A Gestora

Sabe aquela sensação de estar na beira de um precipício, com a chance de voar ou despencar? É mais ou menos por aí que a gente é levado ao assistir A Gestora, um drama espanhol que me pegou de surpresa e, confesso, ainda ecoa na minha cabeça um bom tempo depois de sua estreia por aqui em 2022. Não é só mais uma história sobre ambição; é um mergulho profundo nos dilemas morais que a gente, às vezes, prefere empurrar para debaixo do tapete. E por que eu tô te falando disso? Porque o filme, dirigido por Fran Torres e roteirizado por Laura Sarmiento, tem aquela capacidade rara de nos fazer questionar as nossas próprias escolhas, os nossos “até onde eu iria” pessoais.

A narrativa nos apresenta Sofía (Cumelén Sanz), uma jovem que exala aquela fome de mundo, a energia e a impaciência de quem sabe que tem talento, mas ainda não encontrou a porta certa para desabrochar. Ela é o tipo de pessoa que você reconhece em si mesmo ou em alguém próximo: vibrante, cheia de potencial, mas talvez um pouco ingênua sobre o custo real do sucesso. Do outro lado da balança, ou talvez no topo da pirâmide, está Beatriz (Aitana Sánchez-Gijón), a tal “Gestora”. E que presença, meu amigo! Beatriz é o tipo de mulher que entra em uma sala e parece sugar todo o oxigênio, não por prepotência óbvia, mas por uma aura de controle impecável, um olhar de aço que não perde um único detalhe. Ela não precisa levantar a voz para que suas palavras, esculpidas em mármore, pesem toneladas.

O ponto de virada, e o cerne de todo o drama, é o acordo inusitado que Beatriz propõe a Sofía. Não é um contrato de trabalho comum, não é um aumento de salário padrão. É algo que se costura nas entrelinhas, uma barganha que, a princípio, parece a oportunidade dos sonhos para a jovem e ambiciosa Sofía. A Republicana de Cine, produtora do filme, conseguiu nos entregar uma atmosfera que é, ao mesmo tempo, elegante e opressora. As salas de escritório brilhantes e frias, a arquitetura moderna que deveria inspirar clareza, mas que aqui parece apenas acentuar a distância entre as pessoas e a proximidade com o abismo ético.

O que me prendeu em A Gestora não foi um plot twist mirabolante, mas a forma como a Laura Sarmiento constrói a deterioração da convicção de Sofía. Você vê a efervescência juvenil dela começando a murchar, os olhos antes tão fixos na linha de chegada começam a desviar, capturando sombras nas esquinas dos corredores chiques, como se o luxo que ela tanto almejava estivesse, de repente, embaçado por uma névoa de dúvida. Cumelén Sanz entrega essa transformação de forma sublime. Acompanhamos cada tremor nas mãos, cada hesitação na voz, o peso que se acumula nos ombros de sua personagem à medida que ela percebe que a escada para o sucesso pode ter sido construída com degraus feitos de areia movediça.

Atributo Detalhe
Diretor Fran Torres
Roteirista Laura Sarmiento
Produtores Guillermo Sempere, Fran Torres, Juan Moreno, Dany Boyero
Elenco Principal Aitana Sánchez-Gijón, Cumelén Sanz, Younes Bachir, Pedro Casablanc, Salomé Jiménez, María Fernández Prat, Vanesa Rasero, Álex Pastrana, Adán Redondo, Mehdi Regragui
Gênero Drama
Ano de Lançamento 2022
Produtora Republicana de Cine

E Aitana Sánchez-Gijón, gente! Ela não interpreta Beatriz, ela é Beatriz. Sua performance é uma aula de contenção e poder velado. Não há excessos, não há melodrama. Há apenas a frieza calculista de alguém que já viu e fez de tudo, e que agora manipula as peças do seu jogo com a precisão de um cirurgião. É ela quem nos faz entender que o verdadeiro terror, muitas vezes, não está nos monstros óbvios, mas naqueles que se vestem de mentores, oferecendo um futuro brilhante com uma mão, enquanto a outra prepara a armadilha.

Os coadjuvantes, como Younes Bachir como Hamid e Pedro Casablanc como Julio, também adicionam camadas importantes, cada um à sua maneira, à complexidade da rede de relacionamentos e pressões que cercam as protagonistas. Eles não são meros figurantes; são elos na corrente que ora sustenta, ora prende Sofía. Fran Torres, na direção, consegue manter um ritmo que é lento o suficiente para que a tensão se acumule, mas nunca arrastado. Cada cena parece respirar, permitindo que a gente sinta o peso dos olhares, o silêncio carregado de significados, a atmosfera pesada das decisões irrevogáveis.

O filme é um espelho, né? Ele nos força a encarar o custo invisível da ambição desmedida, o quão fácil é cruzar a linha tênue entre o pragmatismo e a perda da própria essência. Já faz um tempo desde que A Gestora desembarcou por aqui, lá em agosto de 2022, mas a verdade é que certas obras têm um poder de permanência que desafia o calendário. Ela nos faz pensar: até que ponto vale a pena abrir mão de quem a gente é para se tornar quem a gente “deveria” ser? E quando as dúvidas começam a surgir, como Sofía percebe, pode ser tarde demais para sequer cogitar um retorno. A Gestora não te entrega respostas fáceis; em vez disso, te deixa com um nó na garganta e muitas perguntas, daquelas que a gente continua mastigando muito depois que os créditos sobem. E isso, pra mim, é a marca de um grande drama.

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