Você já parou pra pensar como é estranho, e ao mesmo tempo fascinante, se mudar para um lugar novo? Aquela sensação de ser um peixe fora d’água, tentando decifrar os códigos não-escritos de um novo bairro, as caras novas… É um desafio e tanto, né? Pois bem, essa é uma das cordas que A Boa Vizinhança (The Neighborhood, no original) toca com uma maestria que poucas comédias conseguem, e é por isso que, mesmo depois de tantos anos no ar – a série estreou lá em 2018 e a gente tá aqui em 2025, firme e forte – ela ainda me pega de jeito.
Eu, particularmente, sempre fui fissurado em comédias que tiram o riso de situações cotidianas, daquelas que a gente se vê ou vê o vizinho passar. E A Boa Vizinhança pega esse conceito de vizinhança e o vira de ponta-cabeça, ou melhor, de porta a porta. A premissa é simples, mas o gênio está na execução: Dave Johnson, um cara bem-intencionado, mas um tanto ingênuo, se muda com a família de Michigan para o burburinho de Los Angeles. E aí, meu amigo, o choque cultural não demora a aparecer na figura de Calvin Butler, o vizinho do lado.
É como se você colocasse uma pitada de açúcar num molho de pimenta – o Dave é esse açúcar e o Calvin é a pimenta. Cedric the Entertainer, que interpreta Calvin, não atua, ele é o personagem. Desde o jeito de cruzar os braços, o olhar desconfiado, até aquela risada que preenche a sala, ele domina a cena. Calvin é o protetor do bairro, um bastião de tradição, e vê a chegada dos Johnsons como uma invasão, um questionamento de tudo o que ele conhece. Mas você vê, por trás da carranca, que tem um coração do tamanho do mundo. Ele é como aquele avô ranzinza que te dá conselhos valiosos enquanto resmunga.
Do outro lado da cerca (e do sofá), temos Max Greenfield como Dave Johnson. Ele é o otimista incurável, o cara que vê o copo sempre meio cheio, mesmo quando o Calvin o derruba no chão. A química entre Cedric e Max é o motor da série. Eles são o centro gravitacional de um universo onde as colisões de personalidade são a matéria-prima do riso. Você vê o Dave tentando de tudo para se encaixar, com uma vontade quase dolorosa de ser aceito, e o Calvin o testando a cada passo, com um humor que oscila entre o sarcasmo afiado e a provocação afetuosa. É essa dança, esse cabo de guerra com laços de amizade que se formam devagar, que faz a gente se apegar.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Criador | Jim Reynolds |
| Elenco Principal | Cedric the Entertainer, Max Greenfield, Tichina Arnold, Beth Behrs, Sheaun McKinney |
| Gênero | Comédia |
| Ano de Lançamento | 2018 |
| Produtoras | Kapital Entertainment, Trill Television, A Bird and a Bear Entertainment, CBS Studios |
Mas não é só sobre os dois. As esposas, Tina Butler (Tichina Arnold) e Gemma Johnson (Beth Behrs), são as âncoras realistas desse navio. Tina é a voz da razão e da inteligência, muitas vezes a única capaz de colocar Calvin na linha com um olhar ou uma frase bem colocada. Tichina Arnold tem um timing cômico que é pura poesia. E Gemma, bem, ela é o suporte de Dave, mas também sua própria pessoa, com seus dilemas e aspirações. Sheaun McKinney, como Malcolm Butler, o filho de Calvin, adiciona outra camada à dinâmica familiar, mostrando a relação complexa entre gerações e expectativas.
A Boa Vizinhança é uma comédia, sim, mas daquelas que te fazem pensar um pouco. O criador, Jim Reynolds, conseguiu costurar temas como gentrificação, preconceito velado e a construção de pontes culturais de um jeito que nunca fica pesado. A risada é o disfarce perfeito para discussões importantes. A série te mostra que, mesmo com as diferenças mais gritantes, a gente encontra um terreno comum, um lugar para rir, para chorar e, acima de tudo, para ser uma comunidade. As produtoras Kapital Entertainment e CBS Studios, entre outras, garantiram que essa visão tivesse o palco que merecia, entregando episódios que são um abraço quentinho.
Você acompanha o dia a dia dessa turma e vê que a vida não é preto no branco. As contradições são parte do jogo. Calvin, que inicialmente torce o nariz, acaba se tornando a pessoa que Dave mais procura para conselhos, por mais indiretos que sejam. E Dave, com sua energia quase excessiva, consegue, aos poucos, derreter um pouco daquele gelo protetor de Calvin. É uma evolução que não é forçada, que acontece no ritmo da vida real, com avanços e recuos.
A série é um lembrete de que, às vezes, as amizades mais improváveis são as que mais nos enriquecem, as que nos tiram da nossa bolha e nos fazem ver o mundo com outros olhos. Ela te faz sentir parte daquela vizinhança, como se você estivesse ali, sentado na varanda com eles, só observando o caos divertido se desenrolar. É uma comédia que não envelhece, porque a busca por pertencimento e a dificuldade de lidar com o diferente são universais.
E você, já se viu em alguma situação de mudança onde precisou desvendar os “códigos” do seu novo bairro? Ou tem um vizinho que, de primeira, parecia de um jeito e depois se revelou um grande amigo (ou um grande dor de cabeça, haha)? Me conta nos comentários!




