A gente vive numa era onde o ‘espetáculo’ muitas vezes se confunde com o ‘substancial’. Filmes de desastre geralmente nos bombardeiam com CGI grandioso e explosões que fazem o chão tremer, mas, pra mim, o verdadeiro impacto raramente vem do estrondo mais alto. Ele vem do silêncio que segue, do desespero nos olhos de quem sobreviveu, ou, pior ainda, de quem sabe que não vai. É por isso que, de vez em quando, um filme mais contido, que se debruça sobre a fragilidade humana e a luta pela vida, me pega de jeito. E foi exatamente isso que aconteceu com Abaixo da Terra, uma joia de 2019 que, cinco anos depois, ainda ecoa na minha mente.
Não é todo dia que a gente se depara com uma história que te sufoca tanto, quase literalmente. Nove mineiros. Três quilômetros abaixo da superfície, nas entranhas da Cordilheira dos Apalaches. Uma explosão. E o relógio tiquetaqueando, com apenas uma hora de oxigênio restante. Pensa comigo: uma hora. Não é tempo pra um resgate hollywoodiano com jatos supersônicos e heróis de capa. É tempo pra desespero, pra decisões impossíveis, pra encarar a morte olho no olho. E o diretor/roteirista Eddie Mensore entendeu isso com uma clareza impressionante.
O que me prendeu aqui, além da premissa angustiante, foi a crueza com que a história é contada. Mensore, que assina tanto a direção quanto o roteiro, nos mergulha numa escuridão palpável. Você quase consegue sentir o pó de carvão no ar, o cheiro de metal queimado e a umidade gélida que escorre pelas paredes da mina. As luzes dos capacetes se tornam faróis de esperança e, ao mesmo tempo, lembretes brutais do quão minúscula é a sua existência ali, na vastidão sufocante do subsolo. Não há espaço para firulas visuais, e é essa simplicidade que amplifica o terror. É um thriller dramático que não precisa de monstros ou vilões externos; o maior inimigo é o tempo e a própria geologia.
E o elenco? Ah, o elenco é o coração pulsante dessa claustrofobia toda. Terry Serpico, como Zeke, assume o papel do líder relutante, aquele que precisa manter a calma quando tudo desmorona – e não só a mina, mas a esperança de seus companheiros. Você vê a fadiga nos seus olhos, a responsabilidade pesando em cada ombro, cada decisão dele é um tiro no escuro. Mark Ashworth (Kenny) e Kevin Sizemore (Daniel) entregam performances que oscilam entre a teimosia e a entrega, cada um lidando com a iminência do fim à sua maneira. Mas é Drew Starkey, como Ryan, o novato, que talvez carregue o peso mais universal da inexperiência e do medo cru. A gente se vê um pouco nele, não vê? Naquele pavor paralisante, na ânsia por uma segunda chance que talvez nunca venha. O olhar de Ryan, que ainda não viu o suficiente da vida, é um lembrete do que está em jogo para todos eles. Eles não são apenas “mineiros”, são pais, filhos, maridos, com sonhos e medos que se tornam absurdamente próximos nesse poço de escuridão.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Eddie Mensore |
| Roteirista | Eddie Mensore |
| Produtores | Eddie Mensore, Autumn Bailey |
| Elenco Principal | Terry Serpico, Mark Ashworth, Kevin Sizemore, Clint James, Drew Starkey |
| Gênero | Drama, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2019 |
| Produtoras | Emphatic Films, Autumn Bailey Entertainment |
Mensore e sua equipe de produção, incluindo Autumn Bailey, não se preocupam em florear a realidade brutal da mineração de carvão ou a devastação de uma explosão de gás. Eles nos jogam lá embaixo, com a poeira, o barulho distorcido e a sensação de estar preso sem saída. A tensão não vem de sustos baratos, mas da lentidão agonizante do oxigênio acabando, das tentativas desesperadas de comunicação, dos sussurros que se tornam gritos abafados pela gravidade da situação. É uma aula de como construir suspense com poucos recursos, mas muita inteligência emocional.
A gente sai de Abaixo da Terra não com a adrenalina de um filme de ação, mas com um nó na garganta. Ele te faz pensar sobre a resiliência humana, sobre o que faríamos naquelas condições, sobre o valor de cada respiração. É um filme que, apesar de focar na escuridão, ilumina a força do espírito humano em face do desastre. Não é uma história fácil de engolir, e nem deveria ser. É um soco no estômago que nos lembra da vulnerabilidade da vida e da coragem daqueles que a enfrentam em seus limites mais extremos. E, cinco anos depois do seu lançamento, ainda me pergunto: será que eu teria a mesma força para lutar por cada segundo, por cada centímetro de esperança, como aqueles nove mineiros? Essa é a pergunta que fica.




