Sem Rastros: Uma Jornada Silenciosa na Natureza Selvagem
Sete anos se passaram desde que Sem Rastros (2018) chegou aos cinemas brasileiros em 2 de novembro. Ainda me lembro daquela sensação estranha ao deixar a sala: uma mistura de admiração pela beleza contida do filme e uma certa frustração por sua incapacidade de me alcançar completamente. Hoje, revisitar essa experiência, à luz do tempo e de outras produções, me permite uma análise mais aprofundada, longe do impacto imediato da primeira exibição.
O longa acompanha Will e sua filha adolescente, Tom, que vivem escondidos em uma vasta reserva próxima a Portland, Oregon, fugindo das autoridades. Após um imprevisto, eles são descobertos, e sua frágil existência no mundo selvagem é interrompida. O filme então acompanha a tentativa deles de retornar à vida fora da sociedade, um retorno que se mostra cheio de obstáculos e conflitos internos.
Debra Granik, diretora com uma sensibilidade aguçada para o drama humano, entrega um trabalho visualmente impecável. A fotografia, que capta a beleza crua e implacável da natureza do Oregon, é simplesmente de tirar o fôlego. A câmera, muitas vezes observadora e distante, reflete a solidão e o isolamento dos personagens, permitindo que os silêncios e os olhares digam mais do que qualquer diálogo. A escolha da trilha sonora, minimalista e atmosférica, reforça essa atmosfera de suspense e melancolia.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Debra Granik |
Roteiristas | Anne Rosellini, Debra Granik |
Produtoras | Anne Harrison, Anne Rosellini, Linda Reisman |
Elenco Principal | Thomasin McKenzie, Ben Foster, Jeff Kober, Dale Dickey, Dana Millican |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2018 |
Produtoras | Bron Studios, First Look Media, Harrison Productions, Topic Studios, Stage 6 Films |
O roteiro, escrito por Granik em parceria com Anne Rosellini, é o ponto forte e fraco da obra. A construção dos personagens, principalmente a de Will e Tom, é fascinante. A relação complexa, marcada pela dependência e pelo amor silenciado, é de uma profundidade pungente. A força da jovem Tom, interpretada com maestria por Thomasin McKenzie, é tocante; seu olhar transparece o cansaço e a resiliência de quem carrega um peso além da sua idade. Ben Foster, como Will, entrega uma atuação contida, transmitindo o trauma e a culpa de um pai que falhou em proteger sua filha. No entanto, a narrativa se arrasta em alguns momentos, e a falta de um desenvolvimento mais aprofundado de alguns personagens secundários deixa algumas pontas soltas.
A recepção crítica em 2018 foi bastante dividida, como observado pelos trechos de críticas que você me forneceu. Concordo com a ideia de que o filme “tem muito que me atraiu, mas não funcionou como um todo”. A força da atuação e a beleza da fotografia são inegáveis, mas a lentidão da narrativa e a falta de uma resolução mais contundente acabaram por me deixar com uma sensação de insatisfação.
Sem Rastros explora temas poderosos e relevantes: a superação do trauma, o impacto do PTSD em famílias, as complexidades da relação pai-filha e a busca pela liberdade em um sistema opressor. O filme, entretanto, se recusa a oferecer respostas fáceis, e talvez essa seja sua maior qualidade e seu maior defeito. Ele nos apresenta personagens complexos em uma situação difícil, sem julgamentos ou moralismos, mas sem nos oferecer o alívio de uma conclusão plenamente satisfatória.
Em suma, Sem Rastros é um filme que divide opiniões. Não é um filme fácil, nem um filme para todos. Mas é um filme memorável, que permanece na memória pelas imagens, pelas atuações e pela profunda humanidade de seus personagens. Recomendo-o a quem aprecia dramas contemplativos, com uma fotografia impecável e personagens complexos, e que não se assusta com finais abertos e uma narrativa que preza pela atmosfera em detrimento de um ritmo mais acelerado. Se você busca um filme que lhe deixe pensando, e talvez até um pouco perturbado, Sem Rastros pode ser uma ótima opção, encontrável em diversas plataformas de streaming.