Querido David

Existe uma memória coletiva, quase palpável, que todos nós carregamos – a do ensino médio. Aqueles corredores que pareciam infinitos, os risos abafados, as fofocas sussurradas nos armários e, claro, as paixões secretas que se aninhavam bem no fundo do coração. É um período de efervescência, onde cada emoção é sentida em decibéis máximos, e a vulnerabilidade está sempre à espreita. É por isso que, mesmo passados alguns anos desde seu lançamento original em 2023, Querido David ainda ressoa tão fortemente em mim e, arrisco dizer, em muitos de nós.

Não é todo dia que um filme sobre a vida de high school consegue capturar a essência da experiência adolescente com tanta honestidade e um toque agridoce. Quando me deparei com a sinopse de Querido David, algo imediatamente me fisgou. A ideia de uma aluna séria, Laras (interpretada com uma profundidade surpreendente por Shenina Cinnamon), que mantém um blog secreto, caprichoso, sobre sua paixão pelo David (Emir Mahira, carismático na medida certa), e vê tudo isso vindo à tona… Ufa! Quem nunca sentiu aquele arrepio na espinha só de imaginar seus pensamentos mais íntimos expostos ao mundo? A gente se veste de coragem por fora, mas por dentro, somos só uma coleção de medos e desejos.

O filme, dirigido por Lucky Kuswandi, com um roteiro que pulsa nas mãos de Winnie Benjamin e Daud Sumolang, não nos poupa do impacto devastador quando o blog de Laras vaza para a escola inteira. É como se a própria tela sentisse a vergonha dela. Eu podia quase sentir o calor subindo no rosto da Laras, o jeito como ela se encolhia sob o peso dos olhares curiosos e, pior, dos maldosos. Não é só um blog; é a alma dela desnudada para todos verem e julgarem. E é aí que o drama se aprofunda de verdade.

A beleza de Querido David reside na sua capacidade de mostrar as feridas abertas pelo bullying e pela traição. Dilla (Caitlin North Lewis) e Gilang (Palestina Irtiza), amigos próximos de Laras, são arrastados para esse turbilhão, e a gente se vê questionando, junto com Laras: quem são os verdadeiros amigos quando o barco afunda? A performance de Shenina Cinnamon aqui é crucial. Ela não apenas interpreta Laras; ela é Laras, com toda a sua insegurança, sua paixão secreta e a resiliência que ela precisa encontrar. Seus olhos, antes cheios de um brilho sonhador ao escrever sobre David, agora carregam um misto de medo e desilusão que corta a alma.

AtributoDetalhe
DiretorLucky Kuswandi
RoteiristasWinnie Benjamin, Daud Sumolang
ProdutoresMeiske Taurisia, Muhammad Zaidy
Elenco PrincipalShenina Cinnamon, Emir Mahira, Caitlin North Lewis, Palestina Irtiza, Michael Olindo
GêneroDrama, Romance, Fantasia
Ano de Lançamento2023
ProdutoraPalari Films

A equipe de produção, incluindo Meiske Taurisia e Muhammad Zaidy da Palari Films, merece aplausos por criar um universo visual que transita entre a realidade crua do ambiente escolar e a fantasia onírica dos devaneios de Laras. Não é só um romance juvenil; tem um elemento de fantasia que nos leva para dentro da mente dela, mostrando o quanto David ocupa seu imaginário. Essa dualidade é um acerto, porque nos lembra que, mesmo diante da adversidade, a capacidade de sonhar e de se refugiar num mundo próprio é uma força poderosa.

E David? O David de Emir Mahira não é um príncipe encantado unidimensional. Ele é o objeto de desejo, sim, mas o filme o humaniza, mostrando as suas próprias complexidades diante da situação embaraçosa. Não se trata apenas da love de Laras, mas do impacto que a revelação tem sobre ele e sobre a dinâmica social da escola. O filme nos convida a pensar sobre as consequências dos nossos segredos e das nossas ações, especialmente em um ambiente tão delicado como a vida de student.

Não espere um conto de fadas onde tudo se resolve com um beijo mágico. Querido David é mais do que isso. É um filme que explora as nuances da amizade, o peso da reputação, a dor da exposição e a jornada de autodescoberta. É a história de como uma garota séria, que se escondia atrás de um blog fantasioso, é forçada a encarar a realidade, a questionar quem ela é e a lutar para se redefinir. É uma daquelas obras que, mesmo depois que os créditos sobem, te deixa ali, parado, pensando sobre a fragilidade dos nossos mundos e a força que encontramos para reconstruí-los. E, cá entre nós, isso é o que um bom filme faz: nos faz sentir, pensar e, quem sabe, revisitar nossas próprias memórias de um tempo em que as paixões eram segredos guardados a sete chaves.

Trailer

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