A Divisão: Uma Ode ao Rio de Janeiro dos Anos 90 (e às Suas Contradições)
Seis anos depois de seu lançamento em 2019, A Divisão continua ecoando na minha memória como uma experiência visceral e complexa. A série, ambientada no Rio de Janeiro dos anos 90, mergulha de cabeça na onda de sequestros que assolou a cidade, mostrando o esforço desesperado das forças de segurança – e seus métodos duvidosos – para conter o caos. A premissa, por si só, já é um gancho irresistível, mas a execução é o que realmente me cativou, apesar de algumas falhas que não posso ignorar.
Um Rio de Janeiro Bruto e Realista
André Felipe Binder, na direção, optou por uma estética crua, que reflete perfeitamente a atmosfera tensa e violenta da época. A fotografia, carregada de sombras e cores saturadas, quase grita a realidade da favela carioca, contrastando com a opulência das áreas mais ricas. Essa dualidade visual acompanha a narrativa, que não se furta a mostrar a podridão que corroía a cidade – e isso inclui a própria polícia. A escolha de locações foi impecável, contribuindo para a imersão do espectador numa atmosfera quase palpável.
O roteiro de José Júnior, por sua vez, é uma montanha-russa. Há momentos de suspense puro, sequências de ação eletrizantes e diálogos ágeis e ricos em subtexto. No entanto, em alguns pontos, a trama se perde em subplots que, apesar de interessantes, acabam por diluir o foco principal. Talvez uma edição mais rigorosa teria tornado a série mais concisa e impactante. Mas, mesmo com essas pequenas imperfeições, a narrativa consegue construir uma atmosfera de constante tensão, mantendo o espectador em estado de alerta do início ao fim.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Criador | José Júnior |
| Diretor | André Felipe Binder |
| Elenco Principal | Sílvio Guindane, Erom Cordeiro, Cinnara Leal, Ravel Andrade, Branca Messina |
| Gênero | Crime, Drama, Action & Adventure |
| Ano de Lançamento | 2019 |
| Produtoras | Globo Filmes, AfroReggae Audiovisual, Hungry Man, A Fábrica, Multishow |
Atuações que Marcam e Personagens Que Perturbem
O elenco, sem sombra de dúvidas, é um dos pontos altos de A Divisão. Sílvio Guindane, como Mendonça, entrega uma performance brutal, com uma ambiguidade moral que te prende. Ele não é um herói, muito menos um vilão – é um homem complexo, produto de um sistema falido. Erom Cordeiro, como Santiago, contracena com maestria, mostrando a luta interna de um policial honesto em meio a um ambiente corrupto. Cinnara Leal, Ravel Andrade e Branca Messina completam o quadro com atuações sólidas e personagens bem construídos, cada um com suas nuances e motivações. O quinteto funciona como uma engrenagem, onde cada peça, mesmo sendo individualmente interessante, é fundamental para o mecanismo como um todo.
Pontos Fortes e Fracos – Uma Balança Delicada
Entre os pontos fortes, destaco a fotografia marcante, a construção tensa e realista da narrativa e as ótimas atuações. A série não se esquiva de mostrar a brutalidade da realidade carioca, sem romantizar ou banalizar a violência. A Divisão consegue transmitir a atmosfera sufocante de um período conturbado da história do Rio de Janeiro.
Por outro lado, como já mencionei, alguns subplots poderiam ter sido melhor desenvolvidos ou até mesmo cortados, agilizando o ritmo. Em alguns momentos, a série peca por um certo excesso de melodrama, que, apesar de gerar impacto, compromete, em alguns momentos, a verossimilhança.
Temas e Mensagens: Mais que uma Série Policial
A Divisão é mais do que uma simples série policial. Ela funciona como um retrato ácido e complexo da sociedade carioca dos anos 90, explorando temas como a corrupção policial, a desigualdade social, e a fragilidade do Estado. A série não oferece respostas fáceis, mas sim provoca reflexões sobre a violência, o poder e a busca por justiça numa sociedade profundamente dividida. É essa capacidade de provocar e instigar a reflexão que eleva a série a um patamar além do entretenimento puro.
Conclusão: Assista. Mas vá preparado.
Seis anos depois, minha recomendação para A Divisão permanece inabalável: assista. A série, apesar de suas imperfeições, é uma experiência memorável, uma imersão profunda e tensa num período sombrio da história do Rio de Janeiro. Mas, prepare-se para uma montanha-russa emocional, para personagens ambíguos e uma narrativa que não poupa detalhes da realidade bruta da cidade. A Divisão não é para quem busca apenas entretenimento leve; é para quem busca uma narrativa desafiadora, corajosa e, acima de tudo, memorável. Se você busca uma série policial que te faça pensar, que te perturbe e que te marque, A Divisão é a escolha certa. A série foi bem recebida pela crítica especializada em 2019, e, com o tempo, seu impacto parece ter se solidificado. No streaming, ela certamente encontrará um público ávido por uma boa história de crime.




