Quem de nós nunca se pegou fascinado por uma história de assalto? Não a brutalidade, entenda, mas a audácia. A inteligência por trás do plano. Aquela sensação quase culpada de torcer pelos ‘vilões’ quando eles desafiam o sistema com uma criatividade que beira o genial. É exatamente essa veia que O Roubo do Século toca, e olha, toca com uma maestria que me fez sair do sofá aplaudindo, mesmo cinco anos depois da sua estreia em 2020.
Por que escrever sobre um filme lançado há tanto tempo, você me pergunta? Porque algumas obras têm o poder de se fixar na nossa memória, de revisitar a gente com a mesma energia de quando as vimos pela primeira vez. E este filme, que dramatiza o famoso assalto ao Banco Río em Acassuso, Argentina, em 2006, é uma dessas. Lembro-me claramente da expectativa, do burburinho sobre essa história real que parecia saída de um roteiro hollywoodiano, mas que tinha um sotaque tão deliciosamente portenho.
Quando a história se desenrola na tela, somos imediatamente sugados para o universo de Mario Vitette, o personagem de Guillermo Francella, um tipo charmoso e eloquente, que na vida real foi o “negociador” dos ladrões. Francella, gente, Francella! Ele é um fenômeno, né? Seu Mario não é apenas um criminoso; é um showman, um maestro da distração, que usa o humor e uma certa teatralidade para confundir e desarmar quem está do outro lado da linha. Você vê nos seus olhos uma mistura de nervosismo e puro deleite com a situação. É uma daquelas atuações que te fazem pensar: “Como ele faz isso?”.
Mas a verdadeira mente por trás da operação, o cérebro que bolou o “plano maestro”, é Fernando Araujo, interpretado por um Diego Peretti que entrega uma atuação contida, quase excêntrica. Araujo é o anti-herói perfeito: um sujeito com uma mente brilhante, mas com uma vida que não o satisfaz, buscando na adrenalina do roubo uma espécie de redenção, ou quem sabe, apenas um motivo para se sentir vivo. É a dualidade entre o charme extrovertido de Vitette e a inteligência introspectiva de Araujo que te prende. É como se um fosse o pavão e o outro, a aranha que tece a teia invisível. E essa dinâmica é o coração pulsante do filme.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Ariel Winograd |
Roteiristas | Alex Zito, Fernando Araujo |
Produtores | Pola Zito, Juan Pablo García, Javier del Pino, Axel Kuschevatzky, Fernando Szew, Ricardo Freixa, Alex Zito, Fernando Carranza, Rocio Lujan Taboada, Pierluigi Gazzolo, Marcelo Ortega |
Elenco Principal | Guillermo Francella, Diego Peretti, Luis Luque, Pablo Rago, Rafael Ferro |
Gênero | Comédia, Thriller, Crime |
Ano de Lançamento | 2020 |
Produtoras | Viacom International Inc., Telefe, AZ Films, MarVista Entertainment, Film Tonic, INCAA, Cine Argentino |
O Roubo do Século não se contenta em ser apenas um thriller de assalto. Não, ele flerta abertamente com a comédia, e essa é uma das suas maiores forças. Ariel Winograd, o diretor, tem uma sensibilidade para equilibrar a tensão de um crime planejado nos mínimos detalhes com o absurdo das situações que se desenvolvem. Pense bem: um grupo de ladrões que entra por um bueiro, esvazia cofres e ainda por cima deixa uma mensagem de ‘Feliz Natal’ e bilhetes com charadas para a polícia. Parece piada, mas aconteceu. E o filme consegue capturar essa essência, essa mistura agridoce de crime e folia. Há momentos em que você ri alto, logo em seguida, se pega tenso, roendo as unhas, imaginando se o plano vai por água abaixo. Esse jogo de emoções, essa montanha-russa, é o que me fascina.
E o elenco de apoio? Pablo Rago como “El Marciano” e Rafael Ferro como “Beto” completam o time, trazendo cada um sua própria cor para essa paleta de personagens. Eles não são apenas coadjuvantes; são peças essenciais no relógio complexo que é o assalto. Luis Luque, como o negociador Miguel Sileo, é o nosso ponto de vista da lei, o homem frustrado e incrédulo diante da astúcia dos bandidos. Vê-lo tentar decifrar cada passo dos criminosos enquanto eles estão, literalmente, debaixo do seu nariz, é um estudo de caso em impotência e sagacidade.
O roteiro, assinado por Alex Zito e, pasmem, pelo próprio Fernando Araujo (o verdadeiro cérebro do assalto!), tem uma autenticidade que poucos filmes do gênero conseguem. É quase como se estivéssemos lendo as memórias de um dos participantes, mas com a lapidação cinematográfica para tornar a experiência ainda mais envolvente. A forma como o plano é explicado, com suas reviravoltas e subterfúgios, é didática sem ser maçante, complexa sem ser confusa. Eles mostram, não contam, cada etapa, cada risco, cada gotejamento de água que ameaça entregar tudo.
O Roubo do Século é uma joia do cinema argentino, uma prova de que a inteligência e a paixão podem se unir para criar algo verdadeiramente memorável. É um filme que te faz pensar sobre a natureza da justiça, sobre os limites da lei, mas, acima de tudo, te diverte com uma história tão inacreditável que só pode ser verdade. Se você ainda não viu, ou se já viu e esqueceu a delícia que é, eu te convido a mergulhar de novo nesse golpe de mestre. Garanto que a experiência ainda é tão fresca e empolgante quanto era na sua estreia. Afinal, uma boa história, contada com paixão e personalidade, nunca envelhece. Ela apenas amadurece, como um bom vinho argentino.