A Avó

A Avó: Quando o Abraço da Família se Transforma em Pesadelo Silencioso

Três anos se passaram desde que A Avó chegou aos cinemas em 2022, mas a memória de seu abraço sufocante e perturbador ainda me persegue. Em um cenário cinematográfico muitas vezes dominado por espetáculos grandiosos ou terror de sustos fáceis, o longa-metragem de Paco Plaza, com o roteiro afiado de Carlos Vermut, emerge como uma obra de arte sutilmente brutal, um drama familiar que se transfigura em um terror psicológico visceral que se insinua sob a pele. É um filme que, sem dúvida, se consolidou como uma das joias mais inquietantes da safra recente do cinema espanhol.

A premissa é enganosamente simples e profundamente universal: Susana (Almudena Amor), uma jovem modelo estabelecida em Paris, vê-se obrigada a retornar à sua Madrid natal para cuidar de sua avó, Pilar (Vera Valdez), que agora se encontra fragilizada e dependente. O choque cultural é um detalhe menor perto do choque emocional e existencial que aguarda Susana. Trocar os holofotes e o glamour das passarelas francesas pelos corredores sombrios e o cheiro de mofo de um apartamento antigo na Espanha, para mim, já é um terror por si só. Mas o que se desenrola vai muito além do mero desconforto.

A Direção Férrea e o Roteiro de Gume Fino

AtributoDetalhe
DiretorPaco Plaza
RoteiristaCarlos Vermut
ProdutorEnrique López Lavigne
Elenco PrincipalAlmudena Amor, Vera Valdez, Karina Kolokolchykova, Marina Gutiérrez, Berta Sánchez
GêneroDrama, Terror
Ano de Lançamento2022
ProdutorasAtresmedia, Les films du Worso, Canal+, Ciné+, Apaches Films

Paco Plaza, um nome que muitos associam ao horror mais explícito, especialmente pela franquia ‘[REC]’, demonstra aqui uma maturidade artística impressionante. Em A Avó, seu terror não reside nos monstros à espreita, mas na deterioração gradual, na perda de identidade e na claustrofobia das obrigações familiares. Ele constrói a atmosfera com uma paciência quase cruel, usando a casa antiga não apenas como cenário, mas como um personagem vivo, pulsante, com seus próprios segredos e memórias. Cada sombra, cada rangido, cada reflexo distorcido no espelho contribui para uma sensação crescente de mal-estar. É um trabalho de direção que nos força a olhar para o que preferimos ignorar, o que é sempre o terror mais eficaz.

O roteiro de Carlos Vermut, co-escrito com Plaza, é uma obra de ourivesaria. Ele evita os clichês do terror sobrenatural e mergulha de cabeça no abismo das relações humanas. O que realmente nos assusta não são fantasmas, mas a ideia de que nossos entes queridos podem se tornar estranhos, ou que as sementes de um mal ancestral podem ter sido plantadas muito antes de nascermos. Vermut explora magistralmente os temas da beleza, da juventude e de como a sociedade as valoriza acima de tudo, contrastando isso com a inevitabilidade da velhice e da dependência. A forma como os “segredos de família” se desdobram é lenta e orgânica, transformando o drama em algo muito mais sinistro e perturbador.

Atuações Que Incendeiam a Tela

Não posso deixar de mencionar o elenco, que é o coração pulsante deste longa-metragem. Almudena Amor é uma revelação como Susana. Sua transição de uma jovem cheia de vida e aspirações para uma figura exaurida e assombrada é dolorosamente crível. Ela carrega o peso do filme nos ombros com uma expressividade que dispensa palavras, seus olhos transmitindo um misto de amor, frustração, medo e resignação.

Mas é Vera Valdez, no papel de Pilar, quem realmente nos gela a espinha. Sua performance é um testamento à força da experiência, à capacidade de comunicar uma gama de emoções com movimentos sutis, olhares e um silêncio eloquente. A ‘old woman’ é, ao mesmo tempo, vítima e algoz, frágil e assustadora. A relação entre neta e avó é complexa, cheia de carinho genuíno e uma tensão subterrânea que lentamente vem à tona. As interações entre Almudena e Vera são tão autênticas que chegam a ser desconfortáveis, nos fazendo questionar os limites da responsabilidade familiar e o custo emocional de um amor incondicional.

Karina Kolokolchykova como Eva e Marina Gutiérrez como Adela, embora com menos tempo de tela, complementam a trama adicionando camadas de realismo ao ambiente e à rede de apoio – ou falta dela – em torno da família. Até mesmo a breve aparição de Berta Sánchez como a Susana criança serve para costurar os fios do passado que assombram o presente.

Pontos Fortes e Fracos: Um Equilíbrio Tênue

Entre os pontos fortes, destaco a maestria na construção da atmosfera. O filme é uma aula de como criar suspense sem recorrer a artifícios baratos. A paleta de cores, a fotografia que enfatiza os cantos escuros e os detalhes mórbidos, e uma trilha sonora que pontua o silêncio com dissonâncias sutis, tudo converge para um sentimento de apreensão constante. A forma como A Avó lida com os temas da velhice e da dependência é brutalmente honesta, uma reflexão sombria sobre o que significa perder o controle sobre o próprio corpo e mente.

Se há um “ponto fraco”, talvez seja a expectativa que alguns espectadores de terror podem ter. Aqueles que esperam sustos e reviravoltas grandiosas podem se sentir frustrados com o ritmo deliberado e o terror mais psicológico do longa. No entanto, para mim, essa é uma das suas maiores virtudes. O filme não se curva às convenções, optando por um horror mais insidioso, que se instala na mente e não se apaga facilmente.

Conclusão: Um Olhar Cru para o Abismo Familiar

A Avó é, em sua essência, um comentário potente sobre o ciclo da vida, a beleza efêmera e o peso inescapável das heranças familiares. É um drama doloroso que se disfarça de terror, ou um terror que se nutre do drama mais íntimo e real. Não é um filme para o público que busca apenas entretenimento leve; é uma experiência que desafia, perturba e provoca reflexão.

Para mim, A Avó é um filme obrigatório. Recomendo-o fortemente para quem aprecia um cinema mais denso, que não tem medo de explorar as sombras da condição humana. É uma obra que se mantém relevante, três anos depois de seu lançamento, e que provavelmente continuará a fazer as pessoas se perguntarem sobre os segredos escondidos atrás das portas fechadas de suas próprias famílias. Paco Plaza e Carlos Vermut nos deram um presente sombrio e belíssimo, um espelho incômodo para a nossa própria finitude e para os laços que nos prendem – para o bem e para o mal.

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