O que faz um filme de terror realmente nos assombrar? Para mim, não é só o susto pulando da tela, o monstro de CGI impecável ou o sangue jorrando sem parar. Não, o que me pega, o que me faz realmente dormir com a luz acesa, é aquela sensação de que algo muito, muito antigo está se manifestando, que o passado insiste em não nos deixar em paz. É aquela convicção visceral de que a história, as escolhas dos nossos antepassados, podem nos alcançar, décadas, séculos depois, e cobrar um preço que não fazíamos ideia que existia. E é por essa janela que A Maldição, lançado em 2021, me pegou de jeito e me arrastou para dentro de sua trama sombria.
Você já parou para pensar no peso de ser parte de uma linhagem? Em como as decisões de uma bisavó ou de um tataravô poderiam ecoar através do tempo, manchando o destino dos seus descendentes? Eu, particularmente, adoro quando o terror mergulha nesse poço profundo da herança, e A Maldição faz isso com uma habilidade que beira o perturbador. Inspirado no rico e muitas vezes esquecido folclore do Leste Europeu – um caldeirão de mitos onde o real e o sobrenatural se misturam de forma indistinguível –, o filme nos lança no cerne de uma traição tão impensável que catalisa uma maldição maléfica, um pacto de sangue que se agarra à alma de uma família.
Não estamos falando de um feitiço bobo; aqui, a feitiçaria e os rituais que a engendram parecem vir de um lugar de pura malevolência, onde a dor e a vingança são os ingredientes principais. Décadas se esvaem, as folhas caem e a história segue seu curso, até que um casamento, aparentemente inocente, une as próximas gerações de famílias distantes, mas intrinsecamente ligadas por essa teia ancestral. E como em todo bom conto de horror, o que está dormente não permanece assim por muito tempo. Um deles, de forma totalmente inconsciente, destrava a caixa de Pandora, despertando uma força negra que, como um predador faminto, começa a eliminar os membros da família, um por um. É aquele tipo de terror que te faz questionar cada ruído na sua própria casa.
No centro desse turbilhão está Hana, interpretada com uma solidez silenciosa e uma determinação que transborda da tela por Yancy Butler. Hana é a matriarca da linhagem de hoje, e é sobre seus ombros que recai o fardo de desvendar essa charada macabra antes que a maldição, essa coisa sedenta por sangue, engula todos para sempre. Yancy Butler não se entrega a gritos histéricos ou a reações exageradas; ela tece Hana com a quietude de quem já viu demais, com o peso de uma sabedoria talvez dolorosa, e a sua busca por respostas se torna a nossa, quase palpável, como se o frio da ameaça se infiltrasse na nossa própria pele.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | Elizabeta Vidovic, Kathryn Michelle |
| Roteiristas | Elizabeta Vidovic, Kathryn Michelle |
| Produtores | Mem Ferda, Elizabeta Vidovic, Kathryn Michelle, Izabela Vidovic |
| Elenco Principal | Yancy Butler, Izabela Vidovic, George H. Xanthis, Maiara Walsh, Melora Walters |
| Gênero | Terror |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtoras | Almost Normal Productions, Blue Jean Baby Productions, RMR Productions, Compound B |
Ao lado dela, temos um elenco que contribui para essa atmosfera de tensão crescente. Izabela Vidovic, como Sunny, traz uma energia jovem e um despertar que é tanto uma benção quanto uma fonte de desgraça. George H. Xanthis (Petar) e Maiara Walsh (Zara) adicionam camadas de drama familiar e desespero, enquanto Melora Walters, no papel de Naida, carrega uma aura que me fez questionar suas intenções a cada olhar, a cada fala sussurrada. É um jogo de atuações que constrói um mosaico de vulnerabilidade e segredos, onde cada membro da família parece estar tanto em perigo quanto, quem sabe, carregando uma parte da culpa.
O que me impressiona na direção de Elizabeta Vidovic e Kathryn Michelle, que também assinam o roteiro, é como elas conseguem equilibrar o horror ancestral com o drama humano contemporâneo. Elas não se contentam em apenas nos mostrar monstros; elas nos fazem sentir o peso do passado, a inevitabilidade de um destino pré-determinado, e a luta desesperada para mudá-lo. O roteiro não tem medo de mergulhar nas ambiguidades, de nos fazer questionar a natureza da culpa e do perdão através das gerações. As cenas são construídas com um ritmo que varia entre a calmaria tensa e a explosão de pavor, quase como um coração batendo acelerado e, de repente, quase parando.
E os detalhes visuais? Ah, esses detalhes! Há uma estética que evoca um certo ar gótico e rural, misturando-se com a vida moderna. E quando a maldição se manifesta, o filme não foge do macabro. Sem entregar demais, digo que há momentos em que a câmera se detém em imagens perturbadoras que remetem a rituais antigos e sacrifícios, com ecos de partes do corpo que se separam, insinuando uma brutalidade que aprofunda a sensação de que estamos lidando com algo muito mais primordial do que um simples fantasma.
A produção, com o envolvimento de Mem Ferda, Elizabeta Vidovic, Kathryn Michelle e Izabela Vidovic, e a colaboração de produtoras como Almost Normal Productions e Blue Jean Baby Productions, conseguiu criar um universo que parece ao mesmo tempo familiar e estranhamente alienígena. A Maldição não é um filme que se apoia em jargões de terror batidos; ele constrói sua atmosfera de pavor através da narrativa, das performances e de um senso inabalável de que o tempo está se esgotando para Hana e sua família.
Quando os créditos subiram e eu me vi ali, ainda com o frio na espinha, percebi que A Maldição não se limita a ser apenas mais um filme de terror. Ele é um lembrete vívido de que as raízes do nosso passado são profundas e, às vezes, sangrentas. E que, quem sabe, as escolhas de quem veio antes de nós ainda podem estar sussurrando em nossos ouvidos, aguardando o momento certo para nos cobrar. E isso, meu caro leitor, é o verdadeiro terror.




