Meu Deus, que filme! “Eu Sou Viciado em Sexo”, de 2005, um longa-metragem que eu só vi agora, em 2025, me deixou com uma mistura de incômodo, risadas e uma estranha sensação de admiração. É uma obra tão bizarramente honesta, tão crua em sua exploração da autodestruição, que é impossível ignorar. Caveh Zahedi, diretor, roteirista e protagonista, nos apresenta uma versão (supostamente) autobiográfica de sua luta contra a dependência sexual, focada principalmente em seus encontros com prostitutas. A narrativa é fragmentada, não-linear, um reflexo talvez da própria mente fragmentada do personagem principal.
Um Espelho Distorcido (mas Honesto)
Zahedi, como diretor, opta por um estilo que se assemelha a um diário cinematográfico, com cenas caseiras, improvisos e um tom quase documental. Essa abordagem, embora às vezes soe amadorística, contribui para a veracidade brutal do filme. Não estamos diante de uma produção hollywoodiana, polida e impecável. Estamos diante de um homem nu, tanto metaforicamente quanto em algumas cenas, expondo sua vulnerabilidade, seus demônios. O roteiro, também escrito por Zahedi, é desconcertante, mas funcional. A estrutura não-linear reforça a ideia de uma mente atormentada, lutando para encontrar sentido em suas ações.
As atuações são, digamos, peculiares. Zahedi se entrega completamente ao papel, sem se preocupar com o que os críticos possam pensar (o que é, em si, uma atitude admirável). As atrizes que interpretam as prostitutas têm momentos convincentes, embora a maioria dos seus papéis seja relativamente curto e sirva mais como um elemento propulsor da narrativa de Zahedi. Não há grandes performances de premiação aqui, mas há uma autenticidade que supera qualquer técnica impecável.
Pontos Fortes e Fracos: Uma Equação Complexa
A honestidade brutal é, sem dúvida, o maior trunfo do filme. É raro encontrar uma obra tão franca sobre um tema tão tabu. A maneira como Zahedi explora a sua própria culpa e as consequências de seus atos – a destruição de relacionamentos, a solidão profunda – é comovente, apesar de toda a bizarrice da situação. O humor, por outro lado, é um ponto mais polêmico. O humor negro e autodepreciativo funciona em alguns momentos, mas em outros se torna excessivo, quase desagradável.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Caveh Zahedi |
Roteirista | Caveh Zahedi |
Produtores | Thomas Logoreci, Caveh Zahedi, Greg Watkins |
Elenco Principal | Caveh Zahedi, Rebecca Lord, Valentine Fillol-Cordier, Alexandra Guerineaud, Anastasia Gershman |
Gênero | Comédia, Romance |
Ano de Lançamento | 2005 |
Produtora | Reinventing the Wheel |
A fragmentação narrativa, que citei como um elemento positivo, também pode ser vista como um ponto fraco. Algumas sequências são confusas e, para um espectador menos paciente, podem tornar a experiência frustrante. O filme também carece, em alguns momentos, de uma direção visual mais forte. A câmera muitas vezes parece passiva, apenas registrando os eventos, sem adicionar muito significado visual à história.
Sexo, Casamento e a Busca por Sentido
“Eu Sou Viciado em Sexo” não é apenas uma comédia sobre sexo; é uma exploração profunda da solidão, da busca por validação e do impacto devastador da dependência. O filme questiona as convenções sociais sobre casamento, relacionamento e sexualidade, apresentando uma perspectiva crua e desconfortável, mas profundamente humana. A prostituição é retratada com um realismo sem rodeios, longe de qualquer glamorização. O filme explora as dinâmicas de poder e a complexidade das relações humanas em suas nuances mais escuras.
Conclusão: Um Filme Incômodo, Mas Essencial
Eu não recomendaria “Eu Sou Viciado em Sexo” para todos. É um filme difícil, às vezes desconcertante, que exige paciência e disposição para se confrontar com temas perturbadores. Mas para aqueles que buscam cinema autêntico, ousado e que foge dos padrões hollywoodianos, este é um longa-metragem imperdível. É uma obra que, apesar de suas falhas, provoca reflexões profundas sobre autodestruição, dependência e a busca incessante por significado em um mundo que, muitas vezes, parece não oferecê-lo. Acho que este filme terá, sim, o seu lugar na história do cinema independente, seja pela sua honestidade crua, seja por seu caráter incomum. Vale a pena buscá-lo em plataformas digitais e formar sua própria opinião. A experiência, garanto, será inesquecível (embora talvez não no sentido agradável do termo).