A Maré Mudou: Uma Ode às Sereias Modernas (e seus Problemas)
Em 2017, a Piller/Segan nos presenteou com A Maré Mudou, um filme que, oito anos depois, ainda me acompanha – não sem alguns ressalvos, é claro. Trata-se de um drama fantástico, focado na adolescente Miranda Merchant (uma Emily Rudd com uma presença fascinante), que descobre uma conexão ancestral com os Seawalkers, seres lendários, meio humanos, meio marinhos. A trama se desenvolve a partir dessa revelação, misturando elementos de aventura, romance e um toque de mitologia particular. Não vou revelar os detalhes da jornada de Miranda, mas posso garantir que ela envolve segredos de família, amizades inesperadas e uma luta pela preservação de uma cultura milenar.
A direção de Chris Grismer é um ponto alto do longa. Grismer consegue equilibrar o tom introspectivo das sequências centradas em Miranda com as cenas mais dinâmicas e visualmente ricas envolvendo o mundo subaquático dos Seawalkers. A fotografia, com seus tons azulados e esverdeados, cria uma atmosfera mágica e misteriosa, que cativa o espectador do início ao fim. Contudo, achei que em alguns momentos o roteiro de Liz Sczudlo se perde em detalhes desnecessários, distraindo a atenção da narrativa principal. Existem subplots que, apesar de bem intencionados, não contribuem significativamente para o desenvolvimento da história central, levando o filme a uma certa dispersão narrativa.
As atuações, de modo geral, são sólidas. Emily Rudd entrega uma performance convincente, transmitindo a confusão, a insegurança e a descoberta gradual da identidade de sua personagem. Keenan Tracey, como TJ, e Skyler Maxon, como Leo, desempenham seus papéis de forma competente, mesmo que seus personagens sejam um tanto arquétipicos. Maria Dizzia e Sarah Power, em seus papéis menores, adicionam profundidade e textura ao universo da trama. No entanto, os diálogos em alguns momentos soaram um pouco forçados, pecando por um certo academicismo que não casou bem com a espontaneidade que o tema merecia.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Diretor | Chris Grismer |
Roteirista | Liz Sczudlo |
Elenco Principal | Emily Rudd, Keenan Tracey, Skyler Maxon, Maria Dizzia, Sarah Power |
Gênero | Drama, Cinema TV, Fantasia |
Ano de Lançamento | 2017 |
Produtora | Piller/Segan |
Um dos pontos fortes de A Maré Mudou reside na sua abordagem do tema da identidade. Miranda luta para se encaixar, tanto no mundo humano quanto no mundo dos Seawalkers, e essa jornada de autodescoberta ressoa com o público. O filme também toca em questões de preservação ambiental, apresentando uma crítica sutil, mas eficaz, à nossa relação com o oceano. Por outro lado, a mitologia apresentada, apesar de original, é pouco explorada, e poderia ter sido enriquecida com mais profundidade e detalhes. Faltava um aprofundamento no folclore dos Seawalkers, deixando um gostinho de “quero mais” que acabou por ser frustrante.
Ao final da projeção, a sensação que ficou foi de um filme com um enorme potencial, mas que não foi totalmente explorado. A Maré Mudou não é um filme memorável, mas tem seus momentos. A beleza visual, a performance de Emily Rudd e a abordagem dos temas de identidade e preservação ambiental são seus pontos fortes. Se você está procurando um filme de fantasia leve, com um toque de drama adolescente, e não se importar com algumas falhas narrativas, vale a pena dar uma chance. Acho que, em plataformas de streaming, ele encontra seu público ideal. O filme merece uma segunda chance, especialmente para quem aprecia o gênero – e, honestamente, a fotografia é belíssima o bastante para justificar uma maratona noturna. Para quem busca um cinema mais denso e experimental, porém, talvez seja melhor procurar outras opções em seu catálogo. Em resumo, um filme que fica na memória, porém, não no topo das recomendações.