Como é Cruel Viver Assim: Uma Comédia Amarga que Gruda na Garganta
Sete anos se passaram desde que Como é Cruel Viver Assim chegou aos cinemas brasileiros em 15 de março de 2018, e a lembrança dessa comédia peculiar, dirigida por Julia Rezende, continua a me assombrar. Não no sentido de um trauma cinematográfico, mas sim como um daqueles filmes que, apesar de suas imperfeições, escavam algo dentro da gente. A trama gira em torno de Vladimir, um homem desempregado e desiludido, que vê na possibilidade de sequestrar seu ex-patrão a chance de finalmente se sentir um homem de valor. Ao lado de sua amiga Regina e do atrapalhado Primo, ele se envolve em um plano que, na superfície, se apresenta como uma comédia pastelão, mas que, em sua essência, revela uma crueza bastante desconcertante.
A direção de Julia Rezende merece aplausos. Ela equilibra o humor escrachado, próprio de uma comédia brasileira mais tradicional, com momentos de realismo cru que nos conectam profundamente à fragilidade dos personagens. Não há aqui uma tentativa de romantizar a situação dos protagonistas. A pobreza, a falta de perspectivas e a desesperança são retratadas de forma honesta, sem concessões à estética da “bonitinha”. A fotografia, apesar de não ser excepcionalmente memorável, serve bem à narrativa, reforçando o clima de opressão e claustrofobia que paira sobre os personagens.
O roteiro de Fernando Ceylão, no entanto, é onde o filme mais se destaca e, simultaneamente, mais patina. Há momentos de genialidade, diálogos ágeis e situações hilariantes que exploram com maestria o cotidiano da classe média baixa, com toda a sua frustração, angústia e a busca incessante por uma escapatória. Porém, em alguns momentos, o roteiro parece se perder em subtramas desnecessárias ou ceder a um humor mais batido e previsível. A transição entre a comédia e o drama também apresenta alguns desequilíbrios, sentindo-se às vezes abrupta e forçada.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Julia Rezende |
| Roteirista | Fernando Ceylão |
| Produtoras | Mariza Leão, Erica Iootty |
| Elenco Principal | Marcelo Valle, Fabiula Nascimento, Débora Lamm, Sílvio Guindane, Otávio Augusto |
| Gênero | Comédia |
| Ano de Lançamento | 2018 |
| Produtora | Morena Films |
O elenco, sem dúvida, é um dos pontos mais fortes do filme. Marcelo Valle, no papel de Vladimir, entrega uma performance excepcional, transmitindo com maestria a fragilidade e a complexidade de um homem perdido em sua própria vida. Fabiula Nascimento, como Clívia, a esposa de Vladimir, oferece um contraponto interessante, mostrando a resiliência e a força de uma mulher em uma situação igualmente difícil. Débora Lamm e Silvio Guindane também se destacam, interpretando personagens críveis e memoráveis. Apesar de menor destaque na sinopse, Otávio Augusto com sua presença, adiciona peso e profundidade à trama.
Como é Cruel Viver Assim não é um filme perfeito. A narrativa apresenta alguns deslizes, e o humor, por vezes, pode não agradar a todos. Mas, a sua força reside na sua capacidade de nos confrontar com a dura realidade de pessoas comuns, lutando contra a maré da vida. A mensagem do filme, talvez não tão explícita, mas fortemente subjacente, é sobre a busca por dignidade e respeito, mesmo em meio ao desespero e à falta de oportunidades. A escolha de sequestrar o patrão, por mais absurda que seja, representa um ato desesperado de afirmação.
Recomendo fortemente Como é Cruel Viver Assim para aqueles que apreciam comédias que vão além do riso fácil e que se interessam por histórias humanas, cruas e tocantes. Embora tenha sete anos, a relevância da sua crítica social permanece, e sua disponibilidade em plataformas digitais certamente garante que ainda há muitas risadas amargas, e reflexões importantes, para serem compartilhadas. O filme não busca o riso fácil, mas um riso que ecoa na nossa consciência muito depois dos créditos finais.




