Ah, A Noite do Jogo! Sabe, quando a gente olha para trás, para o cinema de alguns anos atrás – e em 2025, um filme de 2018 já tem um certo aroma de “clássico recente” –, alguns títulos simplesmente se recusam a sair da memória. Para mim, este é um deles. Lembro-me claramente de como embarquei nessa viagem sem grandes expectativas, talvez só pela presença do Jason Bateman, um mestre da comesticidade seca. O que eu encontrei, porém, foi uma explosão de risadas nervosas e reviravoltas que me deixaram literalmente de queixo caído. É o tipo de filme que você recomenda com um brilho nos olhos, dizendo: “Você precisa assistir a isso, mas não leia nada a respeito!”
O charme de A Noite do Jogo começa em sua premissa, que é deliciosamente simples e universal: um grupo de amigos adultos se reúne para suas noites de jogos, um refúgio da rotina, um espaço onde a competitividade saudável flerta perigosamente com a megalomania. Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams), o casal anfitrião, são o coração dessa dinâmica, e a química entre Bateman e McAdams é palpável, real, daquelas que te fazem acreditar que eles realmente dividem a escova de dentes. Eles são charmosos, espirituosos, e tão obcecados por jogos de tabuleiro quanto qualquer um de nós que já passou horas montando um Catan ou desvendando um Dixit.
Mas aí a rotina é quebrada, não é? O irmão de Max, Brooks (Kyle Chandler), entra em cena. E Brooks, com seu ar de sucesso e charme questionável, é a faísca que incendeia tudo. Ele propõe uma noite de “mistério e assassinato” tão imersiva que nem os próprios participantes conseguem distinguir o que é real do que é parte do “jogo”. E é aí que a coisa degringola de um jeito que você nunca, jamais, esperaria. Quando Brooks é genuinamente sequestrado bem na frente dos olhos deles, e ninguém acredita que seja verdade, os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (que também assinam parte do roteiro) nos puxam para dentro de um turbilhão de comédia de erros, crime e mistério que é pura adrenalina.
O que me fisgou, e ainda me fisga, é a forma como o filme balanceia os gêneros. Não é apenas uma comédia boba; é uma comédia dark, com uma dose saudável de sarcasmo afiado e situações que beiram o absurdo, mas que, na lógica maluca do filme, fazem todo o sentido. As piadas vêm do desespero, das reações exageradas dos personagens diante do perigo iminente que eles insistem em ignorar. Ver Max, com sua calma usual, tentando aplicar a lógica dos jogos de tabuleiro a um sequestro real é hilário e patético ao mesmo tempo. E Rachel McAdams? Ela entrega uma performance que oscila entre a doçura e a ferocidade de uma leoa defendendo sua matilha, mas que, claro, está competindo para ganhar o jogo.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | John Francis Daley, Jonathan Goldstein |
| Roteiristas | Mark Perez, Jonathan Goldstein, John Francis Daley |
| Produtores | John Fox, Jason Bateman, John Davis, James Garavente |
| Elenco Principal | Jason Bateman, Rachel McAdams, Kyle Chandler, Sharon Horgan, Billy Magnussen |
| Gênero | Mistério, Comédia, Crime |
| Ano de Lançamento | 2018 |
| Produtoras | New Line Cinema, Aggregate Films, Davis Entertainment |
Os coadjuvantes são um show à parte. Sharon Horgan como Sarah, com seu sarcasmo de mulher que já viu de tudo, e Billy Magnussen como Ryan, o amigo lindo e ligeiramente burro que sempre traz uma convidada diferente para disfarçar o fato de que está solteiro, são perfeitos. As dinâmicas entre os casais – a competição entre Max e Brooks, a relação meio torta de Ryan com sua amiga ou colega da vez, e a subtrama de ciúmes e rivalidade que surge entre os casais – adicionam camadas de humanidade e humor à trama. E não podemos esquecer o “vizinho esquisito” Gary, interpretado por Jesse Plemons, que eleva o constrangimento social a um nível estratosférico, garantindo algumas das risadas mais desconfortáveis e memoráveis. Gary é uma aula de como construir um personagem coadjuvante que, com pouco tempo de tela, se torna icônico.
A execução do roteiro de Mark Perez, Jonathan Goldstein e John Francis Daley é impecável. Os diálogos são rápidos, inteligentes, cheios de insults espirituosos e observações ácidas que te fazem rir, mas também reconhecer a autenticidade daquelas amizades. E as reviravoltas! Ah, as reviravoltas… Cada vez que você pensa que desvendou o mistério, o filme puxa o tapete debaixo dos seus pés com uma pirueta ainda mais audaciosa. É como uma corrida em uma montanha-russa que você jurava conhecer cada curva, mas que te surpreende com um loop invertido no final. A câmera segue a ação com uma energia contagiante, transformando até uma perseguição de Corvette Stingray em um espetáculo visual e cômico.
A Noite do Jogo é mais do que apenas um filme de mistério ou uma comédia de crime. É uma exploração divertida das relações humanas – as complexidades dos casamentos, a rivalidade fraternal, a lealdade (ou falta dela) entre amigos. É sobre o quão longe as pessoas vão para vencer, para provar um ponto, ou simplesmente para se divertir, mesmo que isso signifique se meter em confusões dignas de um thriller de ação. E, honestamente, me fez pensar sobre a minha própria obsessão por jogos de tabuleiro e se, em algum momento, eu cruzaria a linha entre a brincadeira e a realidade de uma maneira tão espetacularmente desastrosa.
Anos depois, esse filme continua sendo um acerto e tanto. Não é apenas engraçado; é eletrizante. É o tipo de filme que te deixa com um sorriso no rosto e aquela sensação de que você acabou de assistir a algo realmente inteligente, que brincou com suas expectativas de um jeito brilhante. Se você ainda não o viu, faça um favor a si mesmo. Apague as luzes, chame uns amigos (ou não, para evitar a competitividade excessiva) e prepare-se para uma das noites mais imprevisíveis e hilárias do cinema recente. E, para o toque final, sim, tem uma cena pós-créditos que vale a pena esperar! Confie em mim.




