A Vila

Um homem loiro sorridente com suspensórios vermelhos e brancos, mãos abertas. Casas flutuantes num céu claro e letreiro pendurado. Clima alegre.

Para mim, que passo os dias mergulhado em universos ficcionais, há algo de quase transcendental em encontrar uma comédia que não apenas te faça rir, mas que ressoe com aquele cansaço miúdo da vida adulta, aquele desejo de se esconder do mundo e, ainda assim, não perder a oportunidade de soltar uma boa piada. É por isso que, mesmo em outubro de 2025, minha mente volta com carinho e uma certa nostalgia a A Vila, uma série que estreou lá em 2017 e que, para mim, personifica um tipo de humor tão brasileiro quanto universal.

O que me puxa de volta a A Vila não é só o riso fácil, é a essência. Pense em Paulo Gustavo, um furacão de talento que, nesta série, nos deu Rique, um ex-palhaço que trocou a lona do circo por um trailer estacionado no coração de uma vila que, à primeira vista, parece saída de um conto de fadas açucarado. E aí está a primeira camada de genialidade: Rique é tudo, menos açucarado. Ele é ranzinza, ele é cínico, ele é o olhar desiludido que muitos de nós carregamos, mas com uma metralhadora giratória de tiradas sarcásticas e um humor irreverente que desarma qualquer um. Não é o palhaço que busca a gargalhada desesperada; é o observador aguçado que, mesmo escondido na sua própria bolha, não perde uma chance de pontuar as obviedades e absurdos da vida.

E essa dualidade, entre a atmosfera acolhedora e quase ingênua da vila e o humor ácido de Rique, é o que dá o tom. Você vê o sol bater nas casinhas coloridas, as crianças brincando na rua, e então escuta Rique resmungando sobre a hipocrisia do mundo, transformando uma situação banal num espetáculo de ironia. É como ter um limão e uma limonada no mesmo copo; um te azeda, o outro te refresca, mas o conjunto é delicioso. A Fábrica, a produtora por trás da série, soube capturar essa textura, construindo um cenário que é tanto um refúgio quanto um palco para as observações mordazes do protagonista. Não se trata de uma comédia de pancadaria ou de situações mirabolantes; o charme está na observação do cotidiano e na forma como o humor brota das interações mais triviais.

Paulo Gustavo, interpretando Rique, não entrega apenas um personagem; ele veste a pele daquele tipo de gente que a gente encontra por aí. Aquele que parece ter um eterno semblante de quem comeu e não gostou, mas que no fundo, lá no fundo mesmo, tem um coração que ainda se permite sentir – ou, pelo menos, que se permite rir das próprias desgraças e das alheias. Ele tem aquele olhar que já viu de tudo, e que agora só quer a sua paz, mas que não se aguenta e solta um comentário cortante que te faz engasgar de tanto rir. Essa é a magia de Paulo, a capacidade de transformar um anti-herói rabugento em alguém que a gente se pega torcendo.

Atributo Detalhe
Elenco Principal Paulo Gustavo, Katiuscia Canoro
Gênero Comédia
Ano de Lançamento 2017
Produtora A Fábrica

E não posso esquecer da Katiuscia Canoro, a Violeta. Se Rique é a acidez, Violeta é, muitas vezes, o contraponto, a efervescência que Rique tenta, em vão, ignorar. A dinâmica entre os dois é um balé de provocações e entendimentos tácitos, onde o diálogo não é apenas para avançar a trama, mas para revelar camadas desses personagens, suas pequenas vulnerabilidades e seus modos peculiares de enxergar o mundo. É nesse embate de personalidades que a série encontra um de seus maiores trunfos, mostrando que a vida real é feita dessas pequenas colisões de egos e afetos.

Revisitar A Vila hoje, quase oito anos depois de seu lançamento, é mais do que uma viagem no tempo; é uma redescoberta de um humor que, para mim, se tornou atemporal. É a prova de que a comédia, quando bem feita, com texto afiado e interpretações viscerais, transcende o momento de sua criação. A série nos lembra que, mesmo quando a gente está exausto, desiludido e querendo que o mundo nos deixe em paz no nosso cantinho, ainda existe espaço para uma boa risada, para uma ironia bem colocada. E isso, meu amigo, é o tipo de legado que me faz seguir acreditando no poder transformador da televisão, e no gênio de artistas que, como Paulo Gustavo, souberam nos tirar de nós mesmos para rir de um jeito tão genuíno e, paradoxalmente, tão humano.

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