Desde que me entendo por gente, sou daqueles que busca uma boa história onde a linha entre o natural e o inexplicável se esboroa. E se há algo que o cinema coreano faz com maestria, é exatamente isso: pegar um gênero familiar, virá-lo de cabeça para baixo e nos entregar algo que mastigamos por dias a fio. Foi com essa expectativa no coração que, lá em novembro de 2022, quando A Maldição: Despertar dos Mortos chegou ao Brasil, eu me joguei de cabeça. E olha, o filme não só atendeu, como superou as minhas já altas expectativas, tornando-se uma daquelas experiências cinematográficas que te fazem refletir sobre o que realmente significa ter medo.
Sabe, a gente tá acostumado com zumbis, não é? Andam devagar, mordem, espalham o caos. Mas imagine o susto – e a genialidade – de se deparar com a ideia de cadáveres cometendo assassinatos com um propósito, com uma mente por trás. É com essa premissa arrepiante que somos jogados no universo de “A Maldição”. Um corpo é encontrado ao lado da vítima, aparentemente o assassino. Mas o choque vem quando a perícia revela que o suposto culpado já estava morto… há três meses. É um nó na cabeça que só um bom thriller de mistério é capaz de dar, e o filme o faz com uma elegância perturbadora.
Nesse turbilhão, entra a jornalista Lim Jin-hee, interpretada com uma intensidade palpável por Uhm Ji Won. Ela não é a heroína de ação clichê; é uma mulher real, com a sede de verdade que define um bom repórter, mas também com o desespero e a vulnerabilidade de alguém que se vê no epicentro de algo sobrenatural e incrivelmente perigoso. As linhas de preocupação em seu rosto, a forma como sua voz oscila entre a determinação e o terror enquanto ela investiga, tudo isso nos conecta profundamente à sua jornada. A gente sente o peso da descoberta com ela, a urgência de cada ligação misteriosa que recebe de um homem que se declara o mentor por trás dos crimes.
E o que esse homem promete? Mais três assassinatos, orquestrados por mortos-vivos ressuscitados, os chamados Jaechaui. Não são os zumbis cambaleantes que conhecemos; são marionetes cadavéricas, ágeis, violentas, e o pior: sob o comando de alguém. Quando o dia do primeiro assassinato anunciado chega, a cena é de uma tensão que me fez prender a respiração. A polícia, preparada para prender um humano, se vê em choque diante de um exército de Jaechaui. O caos que se instala é de tirar o fôlego, coreografado com uma brutalidade que beira o artístico, mas nunca perdendo o terror inerente à ideia de ser atacado por algo que já deveria estar em paz.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | 김용완 |
| Roteirista | 연상호 |
| Produtor | Lim Min-sub |
| Elenco Principal | Uhm Ji Won, 정지소, 정문성, 김인권, 고규필 |
| Gênero | Thriller, Mistério, Terror |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtoras | Climax Studios, Studio Dragon, CJ Entertainment, KEYEAST, CJ ENM |
O roteiro, assinado por Yeon Sang Ho (o mesmo gênio por trás de “Train to Busan” e “Hellbound”), não brinca em serviço. Ele não só nos entrega o terror dos Jaechaui, mas tece uma complexa teia de mistério sobre quem está por trás dessa abominação e, mais importante, qual o motivo. É uma caçada que vai além da simples identificação do vilão; ela mergulha nas profundezas da maldade humana, do poder oculto e da exploração da crença. Cada revelação nos leva a mais perguntas, cada pista nos empurra para um abismo de possibilidades. A gente tenta montar o quebra-cabeça junto com a Jin-hee, sentindo a frustração e o medo de cada passo em falso.
É fascinante como o diretor Kim Yong Wan consegue manter o ritmo. Ele alterna entre momentos de puro pânico e sequências de suspense sufocante, onde a ameaça é mais psicológica do que física. As atuações são um ponto alto, com Jung Ji So (Baek So-jin) entregando uma performance enigmática e Jung Moon Sung (Jung Seong-jun) adicionando camadas de ambiguidade que enriquecem o enredo. E o que dizer de Kim In Kwon (Kim Pil-sung) e Go Kyu Pil (Tak Jung-hoon)? Eles trazem um toque de humanidade e até um alívio cômico sutil em meio à escuridão, personagens que a gente torce para que sobrevivam, pra ser sincero.
A produção, com o peso de estúdios como Climax Studios, Studio Dragon e CJ Entertainment, é impecável. Os efeitos visuais que dão vida aos Jaechaui são convincentes e assustadores, e a cinematografia cria uma atmosfera sombria e opressiva que é essencial para o gênero. Não é apenas um filme sobre zombies ou mortos que despertam; é uma exploração da maldição que a ambição e o desespero podem lançar sobre os vivos.
A Maldição: Despertar dos Mortos é um daqueles filmes que permanecem na sua mente muito tempo depois de os créditos rolarem. Ele te convida a questionar, a sentir, a se perder em seu complexo enredo. Se você, como eu, aprecia um thriller de terror que não subestima a inteligência do público, que te oferece um mistério densamente construído e personagens com os quais você realmente se importa, então você precisa dar uma chance a essa pérola do cinema coreano. É uma viagem intensa, arrepiante e incrivelmente satisfatória. E sim, ainda hoje, às vezes, me pego pensando naqueles Jaechaui… e sinto um arrepio. Que cinema, hein?




