Em meio à avalanche de blockbusters e narrativas complexas que o cinema nos oferece hoje, revisitar certas joias do passado é um bálsamo para a alma. E, se me permitem uma confidência, há filmes que, mesmo após anos de sua estreia, guardam um aconchego especial, uma capacidade de nos lembrar do poder da conexão humana. É por essa razão que, em 2025, me vejo impulsionado a falar sobre Corina, Uma Babá Perfeita – ou, como a lembrança carinhosa a batizou em meu coração, simplesmente a história de Corina.
Não é todo dia que um filme de comédia romântica se atreve a flertar com a profundidade da perda e do preconceito de uma forma tão delicada e, ao mesmo tempo, assertiva. “Corina” não é apenas sobre um pai em busca de uma babá; é sobre o silêncio que se instala em uma casa após a morte, a dificuldade em encontrar um novo ritmo quando o coração ainda está em luto. Imagine você: o executivo Manny Singer (um Ray Liotta surpreendentemente vulnerável, longe de seus papéis mais ríspidos), viúvo, perdido em sua própria dor e, consequentemente, incapaz de alcançar sua pequena Molly (Tina Majorino, que nos quebra o coração com sua quietude). Molly, desde que sua mãe partiu, simplesmente parou de falar. Um mutismo que grita, um eco da ausência que preenche cada cômodo.
É nesse cenário de cores pálidas e vozes abafadas que surge Whoopi Goldberg como Corina Washington, e é aqui que o filme ascende. Não uma babá qualquer, mas um furacão de vida, riso e autenticidade. O momento em que Corina e Molly se encontram pela primeira vez não é um clichê de “amor à primeira vista”. É uma dança de cautela e curiosidade, onde a perspicácia de Corina consegue, de alguma forma inexplicável para Manny, romper a barreira do silêncio de Molly. Ela não a força; ela a convida, a intriga, a vê. E nós, meros espectadores, nos pegamos torcendo por essa faísca, por essa amizade que nasce do inusitado. Whoopi é um espetáculo, mesclando sua sagacidade cômica com uma ternura quase palpável. Ela não interpreta apenas uma babá; ela se torna um porto seguro, um farol para uma criança perdida no oceano do luto.
Mas a genialidade de “Corina” não se limita a essa dinâmica familiar comovente. A diretora e roteirista Jessie Nelson, com uma sensibilidade notável, nos transporta para os anos 50. E é nesse pano de fundo que a história ganha contornos de um desafio social. O relacionamento que se desenvolve entre Manny e Corina não é apenas um romance proibido por classes sociais – é um romance inter-racial em uma era onde a xenofobia e o preconceito eram tão presentes quanto o ar que se respirava. Nelson não faz um discurso panfletário, mas nos mostra a resistência, os olhares de desaprovação, os cochichos, tudo aquilo que a sociedade da época tentava impor. E a beleza está em como eles, de forma silenciosa e resiliente, escolhem a conexão em vez da convenção. É uma declaração de amor em um tempo de desamor.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Jessie Nelson |
| Roteirista | Jessie Nelson |
| Produtores | Paula Mazur, Jessie Nelson, Steve Tisch |
| Elenco Principal | Whoopi Goldberg, Ray Liotta, Tina Majorino, Joan Cusack, Larry Miller |
| Gênero | Comédia, Família, Romance |
| Ano de Lançamento | 1994 |
| Produtora | New Line Cinema |
Lembro-me de pensar, na época do lançamento, em 1994, como era refrescante ver uma mulher, Jessie Nelson, à frente de uma produção tão cheia de nuances. Ela consegue equilibrar a leveza da comédia familiar com o peso da perda e a complexidade das relações humanas, tudo isso sem perder a ternura. Há cenas que nos arrancam gargalhadas genuínas, e outras que nos fazem apertar os olhos para conter uma lágrima traiçoeira. E tá tudo bem, porque a vida é assim mesmo, uma montanha-russa de emoções, não é?
O elenco de apoio também brilha, claro. Joan Cusack, com seu jeito sempre peculiar, adiciona camadas de humor e humanidade como Jonesy, a amiga de Corina. Larry Miller, como Sid, o chefe de Manny, serve como um espelho das convenções sociais, mas com um toque de afetuosidade que o redime. Todos contribuem para essa tapeçaria de personagens que, juntos, pintam um quadro vibrante de uma família que se reconstrói de formas inesperadas.
Corina, Uma Babá Perfeita é mais do que um filme; é uma ode à resiliência do espírito humano, ao poder curativo da amizade e ao amor que desafia barreiras. É um lembrete de que, às vezes, a pessoa que nos salva não é quem esperávamos, mas sim aquela que tem a coragem de enxergar além do óbvio, de ouvir o silêncio e de oferecer uma mão, ou um sorriso, quando mais precisamos. É um filme que, mesmo revisitado em 2025, continua a nos dizer que o amor, em todas as suas formas, é a linguagem mais perfeita que existe. E para mim, isso já é motivo mais que suficiente para amar essa história.




