos e melancolia bem-humorada. A premissa é simples, quase minimalista: Nadia e Martín, um casal que se esgotou, se prepara para a separação, mas um obstáculo inusitado surge: Amsterdam, o pequeno cão que resgatados da rua e se tornou o centro de uma batalha inesperada. A série não é sobre a separação em si, mas sobre o que resta após o fim, as marcas e cicatrizes que um relacionamento longo deixa, e a dificuldade de se reinventar quando tudo que se conhece se desfaz.
A direção de Gustavo Taretto tem uma delicadeza surpreendente. A câmera observa os personagens com uma certa distância, permitindo que o público decifre suas emoções por meio de expressões sutis e silêncios carregados. Não há grandes planos elaborados ou movimentos de câmera frenéticos; a força da série reside na sutileza, na construção gradual da tensão e da comédia que brota do desconforto. O roteiro, embora não inovador na estrutura, se destaca pela construção dos diálogos, recheados de ironia e sarcasmo, que refletem a acidez da situação e a fragilidade dos personagens. A escolha dos atores também foi certeira. Sebastián Buitrón e Naian González Norvind entregam performances realistas e tocantes, transmitindo a complexidade de um amor que se desfaz sem perder a humanidade. O apoio de um elenco secundário competente, incluindo María Evoli, Danae Reynaud e Marcelo Subiotto, enriquece ainda mais a narrativa, adicionando nuances e conflitos que complementam a história central.
Um dos pontos fortes da série reside na sua capacidade de equilibrar o drama com o humor. Os momentos de comédia são pontuais, nunca forçados, e surgem naturalmente das situações absurdas que o casal enfrenta em sua luta pela custódia de Amsterdam. Este equilíbrio é crucial, evitando que a série caia na armadilha do melodrama excessivo. Por outro lado, a série peca um pouco na sua previsibilidade. Apesar das nuances dos personagens, o arco narrativo é relativamente previsível, o que poderia ter sido amenizado com um desenvolvimento mais audacioso da trama secundária.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Gustavo Taretto |
| Elenco Principal | Sebastián Buitrón, Naian González Norvind, María Evoli, Danae Reynaud, Marcelo Subiotto |
| Gênero | Drama, Comédia |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | HBO Latin America, Cimarrón Cine |
Amsterdam explora temas universais como o amor, a perda, a solidão e a busca pela identidade. A mensagem principal, no entanto, é a de que os finais nem sempre são tristes. A separação, embora dolorosa, pode ser o início de um novo capítulo, uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento pessoal. A luta pela custódia de Amsterdam se torna, portanto, uma metáfora para a luta pela recuperação da individualidade.
No final das contas, Amsterdam é uma série pequena, mas profundamente humana. Não é uma obra-prima revolucionária, mas sim uma narrativa honesta e bem-feita, capaz de tocar o coração de quem já passou por uma separação ou entende a complexidade das relações interpessoais. Recomendo a série a quem busca uma comédia dramática leve, porém reflexiva, sem grandes pretensões, mas com um charme peculiar e personagens memoráveis. Um final feliz para um casal, talvez não, mas um final honesto e aceitável, com certeza.



