Deus Não Está Morto: Uma Fé à Prova de Argumentos (ou não?)
Onze anos se passaram desde que Deus Não Está Morto estreou nos cinemas brasileiros em 21 de agosto de 2014. Na época, lembro-me de uma avalanche de opiniões, a maioria polarizada entre fervorosos elogios e críticas implacáveis. De certa forma, a produção se tornou um fenômeno cultural, um case de estudo sobre a interseção entre fé, cinema independente e marketing viral – que, diga-se de passagem, foi brilhante. Mas, olhando para trás, em 2025, o que resta além da polêmica?
O longa acompanha Josh Wheaton, um estudante universitário que precisa defender sua fé cristã em um debate com seu professor de Filosofia, o cético Mr. Radisson. A partir daí, a narrativa explora a jornada espiritual de Josh e de outros personagens cujas vidas são tocadas por questões de fé e descrença. A premissa é simples, direta, sem grandes rodeios. A trama, no entanto, se estende além do debate central, abrangendo os dilemas e as relações pessoais dos envolvidos.
A direção de Harold Cronk é funcional, sem ser memorável. Ele entrega exatamente o que se espera de um filme com esse tipo de orçamento e objetivo: uma narrativa linear e acessível. O roteiro de Cary Solomon, por outro lado, é o ponto mais fraco. Ele falha em construir personagens complexos, optando por arquétipos caricatos, o que contribui para a sensação de que estamos assistindo a uma peça de propaganda religiosa disfarçada de filme. As atuações seguem a mesma linha: Kevin Sorbo como Mr. Radisson se esforça para alcançar um nível de sofisticação intelectual que o roteiro não suporta, enquanto Shane Harper, como Josh, fica preso em um papel unidimensional. Não que faltem boas intenções, mas a falta de sutileza compromete a entrega da mensagem.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Harold Cronk |
Roteiristas | Cary Solomon |
Produtores | Anna Zielinski, David A.R. White, Russell Wolfe |
Elenco Principal | Kevin Sorbo, Shane Harper, David A.R. White, Dean Cain, Cassidy Gifford |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2014 |
Produtoras | Pure Flix Entertainment, Greg Jenkins Productions, Red Entertainment Group |
Os pontos fortes de Deus Não Está Morto residem em sua simplicidade e acessibilidade. Ele proporciona um ponto de partida para discussões sobre fé e razão, algo que acredito ter sido, no momento do lançamento, o seu principal objetivo. A capacidade do filme de gerar debates e promover discussões, apesar de sua simplicidade, é inegável. A mensagem, apesar de óbvia, pode ecoar em muitos espectadores que buscam uma representação de suas próprias crenças na tela.
Porém, os pontos fracos são gritantes e dificilmente podem ser ignorados. A abordagem maniqueísta, a falta de nuances na caracterização dos personagens, o didatismo exacerbado e, sim, o tom de proselitismo descarado tornam a experiência cinematográfica bastante frustrante para quem busca algo além de um reforço de convicções pré-existentes. A crítica, em 2014, foi bastante dividida e, olhando em retrospectiva, a frase “Christian propaganda trash” não está totalmente despropositada.
Deus Não Está Morto é um filme para um público específico. Recomendo-o apenas para aqueles que buscam uma narrativa religiosa simples e direta, sem a pretensão de uma obra-prima cinematográfica. Para os demais, sugiro buscar produções que explorem a temática da fé e da razão com maior profundidade e sutileza, fugindo dos arquétipos maniqueístas e do tom panfletário que o filme, inegavelmente, apresenta. Onze anos depois, o filme continua a suscitar debates, mas como experiência puramente cinematográfica, não passa de um exemplo mediano e previsível.