Passei por Aqui

Sabe, de vez em quando, a gente esbarra com um filme que se encaixa em algum lugar estranho na nossa memória. Não é um blockbuster que arrasta multidões nem aquele cult incompreensível que só um nicho de cinéfilos entende. É um meio-termo, algo que te pega de surpresa e, mesmo que não seja perfeito, te faz pensar. E é exatamente por isso que estou aqui hoje para falar sobre Passei por Aqui, lançado lá em 2022.

Eu sempre tive uma quedinha por thrillers que cutucam feridas sociais, filmes que usam a adrenalina não só pra te deixar na ponta da cadeira, mas também pra te fazer questionar umas coisas mais profundas sobre o mundo em que vivemos. E Passei por Aqui, dirigido por Babak Anvari, que já nos deu o claustrofóbico “Sob a Sombra”, prometia exatamente isso: um prato cheio de crime e suspense com um tempero de comentário social.

A premissa é instigante, não é? Toby, vivido com uma intensidade quase febril por George MacKay – um ator que, para mim, tem se mostrado uma força da natureza no cinema britânico –, é um grafiteiro. Mas não um grafiteiro qualquer. Ele mira as mansões dos ricos, deixando sua marca em forma de protesto, um Passei por Aqui (ou “I Came By”, como o título original insinua) que é mais do que só tinta em uma parede; é um lembrete de que, mesmo nas fortalezas da opulência, alguém pode entrar, ver, e perturbar a paz. Ele e seu parceiro, Jay (Percelle Ascott, que traz uma química palpável com MacKay), agem como Robin Hoods modernos, mas sem a parte de roubar para dar aos pobres, mais focados em uma espécie de vigilância moral.

O problema, ou talvez o ponto de virada genial do filme, é quando essa brincadeira de gato e rato com os super-ricos toma um rumo sombrio. Quando Toby decide invadir a casa de Hector Blake (um Hugh Bonneville que, sinceramente, nunca vi tão assustador), um juiz aposentado e figura respeitada na sociedade, ele tropeça em algo que nenhum grafiteiro deveria encontrar: um segredo que é podre até a medula. Não é só uma sala escondida, um porão escuro; é um abismo de maldade que se abre sob os pés de Toby, e a partir daí, as consequências se desdobram de uma forma que me deixou grudado na tela, com a respiração suspensa, quase querendo gritar para os personagens recuarem.

Atributo Detalhe
Diretor Babak Anvari
Roteiristas Namsi Khan, Babak Anvari
Produtor Lucan Toh
Elenco Principal George MacKay, Percelle Ascott, Kelly Macdonald, Varada Sethu, Franc Ashman, Anthony Calf, Hugh Bonneville, Marilyn Nnadebe, Antonio Aakeel, Paddy Wallace
Gênero Crime, Thriller
Ano de Lançamento 2022
Produtoras XYZ Films, Two & Two Pictures, Film4 Productions, New Regency Pictures, New Regency Productions

E aqui, preciso ser honesto, é onde o filme começa a mostrar suas camadas mais complexas. Manuel São Bento, em sua crítica, tocou num ponto crucial: a “interessante exploração de economias opostas”. De fato. O filme não pinta a elite como apenas “má” por ser rica, mas expõe como o poder e o dinheiro podem criar uma bolha de impunidade, onde as regras não se aplicam e os segredos podem ser enterrados indefinidamente. Hugh Bonneville, com sua atuação assombrosa – sim, assombrosa é a palavra –, personifica essa aura de intocabilidade. Ele não precisa gritar ou gesticular; é o silêncio, o olhar gelado, a calma calculista que emanam dele que te arrepiam. É um vilão que não precisa ser um monstro caricato para ser aterrorizante; ele é assustador porque é real, porque poderia estar lá fora, vivendo uma vida aparentemente normal.

Mas, como nem tudo são flores, e um bom crítico precisa abraçar as nuances, preciso falar do outro lado da moeda. A crítica de “Niko” menciona que, embora os atores em geral façam um trabalho decente, “a escrita e o enredo são infelizmente apenas absolutamente…” – e aqui, eu entendo onde ele quis chegar. Passei por Aqui é um filme que ousa quebrar algumas convenções narrativas, e nem todo mundo vai gostar disso. Em certos momentos, a trama toma direções inesperadas que podem frustrar quem busca uma progressão mais linear. Personagens que você esperava que fossem o epicentro da história de repente… não são mais. É uma aposta arriscada dos roteiristas Namsi Khan e Babak Anvari, uma forma de mostrar que ninguém está realmente seguro, que o perigo não escolhe protagonistas. Eu, particularmente, achei essa imprevisibilidade corajosa, ainda que um tanto desorientadora em alguns trechos. É como estar numa montanha-russa que de repente troca de trilho no meio do percurso – assustador, mas também excitante.

Kelly Macdonald, como Lizzie Nealey, a mãe de Toby, traz uma dimensão humana e desesperadora à história. Ela é a personificação da preocupação materna, da mulher comum arrastada para um pesadelo que não compreende. A sua jornada, de uma mãe tentando proteger o filho ativista a alguém que precisa enfrentar uma verdade brutal, é o coração emocional que pulsa em meio a tanta frieza e suspense. E é essa humanidade que me prendeu, a ideia de que um ato de rebeldia juvenil pode desenterrar algo que ameaça não só o indivíduo, mas todos ao seu redor.

No fim das contas, Passei por Aqui não é um filme perfeito. Tem suas imperfeições, seus momentos de enredo que talvez poderiam ter sido mais polidos ou explicados. Mas, e esse “mas” é importante, ele é um thriller que cumpre sua promessa de suspense e que, mais de três anos depois do seu lançamento, ainda me faz pensar sobre a fragilidade da justiça e a capacidade de maldade que se esconde sob a superfície polida da sociedade. É um convite a olhar além das fachadas, a questionar quem está realmente no comando e que preço pagamos por desenterrar segredos guardados a sete chaves. E você, teria coragem de pichar a casa de um juiz? Ou, talvez, a pergunta mais importante: o que você faria se descobrisse o que Toby descobriu? Essa é a reflexão que o filme de Anvari nos deixa, e para mim, isso já é uma vitória e tanto.

Trailer

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