A Filha do Rei do Pântano: Um Thriller Familiar que Agarra e Solta
Dois anos se passaram desde que A Filha do Rei do Pântano chegou aos cinemas brasileiros em 28 de setembro de 2023. E, olhando para trás, ainda sinto um eco daquela experiência. Não foi um filme perfeito, longe disso, mas carregava uma inquietante potência que me fez refletir bastante, mesmo depois dos créditos finais. A trama gira em torno de Helena, uma mulher que tenta desesperadamente escapar das garras de um passado sombrio: sua infância em cativeiro nas mãos do pai, o temido “Rei do Pântano”. Quando ele escapa da prisão, o passado volta para assombrá-la, forçando-a a confrontar seus traumas e a verdadeira natureza de sua família.
Neil Burger, diretor conhecido por sua estética visual marcante (pensem em “O Ilusionista”), entrega aqui um trabalho competente, mas que talvez pecasse por um certo convencionalismo. A fotografia, em tons escuros e opressivos, reflete perfeitamente a atmosfera claustrofóbica da história. No entanto, a direção não consegue se libertar completamente de certas fórmulas do gênero thriller, deixando alguns momentos previsíveis e um tanto desprovidos daquela vibração visceral que poderia elevá-lo a um nível superior.
O roteiro, assinado por Elle e Mark L. Smith, apresenta uma premissa promissora, mas tropeça em alguns pontos. A construção de Helena, o desenvolvimento de sua relação complexa com o pai e a exploração dos traumas da infância são pontos altos, porém, a trama se perde em alguns subplots que não acrescentam muito à narrativa principal, diluindo um pouco a força do impacto emocional. A personagem de Beth, interpretada por Caren Pistorius, por exemplo, apesar de ter potencial, ficou superficial e subdesenvolvida, o que achei uma pena.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Neil Burger |
Roteiristas | Elle Smith, Mark L. Smith |
Produtores | Teddy Schwarzman, Keith Redmon, Mark L. Smith |
Elenco Principal | Daisy Ridley, Ben Mendelsohn, Garrett Hedlund, Caren Pistorius, Brooklynn Prince |
Gênero | Thriller, Crime, Mistério |
Ano de Lançamento | 2023 |
Produtoras | Black Bear Pictures, Anonymous Content, STXfilms |
A atuação, porém, resgata grande parte do filme. Daisy Ridley entrega uma performance poderosa e contida como Helena, transmitindo a fragilidade e a força da personagem com impressionante maestria. Ben Mendelsohn, como o ameaçador Jacob (o Rei do Pântano), é aterrador na medida certa, sem cair nos clichês de vilão unidimensional. A química entre os dois atores é palpável e carrega grande parte do peso emocional da narrativa. A jovem Brooklynn Prince, no papel da Helena criança, também merece menção honrosa por sua interpretação comovente. Garrett Hedlund, como Stephen, desempenha seu papel de forma eficiente, mas seu arco narrativo não é tão memorável.
Um dos pontos fortes de A Filha do Rei do Pântano reside na exploração dos temas de abuso, trauma e a complexa relação entre pais e filhos. O filme não se esquiva das consequências do cativeiro e o impacto psicológico duradouro na vida de Helena, sem, no entanto, cair no sensacionalismo gratuito. A mensagem, por sua vez, é ambivalente, não oferecendo respostas fáceis para questões perturbadoras, mas forçando o espectador a confrontar a própria natureza da família, lealdade e perdão.
Por outro lado, a previsibilidade de alguns acontecimentos e o ritmo irregular são pontos negativos que impedem o filme de alcançar seu potencial máximo. Há momentos de pura tensão, seguidos de outros que parecem arrastar-se sem propósito. A sensação final é que o roteiro, apesar do talento dos envolvidos, poderia ter sido trabalhado com mais precisão, para garantir um impacto maior.
No geral, A Filha do Rei do Pântano é um thriller familiar que, apesar de seus defeitos, vale a pena ser visto. As atuações excepcionais de Daisy Ridley e Ben Mendelsohn, a atmosfera tensa e a exploração de temas complexos compensam em parte as falhas narrativas. Recomendo o filme para aqueles que apreciam thrillers com um toque de drama psicológico e que não se assustam com a representação de temas pesados. Para os fãs de filmes de suspense mais elaborados e sofisticados, talvez a experiência seja um pouco menos impactante. Mas, para mim, permanece uma peça memorável no caleidoscópio da cinematografia do ano de 2023. A experiência, dois anos depois, ainda me acompanha.