Confesso, cheguei a A Fabulosa Gilly Hopkins com certa reserva. Adaptação de um livro de Katherine Paterson, autora da belíssima “Ponte para Terabítia”, a premissa, por si só, já carregava uma responsabilidade considerável. E, sinceramente? O filme de 2015, que chegou aos cinemas brasileiros em 4 de novembro de 2016, é uma montanha-russa emocional que me pegou de surpresa. Deixou-me com um sorriso irônico e, ao mesmo tempo, lágrimas nos olhos – uma prova de que uma boa história transcende a perfeição técnica.
A sinopse, sem spoilers, é simples: Gilly, uma garota de 12 anos, já passou por inúmeros lares adotivos e, em seu último lar, com a severa Maime Trotter, arquiteta uma fuga elaborada para reencontrar sua mãe biológica. A jornada, porém, revela que a realidade é muito mais complexa do que a garota esperava. Esta é a base para uma explosão de emoções, muito mais sutil e menos melodramática do que eu temia.
A direção de Stephen Herek, conhecido por comédias mais leves, equilibra com sensibilidade a comédia e o drama, evitando o tom piegas que poderia facilmente tombar a narrativa. Há momentos de humor genuíno, que surgem naturalmente das situações e das reações da protagonista, sem forçar a barra. O roteiro de David Paterson, que, coincidentemente, não tem relação familiar com a autora do livro, adapta a história com respeito à obra original, mas torna a narrativa acessível para o público mais jovem, sem infantilizá-la.
As atuações são o ponto alto. Sophie Nélisse, como Gilly, é simplesmente fenomenal. Ela consegue transmitir a casca dura, a resiliência e a vulnerabilidade da personagem com uma precisão impressionante. Kathy Bates, como Maime Trotter, entrega uma performance matizada, onde o rigor se funde com um carinho reprimido, revelando uma profundidade inesperada. Glenn Close, em uma participação menor como a mãe de Gilly, e o elenco de apoio, incluindo Bill Cobbs e Octavia Spencer, complementam o quadro com interpretações sólidas.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Stephen Herek |
| Roteirista | David Paterson |
| Elenco Principal | Sophie Nélisse, Kathy Bates, Glenn Close, Bill Cobbs, Octavia Spencer |
| Gênero | Comédia, Drama, Família |
| Ano de Lançamento | 2015 |
| Produtoras | Arcady Bay Entertainment, Inkling Entertainment |
No entanto, o filme não é isento de falhas. Certos arcos narrativos poderiam ser mais aprofundados, e alguns momentos se alongam desnecessariamente. Em retrospecto, em 2025, acredito que uma edição mais precisa poderia ter fortalecido o impacto da narrativa. Mas, mesmo com esses pequenos deslizes, A Fabulosa Gilly Hopkins consegue transmitir sua mensagem central com força e clareza: a importância da família, do amor incondicional e da busca pela identidade, mesmo em meio às adversidades.
A trama explora temas como a negligência parental, a busca pela pertença e a construção de laços afetivos, oferecendo uma visão complexa e nuançada da vida de uma criança em situação de vulnerabilidade. É um filme que toca em pontos delicados, mas o faz com delicadeza e sem julgamentos moralistas. A complexidade dos personagens, inclusive dos adultos, evita a construção de vilões caricatos, mostrando a fragilidade e os dilemas presentes em cada indivíduo.
Em resumo, A Fabulosa Gilly Hopkins é um filme que me surpreendeu positivamente. Apesar de suas pequenas imperfeições, a força da atuação de Sophie Nélisse, a sensibilidade na direção e a profundidade da mensagem tornam esta adaptação uma experiência memorável. Em um cenário de produção onde longas desse gênero costumam ser apressados ou simplificados demais para o público infantil, o filme merece ser lembrado, dez anos após o lançamento. Recomendo fortemente a todos que buscam uma história emocionante, comovente e profundamente humana, que certamente ficará gravada na memória, mesmo que talvez não tenha alcançado o reconhecimento que merecia após seu lançamento. Vale a pena procurar por ele nas plataformas digitais.




