Ah, A Caminho do Verão. Um título que já evoca aquela brisa quente, o cheiro de maresia e a promessa de algo novo no horizonte. Quando a gente pensa em filmes adolescentes sobre o verão, a mente voa para uma certa previsibilidade, não é? Clichês, romances fugazes, lições de vida óbvias. Mas, e se eu te disser que, por vezes, esses filmes, mesmo pisando em terreno familiar, conseguem nos tocar de um jeito que a gente nem esperava? Foi um pouco isso que senti com a produção de Sofia Alvarez, lançada lá em 2022, mas que, mesmo em 2025, ainda guarda um charme peculiar que me fez querer revisitar essa história.
O meu interesse inicial em A Caminho do Verão não foi pelo estardalhaço, porque vamos combinar, não houve um. Foi mais pela curiosidade de ver como mais uma história adaptada de um romance jovem adulto se sairia nas mãos de uma diretora que também assina o roteiro. É um desafio e tanto, sabe? Pegar a interioridade de um livro e transformá-la em algo visualmente palpável, em algo que ressoa sem precisar daquela voz narrativa incessante. E, para mim, Sofia Alvarez conseguiu capturar a essência daquele limbo existencial que muitos de nós vivemos no limiar da vida adulta.
Vamos falar da Auden West, interpretada pela Emma Pasarow. Ela não é a típica protagonista adolescente que você vê por aí. Auden é uma arquiteta de sua própria prisão invisível. Os livros são seus muros, o estudo, sua cela. Uma insone crônica, ela vaga pelas noites, fugindo do silêncio que, talvez, a force a encarar o que realmente a perturba. A performance de Pasarow aqui é de uma sutileza incrível. Não vemos uma garota revoltada, mas uma alma exausta, com os olhos que parecem carregar o peso de mil noites em claro e a pressão de expectativas acadêmicas que, para ela, parecem um fardo de família. Ela não é “nerd” no sentido caricato; ela é uma jovem que se refugiou no intelecto para não sentir, para não se permitir a espontaneidade que o verão clama. E quem de nós nunca se sentiu assim, um peixe fora d’água em um ambiente que exige alegria e desprendimento?
E então, Eli Stock, o Belmont Cameli. Ele surge como um daqueles mistérios ambulantes que só o verão parece capaz de produzir. Com um passado que o assombra e um jeito descontraído que contrasta diametralmente com a rigidez de Auden, Eli é o catalisador. Mas, e aqui está uma das nuances que aprecio no filme, ele não é um “salvador”. Ele é um espelho, um guia silencioso que, com sua própria jornada de superação, ensina Auden a pisar na areia quente sem medo, a saborear um donut na madrugada, a simplesmente ser. A química entre Pasarow e Cameli é boa, daquelas que se constrói aos poucos, com olhares, silêncios e pequenas provocações que revelam muito mais do que diálogos grandiosos. Não é um romance avassalador, mas um que desabrocha na doçura de pequenas descobertas, como as luzes de um pier distante na escuridão da noite.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Diretora | Sofia Alvarez |
Roteirista | Sofia Alvarez |
Produtores | Eric Newman, Bryan Unkeless |
Elenco Principal | Emma Pasarow, Belmont Cameli, Kate Bosworth, Andie MacDowell, Laura Kariuki |
Gênero | Romance, Drama |
Ano de Lançamento | 2022 |
A ambientação é um personagem à parte. Aquele balneário à beira-mar, com seus fliperamas barulhentos, suas sorveterias vintage e o calçadão vibrante, é um convite à nostalgia. Sofia Alvarez e sua equipe de produção – Eric Newman e Bryan Unkeless – conseguem nos transportar para esse universo quase onírico, onde as noites de verão têm um brilho diferente, uma promessa silenciosa de liberdade. Você quase sente o sal no ar, o cheiro de protetor solar e a leve melancolia de um dia que termina com um pôr do sol avermelhado. É o cenário perfeito para Auden finalmente desarmar suas defesas.
E as outras mulheres na vida de Auden? Kate Bosworth, como Heidi, a nova madrasta, traz uma complexidade interessante. Ela não é a figura maquiavélica que o clichê da “madrasta” sugere, mas uma mulher em busca de conexão, tentando navegar nas águas turvas de uma família recém-formada. E Andie MacDowell, como a Dr. Victoria West, a mãe de Auden, representa aquela figura acadêmica imponente, cujas expectativas, ainda que bem-intencionadas, sufocam. Elas adicionam camadas à jornada de Auden, mostrando que as relações familiares nem sempre são preto no branco, e que o amor pode se manifestar em formas que não entendemos imediatamente. A Laura Kariuki como Maggie, por sua vez, é a amiga que Auden não sabia que precisava, um lembrete de que a vida, às vezes, só precisa de um pouco de diversão despretensiosa.
A Caminho do Verão não se propõe a reinventar a roda do gênero. Ele não tem reviravoltas chocantes ou dramas grandiloquentes. O que ele oferece é algo mais sutil, mais real. É sobre a jornada de uma garota que aprende que a vida não precisa ser uma sequência de metas a serem alcançadas, mas uma experiência a ser vivida, com pausas, desvios e, sim, alguns sorvetes de casquinha no meio do caminho. É sobre aceitar as imperfeições, as inseguranças e, acima de tudo, se permitir ser feliz.
Dois anos se passaram desde seu lançamento, e o filme ainda me faz pensar sobre a leveza que a gente tenta encontrar em meio ao caos. Ele é um lembrete gentil de que, às vezes, a melhor lição que alguém pode nos dar é a de que tá tudo bem em largar um pouco os livros e só curtir a brisa, sabe? É sobre encontrar o seu próprio ritmo, e para Auden, esse ritmo começou a tocar bem ali, “a caminho do verão”. E para você, qual foi a sua brisa de verão que mudou tudo?