A Dupla Explosiva

Sabe, há algo quase sagrado em revisitar os pilares da nossa memória afetiva. Eu mesmo, vez ou outra, me pego folheando velhas edições de quadrinhos ou escutando aquelas músicas que me acompanharam na adolescência, e é uma sensação estranha. Um misto de aconchego familiar e um frio na barriga, uma pergunta silenciosa: será que a magia ainda está lá? É com esse espírito, essa bagagem de carinho e um tiquinho de apreensão, que eu me sentei para finalmente escrever sobre A Dupla Explosiva. Porque vamos ser honestos, falar de um filme que se propõe a ser um “reboot” de Bud Spencer e Terence Hill não é só uma crítica; é quase uma declaração de intenções, um mergulho num oceano de nostalgia.

Em 2022, o mundo viu surgir essa nova aventura, e cá estamos nós, em 2025, ainda mastigando a ideia. A premissa, pra mim, já é um aceno respeitoso ao passado: dois irmãos, Carezza e Sorriso, afastados por 25 anos, se reencontram pela mais nobre das causas – recuperar o bugue do pai. Não é um tesouro perdido, um diamante roubado; é um bugue. Um pedaço de metal, fibra e borracha que carrega mais do que rodas, carrega história, cheiro de gasolina e, provavelmente, a sombra de muitos tapas e risadas. Isso já me pegou. É a simplicidade que tantas vezes definia o charme dos filmes originais.

Edoardo Pesce, como Carezza, e Alessandro Roja, como Sorriso, tinham uma tarefa hercúlea. Não é imitar, percebe? É mais sobre canalizar uma energia. Bud Spencer e Terence Hill eram únicos, e tentar replicar isso seria um erro crasso. O que eu vi em Pesce e Roja, no entanto, foi uma química que se construiu lentamente, como a fumaça de um bom charuto. Carezza, com seu jeito mais robusto, um pouco mais impulsivo, e Sorriso, o mais esguio, com aquele olhar de quem está sempre maquinando algo – a dinâmica é familiar, mas tem um sabor próprio. As cenas de luta, marca registrada, aqui ganham uma coreografia que, sim, evita o sangue, mas não o impacto cômico. Cada soco é quase uma nota musical, um “tum-pa-pá” que ressoa com a leveza e a precisão necessárias para arrancar um sorriso, não um arrepio. A gente vê a poeira subindo, o corpo rolando, mas a gente sente a intenção: diversão pura, sem pretensões.

Mas um filme não vive só de sua dupla principal, não é mesmo? O elenco de apoio é a tapeçaria que dá cor ao pano de fundo. Christian De Sica, um veterano da comédia italiana, surge como Torsillo, e a gente quase sente o cheiro do charuto cubano quando ele entra em cena. Sua presença confere um toque de vilania charmoso, quase um contraponto caricato que se encaixa perfeitamente no universo proposto. E Alessandra Mastronardi como Miriam? Ela não está ali para ser apenas a “moça em apuros”. Miriam tem uma presença forte, um olhar que parece dizer “eu sei o que estou fazendo, obrigada”, e adiciona uma dimensão mais real, mais palpável, aos irmãos e à sua jornada. É como um tempero picante que a gente não espera, mas que faz toda a diferença.

AtributoDetalhe
DiretoresNiccolò Celaia, Antonio Usbergo
RoteiristasFrancesco Cenni, Paolo Fondato, Tommaso Renzoni, Giancarlo Fontana, Vincenzo Alfieri, Giuseppe G. Stasi, Manuel Fondato
ProdutoresMattia Guerra, Stefano Massenzi, Federico Scardamaglia, Andrea Occhipinti, Francesco Scardamaglia
Elenco PrincipalEdoardo Pesce, Alessandro Roja, Alessandra Mastronardi, Christian De Sica, Francesco Bruni, Massimiliano Rossi, Michael Schermi, Gabriele Cristini, Christian Monaldi, Davide Zanfrisco
GêneroComédia, Ação
Ano de Lançamento2022
ProdutorasLucky Red, Compagnia Leone Cinematografica

Os diretores Niccolò Celaia e Antonio Usbergo, junto com a plêiade de roteiristas, não se limitaram a copiar. Houve uma tentativa genuína de transpor a essência para os dias de hoje. A narrativa é linear, sim, mas pontuada por flashbacks que nos mostram os jovens Carezza e Sorriso (Gabriele Cristini e Christian Monaldi, respectivamente) em momentos de pura inocência e promessa. Isso dá uma profundidade inesperada à busca pelo bugue, transformando-a não apenas numa aventura física, mas numa jornada de reconciliação com o passado e com o vínculo fraternal. O bugue não é só um veículo; é um portal.

Eu penso, enquanto reflito sobre A Dupla Explosiva, sobre o poder das histórias que nos levam de volta a um tempo mais simples. Aquelas que nos fazem rir sem culpa, que nos fazem torcer por heróis imperfeitos, que se metem em encrencas por motivos quase tolos, mas que lá no fundo são os mais humanos. A gente vê a poeira das estradas italianas (ou das que as representam), sente o calor do sol, quase ouve o barulho do motor do bugue e, mais importante, a gente sente o reencontro entre esses dois irmãos. E essa, pra mim, é a verdadeira magia.

É uma pena que, três anos após seu lançamento original na Itália, o Brasil ainda não tenha tido a oportunidade oficial de mergulhar nessa aventura. É um tipo de cinema que, eu arriscaria dizer, tem um lugar cativo no coração de muita gente por aqui. Mas, de qualquer forma, A Dupla Explosiva se apresenta como uma carta de amor, com suas próprias tintas e sua própria caligrafia, a um legado que merecia ser revisitado. Não é um tributo cego, não é uma cópia deslavada. É uma nova história, com um eco familiar, que prova que, às vezes, tudo o que precisamos é um bugue, dois irmãos e uma boa briga para fazer o mundo parecer um lugar um pouco mais divertido de novo. E isso, meu amigo, já é muita coisa.

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