Gêmeo Maligno

Sabe, há certos filmes que, mesmo depois de algum tempo de sua estreia, insistem em ficar rondando a nossa mente. Eles não gritam por atenção como os blockbusters, mas sussurram, convidando a uma reflexão mais profunda sobre os abismos que a psique humana pode esconder. É o caso de Gêmeo Maligno (The Twin), um título que, desde seu lançamento em 2022, tem me provocado a revisitar suas camadas de terror e mistério. E, veja bem, não estamos falando de sustos fáceis, mas daquele tipo de assombro que se infiltra sob a pele, onde a dor é tão tangível quanto o próprio mal.

Quando me deparei com a sinopse – uma mulher traumatizada pela perda violenta de um dos seus gêmeos, tentando um recomeço em um lugar novo, mas descobrindo segredos que deveriam permanecer enterrados (duas vezes!) –, algo em mim já sentiu o calafrio. Afinal, a tragédia de uma criança é um prato cheio para o horror, e quando se trata de laços familiares, de algo tão visceral como a conexão entre irmãos gêmeos, a receita para o desespero é potencializada. A promessa de Gêmeo Maligno não era apenas nos assustar, mas nos fazer questionar até onde o luto e a culpa podem nos levar, e se há algo ainda mais sinistro por trás das cortinas da mente.

Rachel, interpretada com uma vulnerabilidade palpável por Teresa Palmer, é o coração – e a alma dilacerada – deste filme. A dor da perda de seu filho, que morreu tragicamente em um acidente de carro, é quase um personagem à parte. Sentimos o peso em seus ombros, a forma como ela se move pelo mundo, uma sombra de si mesma. A decisão de se mudar para a Finlândia, a terra natal de seu marido Anthony (Steven Cree), é um ato de desespero, uma tentativa de estancar a ferida em um cenário novo, vasto e, como logo percebemos, profundamente isolado. A Finlândia, com sua beleza gélida e florestas densas, transforma-se em um cenário tão opressor quanto libertador, quase um espelho do estado de espírito de Rachel. O silêncio daquele lugar, que deveria ser um bálsamo, torna-se um eco constante do seu trauma.

Mas é o filho sobrevivente, Elliot, vivido com uma intensidade impressionante pelo jovem Tristan Ruggeri, que começa a distorcer a realidade de Rachel. Aos poucos, Elliot demonstra um comportamento estranho, afirmando não ser ele, mas sim seu irmão falecido, Nathan. E aqui, o diretor Taneli Mustonen, que também assina o roteiro com Aleksi Hyvärinen, joga com maestria na ambiguidade. É o luto de Rachel se manifestando em alucinações? É a criança processando a perda de uma forma perturbadora? Ou há algo de verdadeiramente sobrenatural e malevolente em jogo? Essa é a dança que nos prende à tela, a tensão entre o terror psicológico e o horror mais explícito da possessão.

Atributo Detalhe
Diretor Taneli Mustonen
Roteiristas Taneli Mustonen, Aleksi Hyvärinen
Produtor Aleksi Hyvärinen
Elenco Principal Teresa Palmer, Steven Cree, Barbara Marten, Tristan Ruggeri, Andres Dvinjaninov
Gênero Terror, Mistério
Ano de Lançamento 2022
Produtora Don Films

A narrativa vai lentamente desvendando as camadas de um mistério que transcende a dor familiar. Os segredos que Anthony e sua mãe, Helen (Barbara Marten, enigmática e distante), parecem guardar a sete chaves sobre a história de sua família e da própria vila começam a se manifestar em rituais e símbolos que apontam para algo muito mais antigo e sombrio: um culto satânico. A ideia de que o “irmão morto” não está apenas ausente, mas presente de uma forma nefasta, sugere que o acidente não foi apenas uma fatalidade, mas talvez uma porta de entrada para uma entidade maligna.

Teresa Palmer, como eu disse, carrega o filme nas costas. Ela nos convence de sua fragilidade e, ao mesmo tempo, de sua determinação em desvendar a verdade, mesmo que essa verdade ameace estilhaçar sua sanidade. Ela não apenas chora; ela encarna o desespero, a confusão e a paranoia de uma mãe confrontada com o impensável. Steven Cree, por sua vez, navega o papel de um marido que parece compreensivo, mas que guarda seus próprios segredos, adicionando uma camada extra de desconfiança à trama.

O ritmo do filme, construído com frases que se estendem como as sombras nas florestas finlandesas, alternando com cortes abruptos que nos despertam do torpor, é um acerto. Mustonen nos imerge na atmosfera de melancolia e ameaça. Ele não apressa as coisas, permitindo que a sensação de desconforto se construa gradualmente. E é nesse mergulho lento que percebemos a complexidade dos temas abordados: a fragilidade da mente humana diante do trauma, a possessão não apenas física, mas da alma, e a terrível verdade de que, às vezes, a tentativa de enterrar um segredo apenas o fortalece, fazendo-o ressurgir com uma força ainda maior.

Gêmeo Maligno não é o terror que te faz pular da cadeira a cada dez minutos, mas sim aquele que te deixa inquieto, que faz você pensar sobre o que realmente significa perder uma parte de si e se essa parte pode, de alguma forma, voltar para te assombrar. É um filme que, talvez, tenha passado despercebido para alguns em sua estreia no Brasil, mas que merece ser descoberto por quem busca um mistério sombrio com toques de horror sobrenatural, ambientado em um cenário que é, por si só, um personagem marcante. É um lembrete de que nem todo recomeço é uma cura, e que alguns demônios, sejam eles internos ou externos, precisam ser confrontados, não apenas enterrados. E que, às vezes, a verdade é tão aterrorizante que preferimos a loucura à sua aceitação.

Trailer

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