Existe uma linha tênue, quase invisível, que separa o jogo da sobrevivência da mais pura tortura psicológica. E, olha, poucas coisas me fascinam e me assustam tanto quanto filmes que se aventuram nesse território, cutucando as feridas abertas da moralidade humana quando posta à prova. Foi exatamente esse o imã que me puxou para A Roleta da Morte, um título que, por si só, já anuncia a barra pesada que está por vir. Lançado em 2023, esse filme dirigido e estrelado por Manolo Cardona não é apenas mais um “death game”; ele é um mergulho sem fôlego na podridão dos segredos e na angustiante escolha entre a vida e a morte, mas de um jeito que eu não esperava.
A premissa, você tá ligado, já é um chute no estômago: sete estranhos — ou nem tão estranhos assim, como a gente vai descobrir — acordam presos numa mansão, com um relógio correndo. A regra? Um tem que morrer. E não é um carrasco mascarado aleatório que vai escolher; são eles mesmos que precisam chegar a um consenso, e o “sorteado” tem que concordar. Sessenta minutos. É o tempo que o roteiro afiado de Gavo Amiel e Julieta Steinberg nos dá para ver a civilidade se esfarelar, as másceras caírem e o desespero pintar o ambiente de cinza. Como um crítico que já viu de tudo nesse subgênero, preciso dizer: a simplicidade dessa regra é a sua maior crueldade. Não é sobre escapar de armadilhas elaboradas, mas sobre olhar nos olhos do outro e decidir quem vale menos. Isso, meus amigos, é o verdadeiro terror.
Manolo Cardona, que nos presenteia com a atuação de Pablo Vega, um dos sequestrados, e também com a direção do filme, entrega uma visão coesa e intensamente claustrofóbica. Ele entende que a força de A Roleta da Morte não está nos sustos baratos, mas na tensão crescente, no ranger dos dentes e no suor frio que escorre pelas têmporas dos personagens. A câmera dele é quase um oitavo participante, flutuando entre os rostos ansiosos, capturando cada tremor, cada olhar de acusação e de pavor. É como se a própria mansão, um cenário opulento e assustadoramente vazio, respirasse junto com o pânico dos protagonistas, os corredores sussurrando verdades inconvenientes.
O elenco, esse time de peso, é o verdadeiro combustível para essa máquina de suspense. Manolo Cardona, além de dirigir, se joga no papel de Pablo com uma intensidade visceral. Você vê a angústia em seus olhos, a luta interna de um homem que se recusa a aceitar o jogo, mas que, ao mesmo tempo, sente o relógio pesando no seu pescoço. Maribel Verdú, como Marta, é de uma elegância tensa, sua personagem uma fortaleza que começa a ruir sob a pressão, revelando camadas de mistério que nos fazem questionar: quem é essa mulher de verdade? E Carla Adell (Lupe), Juan Carlos Remolina (Esteban), Adriana Paz (Teresa) – cada um deles traz uma performance que não é apenas sobre o medo de morrer, mas sobre o peso das vidas que viveram, dos segredos que carregam. Não são apenas vítimas; são peças complexas em um tabuleiro onde cada movimento é carregado de culpa e desespero. Eles não “parecem” nervosos; você vê as mãos úmidas, as vozes embargadas, o corpo contraído em uma dança macabra de autodefesa e traição.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Manolo Cardona |
| Roteiristas | Gavo Amiel, Julieta Steinberg |
| Elenco Principal | Manolo Cardona, Maribel Verdú, Carla Adell, Juan Carlos Remolina, Adriana Paz |
| Gênero | Thriller, Mistério, Drama, Terror |
| Ano de Lançamento | 2023 |
| Produtoras | VIS, 11:11 Films & TV |
O que torna A Roleta da Morte mais do que um mero thriller é a sua habilidade de se aprofundar na essência do drama humano. Aquela revelação de que todos estão unidos por um passado sombrio… ah, meu caro, essa é a cereja do bolo de podridão. Não é só um jogo de sobrevivência; é um acerto de contas. As acusações voam, as defesas são frágeis e cada segredo desenterrado é um prego a mais no caixão da esperança. Isso me fez pensar: quantas vezes, na vida real, a gente não tá num jogo parecido, onde o passado volta pra nos assombrar, e as escolhas de ontem ditam o nosso presente? O filme explora com maestria essa interconexão, mostrando que não existe vítima completamente inocente nem culpado sem uma sombra de justificativa, mesmo que torcida.
Não espere finais fáceis ou respostas mastigadas. A Roleta da Morte te convida a pensar, a sentir o desconforto e a questionar seus próprios limites morais. É um filme que, mesmo depois de 2023, ainda ressoa, nos lembrando da fragilidade da condição humana e da escuridão que pode habitar em cada um de nós. E é por isso que, mesmo com a alma um pouco arruinada, eu recomendo. Porque às vezes, a arte precisa ser um espelho, por mais feio que seja o reflexo.




