Fúria

Fúria: Um Grito Necessário na Teia Sombria da Extrema Direita

Houve um tempo, talvez ingênuo, em que a ideia de extremismo político era vista como algo distante, um ruído periférico na periferia da sociedade. Mas, como Fúria (originalmente “Rage” em inglês, ou “Furia” no seu título norueguês, mas a versão em português me ressoa mais, como um nó na garganta) nos lembrou tão visceralmente em seu lançamento em 2021, essa distância é uma ilusão perigosa. Quatro anos após sua estreia original, em 17 de setembro de 2025, esta série norueguesa continua a ser um soco no estômago, uma obra que não apenas entretém, mas provoca e, de certa forma, aterroriza com sua pertinência contínua.

A Teia Que Nos Enreda

Desde o primeiro episódio, Fúria nos joga em um redemoinho. A série acompanha Asgeir (Pål Sverre Hagen) e Ragna (Ine Marie Wilmann), dois indivíduos que, de maneiras distintas, se veem arrastados para uma intrincada rede de grupos e seguidores radicais de direita. O que começa em segredo e sussurros nos pitorescos fiordes da Noruega, rapidamente se escalona para uma jornada transnacional que os leva a Berlim, onde uma eleição decisiva na Alemanha serve de pano de fundo para as maquinações desses extremistas. A sinopse é simples, mas a execução é tudo, menos. É uma corrida contra o tempo, uma imersão em um mundo onde ideologias perigosas ganham força, e a linha entre o certo e o errado se torna assustadoramente tênue. Sem revelar demais, posso dizer que o perigo não vem apenas de um inimigo externo, mas da própria tentação de se perder na escuridão para combatê-la.

A Alma da Besta: Direção, Roteiro e Atuações

O que diferencia Fúria de outros dramas de crime é sua capacidade de transcender o gênero. Sim, há suspense, investigação e perseguições, mas o coração da série pulsa em um drama psicológico e político intensíssimo.

AtributoDetalhe
CriadorGjermund Stenberg Eriksen
DiretorMagnus Martens
RoteiristasEmbla Veier Bugge, Gjermund Stenberg Eriksen
Elenco PrincipalPål Sverre Hagen, Ine Marie Wilmann, Borys Szyc, Henrik Schyffert
GêneroDrama, Crime
Ano de Lançamento2021
ProdutorasMonster Scripted, X Filme International, Viaplay Studios, Paprika Studios

A direção de Magnus Martens é um espetáculo à parte. Ele usa a paisagem nórdica, ora deslumbrante, ora opressora, como um personagem em si. A transição visual da Noruega rural e aparentemente tranquila para a efervescência política de Berlim é magistral, espelhando a escalada da trama e a crescente sensação de claustrofobia. Martens não tem medo de mergulhar nos detalhes feios da ideologia extremista, mas o faz com uma sobriedade que evita a glamorização, preferindo o espelho à caricatura. Há uma tensão constante, uma sensação de que algo terrível está sempre à espreita, e a forma como ele constrói isso visualmente é impecável.

O roteiro, assinado por Embla Veier Bugge e Gjermund Stenberg Eriksen (que também é o criador da série), é de uma inteligência afiada. Ele não subestima a complexidade da ascensão do radicalismo de direita, mostrando como ele se infiltra, se nutre de medos e inseguranças, e se organiza em células perigosas. A trama é densa, cheia de reviravoltas que me fizeram duvidar de tudo e de todos, sem nunca parecer forçada. Os diálogos são cortantes, revelando camadas de preconceito, fanatismo e, em momentos de rara humanidade, desespero. Eles conseguiram equilibrar a grandiosidade da conspiração política com a intimidade das lutas pessoais de Asgeir e Ragna, algo que muitas séries falham em fazer.

