Ah, os filmes de ação e thriller… Para mim, eles sempre foram mais do que apenas explosões e perseguições. São um mergulho no abismo da condição humana, onde os instintos mais primitivos vêm à tona e as escolhas se tornam desesperadamente binárias: sobreviver ou sucumbir. É por isso que, quando me deparei com a premissa de Night Train, um filme de 2023 que talvez não tenha feito tanto barulho quanto deveria, algo em mim fisgou. E, de fato, a experiência valeu a pena.
Você já se perguntou até onde iria para proteger quem você ama? O que você faria, o que você aceitaria fazer, se a vida do seu filho estivesse pendurada por um fio tão tênue quanto um vagão prestes a descarrilar? Essa é a dolorosa encruzilhada que Holly McCord, interpretada com uma ferocidade quase palpável por Danielle C. Ryan, enfrenta. Seu filho precisa de ajuda, e não há tempo para burocracias ou moralismos convenientes. O caminho que se abre diante dela é sombrio: transportar drogas do mercado negro, em seu caminhão, que, para piorar, já está “envenenado” – uma carga perigosa que só aumenta o risco.
É fascinante observar Danielle C. Ryan em cena. Ela não diz que está desesperada; ela é o desespero. Você vê nos vincos em sua testa, na maneira como ela aperta o volante com os nós dos dedos brancos, na faísca de terror e determinação que brilha em seus olhos a cada ameaça que surge no retrovisor. Não há espaço para hesitação; cada respiração é um lembrete do que está em jogo. Ela é uma mãe no limite, transformada em predadora pelo amor, e Ryan traduz isso para a tela com uma autenticidade que nos fisga. A adrenalina de Holly se torna a nossa, e a cada guinada brusca do Night Train — o apelido que ela dá ao seu caminhão, quase um personagem por si só — você sente o corpo dela, e o seu, enrijecer.
Mas a jornada de Holly não é uma corrida solitária. Como em qualquer bom thriller de crime, a perseguição é multifacetada. Temos os federais em sua cola, claro, como um cão de caça implacável. Mas também há as duas recompensas por sua cabeça, transformando cada sombra e cada rosto desconhecido em uma potencial ameaça. É aqui que o roteiro de CJ Walley e a direção de Shane Stanley brilham, ao transformar o espaço confinado da cabine do caminhão de Holly em um microcosmo de paranoia e ação ininterrupta. As escolhas visuais, o ritmo da edição, tudo conspira para nos colocar naquele banco do motorista, sentindo o asfalto tremendo sob os pneus, o cheiro de borracha queimada e a necessidade premente de acelerar, de fugir, de sobreviver.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Diretor | Shane Stanley |
Roteirista | CJ Walley |
Produtores | Neil Chisholm, Shane Stanley, CJ Walley |
Elenco Principal | Danielle C. Ryan, Diora Baird, Joe Lando, Abraham Benrubi, Joseph D. Reitman |
Gênero | Ação, Thriller, Crime |
Ano de Lançamento | 2023 |
E o elenco secundário, hein? Eles formam a tapeçaria de obstáculos e raras alianças. Diora Baird, como Jaylynne Jackson, traz uma energia própria para a tela, e a dinâmica entre ela e Holly poderia, sozinha, render um spin-off. Joe Lando, como Chuck McCord, e a figura imponente de Abraham Benrubi como Mr. Maxwell, são peças cruciais no tabuleiro de xadrez de alto risco de Holly. Cada um deles contribui para a sensação de que não há para onde escapar, cada rosto um novo dilema, uma nova camada de complicação. Joseph D. Reitman como Tommy Talbot também entrega um vilão que não é unidimensional, adicionando tons à sua malícia que o tornam mais do que um mero estereótipo.
Night Train é um filme que não se desculpa por ser o que é. Ele não busca reinventar a roda do gênero ação/thriller, mas se deleita em dominar os seus elementos essenciais. É a história visceral de uma mulher levada ao limite, de um amor que se torna o motor para ações moralmente questionáveis, mas compreensíveis. Não se trata apenas de “fugir, desembainhar e sobreviver”, mas de questionar o custo dessa sobrevivência. É um lembrete vívido de que, quando a vida de um filho está em jogo, as linhas entre certo e errado podem se borrar até a indistinção, restando apenas a urgência e a força bruta da vontade. E essa é uma jornada que, para mim, vale sempre a pena embarcar.