Beans – A Pequena Guerreira: Uma Flecha Direta no Coração
Quatro anos se passaram desde que assisti a “Beans – A Pequena Guerreira”, e a lembrança daquela garotinha Mohawk, encarando o gigante Estado Canadense, ainda me assombra de forma pungente. Não é o tipo de filme que você esquece facilmente. É daqueles que se instalam na memória, um nó na garganta que te lembra da força e da fragilidade da alma humana, especialmente quando confrontada com a brutalidade da injustiça.
O longa-metragem, baseado em fatos reais, acompanha a jornada de Beans, uma menina de doze anos, durante o impasse de Oka, em 1990. A comunidade Mohawk de Kanehsatà:ke luta pela preservação de suas terras ancestrais, ameaçadas pela construção de um campo de golfe. A sinopse, enxuta, não entrega a complexidade emocional do filme. É através dos olhos de Beans que presenciamos a escalada da tensão, o medo, a resistência, e a crescente compreensão da brutalidade do racismo sistêmico. Não espere um filme de ação explosivo; a verdadeira batalha é travada no interior da protagonista e na complexa dinâmica familiar.
A direção de Tracey Deer é impecável. A câmera, muitas vezes próxima à face de Kiawentiio, imersa em sua interpretação visceral, nos coloca no turbilhão de emoções de Beans. O roteiro, escrito em parceria com Meredith Vuchnich, consegue navegar com delicadeza pelas nuances da adolescência, sem jamais minimizar a gravidade da situação política. A cena em que Beans confronta sua mãe, cansada e ferida pela luta, é particularmente poderosa, representando a complexidade das relações interpessoais sob pressão extrema. A atuação de Kiawentiio é simplesmente fenomenal; ela carrega o peso do filme em seus ombros jovens, com uma força e uma vulnerabilidade que são de arrepiar. O resto do elenco a acompanha com maestria, construindo um retrato realista e multifacetado da comunidade Mohawk.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Tracey Deer |
| Roteiristas | Tracey Deer, Meredith Vuchnich |
| Produtora | Anne-Marie Gélinas |
| Elenco Principal | Kiawentiio, Rainbow Dickerson, Violah Beauvais, Paulina Alexis, D'Pharaoh Woon-A-Tai |
| Gênero | Drama |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtoras | EMAfilms, Crave, Canadian Film Centre (CFC), Super Écran |
Um dos pontos fortes de “Beans” é a sua capacidade de humanizar a luta indígena. Ao nos aproximarmos da experiência de uma criança, somos confrontados com a realidade dos impactos do racismo, da opressão e da violência estatal. O filme não simplifica o conflito de Oka; ao contrário, ele nos apresenta a complexidade das questões territoriais, políticas e sociais que estão em jogo. Por outro lado, a narrativa, focada quase exclusivamente na perspectiva de Beans, às vezes deixa de explorar outros ângulos do conflito, o que poderia ter enriquecido o panorama geral. Certos aspectos da história poderiam ter sido aprofundados, para melhor contextuar a resistência Mohawk em sua totalidade.
Apesar deste ponto, o filme acerta em cheio ao abordar temas cruciais: a luta pela terra, a luta pela identidade, a resiliência indígena frente à opressão, o impacto do trauma e o despertar da consciência política na juventude. “Beans – A Pequena Guerreira” é um grito de resistência silenciado por muito tempo; um filme profundamente comovente e necessário, que ecoa através dos anos, desde sua estreia em 16 de setembro de 2021, até hoje, em 15 de setembro de 2025.
A recepção crítica do filme, se eu me lembro corretamente, foi majoritariamente positiva. A obra foi aclamada pela sua sensibilidade e por dar voz a uma história frequentemente ignorada. Concordo plenamente com esses elogios.
Em suma, “Beans – A Pequena Guerreira” é uma experiência cinematográfica inesquecível, que recomendo a todos os que buscam filmes que dialogam com a história, a justiça social e a força do espírito humano. Este é um filme para ser visto, discutido e lembrado. É uma flecha direta no coração, e uma que, espero, irá instigar reflexões profundas sobre as injustiças do passado e a luta contínua pela justiça no presente.




