Conselheira do Amor

Existe uma espécie de conforto em revisitar certas histórias, sabe? É como abrir um álbum de fotos antigo ou ouvir uma música que marcou uma época. Para mim, “Conselheira do Amor” é exatamente esse tipo de experiência. Lançado em 2022, esse filme turco da Netflix não é uma daquelas produções que prometem revolucionar o cinema, e nem precisa ser. Sua beleza reside justamente na sua leveza, na sua capacidade de nos envolver numa teia de risadas e suspiros, e de nos fazer questionar, com um sorriso no rosto, se realmente sabemos tudo sobre o amor, mesmo quando achamos que sim.

Eu me peguei pensando nele outro dia, enquanto via um casal de amigos debatendo sobre qual seria a “fórmula” para um relacionamento duradouro. Pensei: “Ah, se eles tivessem a Azra!”. Azra, interpretada com uma mistura deliciosa de confiança e vulnerabilidade por Bensu Soral, é a nossa protagonista. Ela é a “conselheira do amor” do título, mas não da forma óbvia. Azra é uma espécie de guru secreta, uma cupido disfarçada de professora particular, que treina jovens para decifrar os mistérios do flerte, da conquista e, quem sabe, do amor verdadeiro. Ela é articulada, cheia de dicas práticas, parece ter todas as respostas na ponta da língua. Os olhos de Bensu Soral conseguem transitar da sagacidade calculista à pura confusão num piscar de olhos, e é aí que a personagem realmente brilha.

Mas, cá entre nós, quem nunca se viu dando um conselho impecável para um amigo, para depois tropeçar nos próprios pés quando a situação se inverte? Azra é a encarnação dessa ironia universal. Ela é uma estrategista brilhante quando o amor é para os outros, capaz de orquestrar encontros, decifrar olhares e prever os movimentos do coração alheio como um mestre de xadrez. Sua vida profissional é um jardim perfeitamente podado, com cada flor no lugar certo. No entanto, o seu próprio jardim particular… bem, é um matagal indomável, cheio de ervas daninhas e surpresas inesperadas. E é exatamente essa dicotomia que me faz amar a Azra. Ela é humana, falha, contraditória, como todos nós.

A dinâmica começa a borbulhar de verdade quando Burak, o vizinho encantador interpretado por Halit Özgür Sarı, entra em cena. De repente, todas as lições de Azra, todos os seus diagramas e planos de batalha amorosa, evaporam como fumaça ao vento. Burak não joga pelas regras que Azra tanto ensina. Ele é espontâneo, desarmado, e desestabiliza a armadura da nossa protagonista de um jeito que nenhum “projeto” de relacionamento jamais conseguiu. Halit Özgür Sarı tem aquela presença que preenche a tela, e a química entre ele e Bensu Soral é palpável. Você consegue sentir a faísca, a hesitação, o embaraço, e a inevitável atração que se desenrola entre eles, quase como se o ar ao redor deles ficasse mais denso.

Atributo Detalhe
Diretor Kıvanç Baruönü
Roteiristas Murat Dişli, Yasemin Erturan
Elenco Principal Bensu Soral, Halit Özgür Sarı, Helin Kandemir, Rami Narin, Hatice Aslan
Gênero Comédia, Romance
Ano de Lançamento 2022
Produtoras OGM Pictures, Organic Films

E o que seria de uma boa comédia romântica sem um elenco de apoio que dá o tempero certo? Helin Kandemir como Hande e Rami Narin como Utku trazem o frescor e a energia dos jovens pupilos de Azra, cujas próprias desventuras amorosas servem de espelho (e, por vezes, de gatilho) para os dilemas da tutora. E não podemos esquecer da Hatice Aslan como Ülker, que adiciona uma camada de comédia mais madura e um toque de sabedoria popular que contrasta com as teorias da Azra. A direção de Kıvanç Baruönü, junto ao roteiro afiado de Murat Dişli e Yasemin Erturan, consegue tecer essas diferentes linhas narrativas numa tapeçaria leve e divertida, com um ritmo que flui naturalmente, sem pressa, mas sem jamais estagnar. Os diálogos são ágeis, cheios de pequenos desvios que revelam muito sobre os personagens sem precisar de grandes monólogos expositivos.

“Conselheira do Amor” é mais do que apenas uma comédia romântica sobre uma mentora de relacionamentos que precisa aprender suas próprias lições. É um lembrete gentil de que, no fundo, o amor é um território selvagem, impossível de ser totalmente mapeado por manuais e estratégias. É sobre a beleza de se render ao imprevisível, de aceitar que nem sempre teremos as respostas, e que talvez a melhor “lição” seja simplesmente sentir. E, convenhamos, num mundo que adora complicar as coisas, um filme que nos lembra que é gostoso – e ok – simplesmente se apaixonar, é sempre bem-vindo.

Se você, assim como eu, adora uma história que aquece o coração e arranca boas risadas, dando aquela piscadela sobre a natureza caótica e maravilhosa do amor, “Conselheira do Amor” é uma aposta certa. Recomendo uma re-assistida, ou uma primeira vez, para quem busca um respiro leve e divertido. Vale a pena revistar essa lição de amor, ou de desamor, ou de amor-e-desamor misturados, que a Azra nos entrega com tanto charme.

Trailer

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