E o que dizer do elenco? Pål Sverre Hagen como Asgeir é uma força da natureza. Sua performance é contida, mas exala uma vulnerabilidade e uma determinação que são palpáveis. Vemos a exaustão em seus olhos, o peso das decisões, e a forma como a teia em que ele se encontra o afeta profundamente. Ine Marie Wilmann, como Ragna, é igualmente impressionante. Ela traz uma intensidade e uma resiliência que a tornam uma contraparte perfeita para Asgeir, e a dinâmica entre os dois é um dos grandes trunfos da série. Borys Szyc, como Ziminov, é o tipo de vilão que você ama odiar – carismático, perigoso e totalmente imprevisível. E Henrik Schyffert, mesmo que eu não saiba o nome de seu personagem aqui, geralmente entrega performances memoráveis, e não seria diferente nesta obra. A profundidade emocional que o elenco entrega eleva Fúria de um mero thriller para um estudo de personagem devastador.

Pontos Fortes e Fracos: A Beleza na Imperfeição

Entre os pontos fortes, a maior virtude de Fúria é sua relevância pungente. A série não se esquiva de temas espinhosos como xenofobia, nacionalismo exacerbado e a fragilidade das democracias frente à desinformação. Lançada em 2021, em um mundo já em ebulição política, ela se tornou ainda mais profética e necessária em 2025, ecoando debates e tensões que infelizmente continuam a dominar as manchetes. A série é corajosa, instigante e, acima de tudo, um espelho incômodo de certas realidades. Além disso, a produção é impecável, com valores cinematográficos que rivalizam com grandes filmes, e a construção do suspense é de tirar o fôlego, tornando cada episódio uma experiência visceral.

Quanto aos pontos fracos, se é que podemos chamar assim, a intensidade de Fúria pode ser um fator para alguns. É uma série densa, sombria, que exige atenção e não oferece alívio cômico ou momentos de leveza. Para o público que busca um escapismo puro, pode ser demais. Em alguns momentos, a complexidade da teia de conspirações pode beirar o labiríntico, exigindo que o espectador esteja totalmente engajado para não perder o fio da meada. No entanto, para mim, essas características são mais um atestado de sua audácia do que falhas intrínsecas. É como criticar um bom vinho por ser encorpado demais: é a sua natureza.

Mensagens Que Ecoam no Vazio

Fúria não se contenta em ser apenas um thriller. É uma exploração profunda dos perigos do extremismo, da forma como ideologias radicais podem se espalhar e corroer a sociedade por dentro. A série questiona a natureza da moralidade quando confrontada com o mal absoluto, e a extensão que as pessoas estão dispostas a ir para lutar pelo que acreditam – ou para sobreviver. Ela nos faz perguntar: o quão perto estamos de um cenário como esse? O quão facilmente somos manipulados? É um lembrete sombrio da responsabilidade cívica e da necessidade de vigilância constante contra as vozes que buscam dividir e destruir. É a mensagem mais importante da série, e ela a entrega com uma clareza brutal.

Considerações Finais: Uma Experiência Essencial

Fúria não é uma série para se assistir de forma leviana. É uma experiência imersiva, um grito de alerta disfarçado de drama de crime. Quatro anos depois de seu lançamento nas plataformas digitais, incluindo a Viaplay, onde foi produzida em colaboração com nomes como Monster Scripted e X Filme International, ela ainda se mantém relevante, pulsante e, arrisco dizer, ainda mais urgente.

A série é para aqueles que apreciam dramas inteligentes, bem escritos e corajosos o suficiente para explorar os cantos mais obscuros da condição humana e da política contemporânea. Se você busca um thriller que não apenas te mantenha na ponta da cadeira, mas também te faça pensar, que te desafie e te perturbe de uma forma produtiva, então Fúria é um must-watch. Prepare-se para ser consumido pela sua intensidade, pelos seus dilemas morais e pela sua visão assustadoramente crível de um mundo à beira do abismo. Não a ignore. Assista. E reflita.

Trailer

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