Uma história em Montana

Sabe, há certas histórias que nos chamam, mesmo que ainda não tenham chegado por completo aos nossos olhos. É uma espécie de sussurro no vento, uma promessa de emoções que reverberam com algo bem lá no fundo. E confesso que, para mim, Uma história em Montana tem sido esse sussurro insistente. Não, o filme não desembarcou oficialmente por aqui no Brasil – uma pena, se me perguntam –, mas a premissa, as faces no elenco e, claro, a assinatura dos diretores Scott McGehee e David Siegel (que já nos entregaram joias como “What Maisie Knew”) me fizeram mergulhar nas entrelinhas, imaginando cada cena, sentindo cada pontada de um drama familiar que parece tão vasto quanto as próprias planícies de Montana.

Por que escrevo sobre um filme que muitos de nós ainda não vimos? Porque a arte, a boa arte, transcende barreiras geográficas e temporais. Ela nos oferece espelhos para nossas próprias vidas, nossas próprias cicatrizes. E Uma história em Montana promete ser um desses espelhos. Imagine só: dois irmãos, Cal (Owen Teague) e Erin (Haley Lu Richardson), afastados por anos, forçados a retornar ao rancho onde cresceram. Não é um retorno festivo, um abraço caloroso. Longe disso. É um mergulho forçado em um legado familiar amargo, um rio de mágoas represadas que precisa encontrar uma saída.

Os ranches do Velho Oeste, em sua vastidão mística, sempre foram cenários perfeitos para dramas humanos. Eles são lugares de trabalho duro, de solidão e de uma beleza que pode ser tanto inspiradora quanto opressora. E aqui, o rancho, o “nosso velho cavalo” – como as palavras-chave sugerem –, não é apenas um pano de fundo. Ele é um personagem em si, uma testemunha silenciosa das brigas, da violência doméstica, da hipoteca atrasada e, agora, da iminente partida de um pai que sucumbiu a um derrame. É um lugar que respira memórias, tanto doces quanto dolorosas, e que agora força Cal e Erin a confrontarem não apenas o outro, mas também quem eles se tornaram por causa daquele lar.

Owen Teague e Haley Lu Richardson, dois atores que vêm demonstrando um talento bruto e uma capacidade de transitar entre a vulnerabilidade e a resiliência, são a alma dessa trama. Você consegue quase ver o peso do ressentimento nos ombros de Cal, a defensividade de Erin, a forma como eles evitam o olhar um do outro, cada gesto carregado de uma história não contada, de uma dor não processada. Como eles vão mostrar as mãos tremendo, a voz embargada, sem precisar de um único diálogo para dizer “eu estou com raiva” ou “eu sinto sua falta”? É nessa entrega silenciosa, na dança entre o que é dito e o que é sentido, que a magia do cinema acontece. E com McGehee e Siegel na direção, a sutileza deve ser a palavra de ordem. Eles não são de martelar as emoções; preferem que elas surjam organicamente, como as ervas daninhas entre as tábuas do celeiro.

AtributoDetalhe
DiretoresScott McGehee, David Siegel
RoteiristasDavid Siegel, Scott McGehee
ProdutoresScott McGehee, Jennifer Roth, David Siegel
Elenco PrincipalOwen Teague, Haley Lu Richardson, Kimberly Guerrero, Gilbert Owuor, Eugene Brave Rock, Asivak Koostachin, Kate Britton
GêneroDrama, Faroeste
Ano de Lançamento2022
ProdutoraBig Creek Projects

A beleza desse “novo faroeste” não está apenas nas paisagens deslumbrantes de Montana, mas na forma como elas ecoam a turbulência interna dos personagens. A imensidão do céu, os vales profundos, as montanhas imponentes… tudo isso serve para amplificar a solidão dos irmãos, o tamanho do abismo entre eles. Mas também, talvez, a escala da esperança. Porque, no cerne dessa história, apesar de toda a dor e do legado amargo, estão as palavras-chave “perdão” e “reconciliação”. Será que é possível? Depois de tanto tempo, de tantas feridas abertas, de um pai moribundo que simboliza tanto o elo que os unia quanto a fonte de seus traumas, será que irmãos, ainda mais meios-irmãos, conseguem encontrar um caminho de volta um para o outro?

A vida, como a arte bem sabe, raramente oferece soluções em preto e branco. Existem camadas, nuances, contradições. E a luta de Cal e Erin, ao lado de personagens como Valentina (Kimberly Guerrero) e Ace (Gilbert Owuor), provavelmente nos mostrará isso. Não se trata de uma jornada linear para o perdão, mas de uma peregrinação acidentada, cheia de recaídas e de verdades incômodas que vêm à tona, talvez até na beira do leito de morte do pai.

Uma história em Montana me parece ser um daqueles filmes que nos fazem respirar mais fundo, pensar sobre nossos próprios laços familiares, as heranças que carregamos – não apenas as financeiras, mas as emocionais. É sobre o peso de um lar que foi amado e odiado, sobre a busca por um lugar onde possamos, finalmente, fazer as pazes com o passado para, quem sabe, ter um futuro. E é por isso que, mesmo sem a chance de vê-lo na sala de cinema mais próxima, sua história já ressoa em mim, esperando o dia em que poderei sentir em plenitude a poeira e o drama de Montana. Se você, como eu, valoriza uma narrativa que se aprofunda na alma humana sem medo da complexidade, essa é uma que vale a pena aguardar.

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